Toda temporada tem que ter ao menos um anime com bishounens fazendo algo – a versão masculina do CGDCT – , esse aqui foi um dos escolhidos da vez. No entanto para quem espera algo completamente desinteressante, já adianto que essa estreia é um balde de água fria, porque essa história tem sim o seu charme.

Baseado num game de mesmo nome, a série nos apresenta a saga de vários homens poderosamente armados, para proteger a literatura de seres sobrenaturais que estão tentando tirá-la de circulação.

A premissa em si não é absurda e nem original, navegando nas águas de animes como Touken Ranbu e se aproximando do que nos ofereceu Grimms Notes, com uma pitada de Bungou Stray Dogs na escolha literária. O que diferencia essa adaptação das demais – e creio que seja esse o seu maior mérito até então -, é exatamente a composição dos seus heróis protagonistas.

Aqui se colocam os autores dos próprios livros como linha de defesa das suas obras e das outras – já começando bem com os célebres Osamu Dazai e Akutagawa Ryuunosuke. De modo geral penso que a ideia é boa, porque para além da missão altruísta, essa proposta adiciona outros elementos que tornam a dinâmica da história mais criativa e historicamente interessante.

A possibilidade de entender melhor cada autor, suas ideias por trás de cada livro e a chance de que eles experimentem e vivenciem mais a fundo sua criação, foram o ponto chave para me fazer comprar a coisa toda. Ao fim a execução disso só me provou que tudo pode sim dar certo, mesmo que não se torne o melhor da temporada.

A história a qual Dazai estava preso era a sua famosa “Corra, Melos!”, que resumidamente contava a luta de um camponês para vencer os obstáculos e salvar a vida de seu melhor amigo, que ocupava seu lugar para morrer nas mãos de um rei tirano. Depois de muito esforço ele consegue e sua crença na amizade não só os livra, como ainda toca o monarca que os quer como amigos também.

No início do episódio achei que as transições entre o tempo presente e os flashbacks do Dazai estavam um pouco confusas, dificultando um pouco a compreensão do conto, mas conforme as coisas iam se desenrolando, tudo se explicou de um jeito legal e sem muito didatismo – o que as vezes prejudica mais o andamento.

Ao encontrar Ryuunosuke no começo da sua jornada, ele parecia perdido de uma forma que não fazia sentido, mas quando ficou claro que ele havia perdido a memória dentro de seu livro, entendi as ações dispersas do protagonista.

A interação entre os dois é bem divertida, nos apresentando um Dazai impulsivo, jovem e inocente, batendo de frente com um que é seu oposto – que ironicamente é seu ídolo pessoal. Ryuunosuke assume uma persona misteriosa e de poucas palavras, sendo também responsável com seu dever, mas meio cínico, o que irrita o outro por seu jeito levemente debochado. Me pergunto o quanto isso vai melhorar com a chegada dos demais.

Algumas das boas sacadas do enredo estão na ideia de ter sua mente em branco dentro do livro, já que torna ainda melhor a forma como o autor experimenta aquele micro universo e a condição de que exceto o autor da obra, nenhum escritor é imortal – por serem um tipo de fanstasmas dos originais -, o que ajuda a criar risco real na obra para os salvadores e uma dor de cabeça para o “protagonista” que estiver desmemoriado.

Achei interessante que o autor veterano pouco interferiu no curso natural da história, mas ainda assim ele provia indiretamente outros meios para que seu colega se lembrasse ao poucos do que tinha escrito e o que precisava lembrar para chegar no final correto. Dada a sua importância, personalidade e ações, ele é de longe o que mais me interessa, pelo que pode apresentar nessa obra quando chegarem os seus livros.

Os Maculados ainda são uma incógnita, já que sua motivação nem é sabida pelos escritores, diferentemente de Touken Ranbu, onde o objetivo era a destruição por destruição. Um ponto positivo dessas criaturas é que elas parecem ter uma certa inteligência na elaboração de seus planos de invasão, incluindo a invasão de mentes – espero que sejam bem trabalhados e ofereçam um risco bem maior no futuro.

Na parte técnica acredito que o estúdio OLM fez um trabalho decente na produção, pois além da consistência geral, as cenas de ação foram bem agradáveis, alternando entre cenas com movimentos mais simples, alguns poucos quadros estáticos e outros cortes mais inspirados e fluidos que me deixaram empolgado – fora os monstros que não são em CG para dar uma valorizada.

Meu veredito é que essa foi uma estreia boa, entregando o que precisava para se mostrar um bom entretenimento e quem sabe mais um anime com figuras históricas legal e diferente.

Agradeço a quem leu e até a próxima!

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