Nessa última temporada Grimms Notes The Animation, do estúdio Brains Base, me chamou atenção pelo visual, seu enredo mágico com contos de fadas e os vários elementos de RPG – que eu particularmente gosto muito e são frutos do seu material base, um jogo.

Ao longo do caminho o anime tentou criar profundidade e desenvolvimento nos seus personagens, trazendo questões relativas ao livre arbítrio, predestinação e como tudo isso se ligava a forma como eles entendiam aquele mundo e o que cada um almejava alcançar individualmente no fim daquela jornada.

Fiquei esperando que a série se tornasse um novo Merc Storia, mas não foi bem o que obtive no saldo final, ainda que não tenha me arrependido de ter investido meu tempo nele. Grimms Notes tem os seus pontos positivos e negativos, e acho que apesar de simplório e genérico demais em muitos momentos, ele não chega a ser ruim – mas vamos ao foco que é o plot.

No mundo das histórias, o Storyteller escreve todos os roteiros das vidas presentes em cada zona – seja para o mal ou para o bem, esse é o trabalho dele. No meio disso existem personagens aos quais ele não designa papéis específicos, apenas são pessoas com livros em branco e que podem optar por escolher qual será o seu destino, o seu caminho a seguir.

Acho que o ponto mais chamativo da história é exatamente a dicotomia que ele trabalha, onde nada é absoluto – exceto o próprio Storyteller -, mas tudo possui uma mão e contramão. Aqueles que vivem predestinados à algo tem as suas dúvidas e incertezas, ainda que em seu roteiro o final seja feliz.

Já do outro lado, os que vivem “em branco” sofrem pela falta de objetivos e rumos – inclusive sendo discriminados por isso -, vagando até encontrar um lugar nessas zonas que possam chamar de seu e uma função que apenas eles possam executar.

Nosso quarteto de protagonistas foi unido por esse ideal, sendo todos vítimas de sua própria falta de sorte. Ex e Shane foram desprezados pelos seus, enquanto Reina e Tao tiveram sua família e amigos dizimados pelo mal que cercava aquele mundo, os Chaos Tellers.

Reina é uma princesa que foi escolhida como Sacerdotisa da Afinação, sendo responsável pela manutenção da ordem nas zonas. Shane é uma garota aficcionada por armas, com habilidades fora do comum e é a mais debochada. Tao por sua vez é o “irmão mais velho” do grupo e parece boa vida, mas é mais do que aparenta. Por fim, Ex é o novato com forte senso de justiça e legal, mas completamente despreparado e inocente em relação a vida real.

Um ponto bem interessante nos protagonistas é que eles conseguem ultrapassar um pouco o limite de suas personalidades e nos mostram mais sobre as tristezas e segredos que suas fachadas ocultam, conforme vão avançando e convivendo com os heróis e vilões dos contos de fadas.

Ao longo da aventura quem de fato mais cresce é Ex, que surge na equipe do nada e com muitas indagações sobre os destinos e desejos. Os demais tem um comportamento sem excessos, contudo a sua estabilidade atual se deve a força interna que cada um precisou obter para superar seus traumas do passado, sendo eles um pouco mais maduros e perceptivos ao que ocorre em cada situação e ao que de fato o roteiro representa a quem o tem.

Puxando o lado dos vilões, os Chaos Tellers são bem complexos, na tese eles apenas surgem para causar exatamente o que o seu nome sugere: caos. O que ocorre no entanto é que a sua liderança tem um objetivo muito maior do que a pura desordem. Curly e Loki representam uma ameaça unilateral e inconsequente a todo o mundo das histórias.

Membros da Igreja de Fortem, a qual não tivemos maiores informações – exceto o fato de que é composta por pessoas com livros em branco -, a dupla objetiva guiar seus asseclas e tomar o poder daquele que os colocou na posição de “indigentes”, assim mudando a muitos destinos injustos.

Considerando todo o histórico de decisões arbitrárias do Story Teller ao escolher os rumos alheios, é de se imaginar que houvessem questionamentos e Curly durante os momentos em que teve maior diálogo, ainda conseguia nos fazer simpatizar com o seu ideal – já que em vias gerais ela sempre demonstrava se importar com o mundo como um todo, diferente do criador dos roteiros.

O que ocorria de fato é que toda essa coisa criou um embate entre o que de fato seria o lado bom e o lado mal. De um lado um ser supremo que não parece muito acertado, do outro, pessoas que usam de métodos complicados e destrutivos pelo que consideram um bem maior.

Para pessoas que não estavam tão por dentro da situação como Ex, era mais fácil se deixar convencer, mas para quem já estava a mais tempo trilhando aquele caminho e entendia o conjunto da coisa como Reina, Tao e Shane, isso não funcionava da mesma forma – eles tinham um princípio bem enraizado nesse sentido, o que era bom.

Assim como eu disse antes, apesar desse equilibrio de forças, os vilões aos poucos mostram a limitação de seus ideais e os furos que existem no planejamento deles, o que torna mais fácil identificar as posições e o que eu acredito que seja a maior lição do anime.

Grimms Notes não se propõe a apontar apenas a falta de liberdade e a imposição sem sentido do Chaos Teller ou da Igreja de Fortem, mas também se concentra em mostrar o que as pessoas fazem com o que tem em mãos, como elas conseguem aceitar seus destinos a partir do momento em que usam sua existência com um propósito, ou passando uma mensagem no processo – como aprendemos com Aladdin e Joana D’Arc.

Um dos mistérios que a série deixou em aberto foi a extensão dos poderes de Ex, que tinha um marcador avançado e que o permitia acessar uma gama maior de poderes do que os seus companheiros – um deles até bem surpreendente.

Falando em poder, mesmo com a animação e a coreografia não sendo muito eficientes na hora das batalhas, eu gostei de todo o esquema dos avatares, as possibilidades ilimitadas de uso e gênero – aquela coisa das skins, que infelizmente só apareceram em um episódio – entre outros detalhes na ideia das lutas em si.

De modo geral apesar das pontas soltas no final e um problema ou outro, Grimms Notes The Animation me agradou, ainda que seu aparente baixo orçamento e a direção tenham pesado no resultado do conjunto. A história tinha personagens bacanas e um potencial imenso, mas que acabaram aproveitados de forma superficial nos 12 episódios que teve.

Pessoalmente eu dou 3 estrelas e meia pela experiência individual e por gostar do tema, mas analisando de uma forma mais crítica deixo apenas com 3 pelos motivos que citei acima. A obra pode até não ser incrível – e de fato passa longe disso -, contudo não acho que seja um desperdício de tempo, ela é divertida se souber ignorar algumas coisas e aproveitar os pontos legais.

Comentários