Não conheço Prince o suficiente para afirmar que o Denka é uma cópia fidedigna do músico, mas pelo pouco que conheço tenho a impressão de que Listeners segue pesando a mão na influência, ainda que eu não imagine o Prince apaixonado pelo Jimi Hendrix.

Enfim, até achei esse episódio melhor que o anterior, mas muitas coisas também me incomodaram e comentarei tudo a seguir. Purple Rain, Purple Rain…

Dá para dividir um artigo de episódio de Listeners entre partes distintas, em uma posso comentar a história e na outra as referências que se amontoam e me fazem parar o vídeo várias vezes para não perder essas referências que costumo comentar (ao menos se as noto e eu geralmente noto, modéstia a parte). Foi outro episódio muito dependente disso e eu explico o porquê.

Entre o primeiro e o segundo episódio, assim como entre o segundo e o terceiro, a transição de local e momento ficou clara; primeiro a viagem de trem, depois o “resgate”; sendo assim, nós vimos onde os protagonistas tinham ido e de onde vieram.

Isso foi cortado no quarto e quinto episódios, eles foram logo transportados para os locais em que pretendiam chegar e quase que imediatamente entraram de cabeça no que queriam fazer.

Isso nem é tanto um problema, mas se somarmos a novos personagens que parecem ainda mais saídos das biografias daqueles que os inspiraram, torna a inserção do Echo e da Mu nesses espaços um tanto quanto artificial.

Por exemplo, não consigo ver o trio bizarro como “cópias” dos músicos da banda de rock alternativo alemã e nem o casal da banda britânica, porque me custa acreditar que as personalidades eram tão similares.

Além disso, eles tinham problemas muito particulares a situação, o trio queria ver do que a Mu era capaz, já o duo tinha seus próprios problemas enquanto “investigava” os protagonistas.

A Nir do episódio anterior tinha mais ou menos os mesmos problemas do Kurt Cobain que a inspirou demasiadamente e o Denka desse episódio é o Prince todo, talvez só um pouco mais espalhafatoso (não sei dizer) e envolvido com o Jimi.

Há diferenças, não é como se esses gênios da música tivessem sido apenas jogados em um anime do século XXI, mas levando o contexto e a abordagem em consideração me incomoda profundamente que a produção do anime tenha bebido nessas fontes até se engasgar.

Por isso as referências aumentaram, ainda que o terceiro episódio já tenha tido muitas, por isso o que foi apresentado nos últimos episódios pareceu mais “forçado”.

Não bastasse isso, esse mundo é uma confusão, começou referenciando uma banda britânica, depois uma alemã, então voltou para as terras da rainha e nesses últimos episódios desembarcou nos Estados Unidos.

Não é como se só devessem referenciar artistas de uma região do mundo, mas qual exatamente é esse país em que eles vivem, qual é a situação dos Players e dos Earless ao redor do mundo, como moleques saem por aí e okay?

Sei que em animes de aventura essas questões muitas vezes são sumariamente ignoradas, mas não é por causa disso que a inserção dos protagonistas nos planos em que têm que estar para a história andar precisa ser tão conveniente, tão artificial.

É o que rola aqui, já havia rolado no episódio anterior (WTF, escola???) e nesse apenas seguiu. Posso estar sendo chato, mas a construção de mundo de Listeners deixa muito a desejar.

Não precisava ser um primor também, mas será que o anime quer ser lembrado apenas pelas referências musicais? Digo, será que quem faz o anime se importa mais em homenagear essas figuras?

Não que os músicos e bandas não mereçam isso, mas e a veia criativa própria do anime, sua originalidade, cadê? Temo que não verei e acho isso uma pena, ao mesmo tempo em que adoro a música referenciada, então estou curtindo o anime.

Fiz todas essas ressalvas pensando principalmente naquele otaku que não tem o mesmo interesse ou o mesmo lastro na música que eu (e olha que nem me acho esse ouvinte tão versado assim), que não pega as referências e não curte o anime pelo fanservice.

Se você é uma dessas pessoas já deve ter percebido que Listeners não é uma grande história e imagino que no máximo deva estar divertindo você de algum jeito.

Enfim, mal comentei o que rolou no episódio, né? Dá até para resumir o que achei e não se perde nada. Nesse episódio em algum nível, ainda que pequeno, a trama voltou a andar, assim como os protagonistas e a relação deles.

A “pegada” da cidade toda levava o Echo e a Mu a esse choque entre homem e mulher, garoto e garota, ao reconhecimento da sensualidade que cada um tem e da afeição que sente pelo outro.

Contudo, o tema foi bem aproveitado? Acho que não como poderia, conversar pelo telefone na frente de um espelho no máximo atiçou a percepção de um pelo outro nesse aspecto, pois na prática a relação deles não mudou muito.

Eu entendo que o foco meio que era outro, mas poxa, já é o quinto episódio, né, além do pano de fundo ser favorável a isso, poderiam ter mostrado os dois se aproximando mais.

Mostraram os dois trabalhando e brigando, construindo intimidade de certa forma, então também não foi de todo ruim, só acho que todo o pano de fundo carregado foi subaproveitado.

Em compensação, com o Denka a coisa ficou bem clara, ele conheceu o Jimi por pouco tempo, mas ainda nutre sentimentos por ele mesmo após uma década, meio que “testou” os protagonistas e revelou o que sabia sobre o Jimi e onde ele parece estar.

Ajudou? Sim, mas só conhecemos pouco mais do que já sabíamos dele, então foi mais um episódio sobre a marca que o Jimi deixou em uma pessoa e os sentimentos de afeto e arrependimento dessa pessoa que algo exatamente novo e interessante sobre o próprio Jimi.

Eu já imaginava que eles iriam atrás do Jimi em algum momento e que ele é a chave para tudo, faltava entender melhor porque ele é isso e como chegariam até ele.

Foi o que aconteceu. Foi bom? No máximo isso. O episódio como um todo já foi mais útil que o anterior, mas me diverti mais com o da Nir porque conheço bem o Kurt e não o Prince, o que é um motivo mais que válido em um anime que é puro fanservice para fãs de música, principalmente rock.

Pensando em uma construção para momentos futuros o episódio não foi ruim, ao menos se aproveitarem essa veia sexy com os protagonistas mais para frente, a intimidade que estão criando e os sentimentos que me parecem estar aflorando neles.

Se bastou quinze dias para o Denka nunca mais esquecer o Jimi, então o Echo vai morrer com saudades da Mu, porque só nesse episódio eles passaram mais tempo juntos…

É aquilo, né, a Mu que é a suposta irmã do Jimi, é mais fácil que no fim ela desapareça como o Jimi fez e deixe o Echo chupando o dedo feito o Denka. Não acho que vai ser esse o caso, mas vai saber, talvez faça sentido com a história do músico ou da banda referenciada no episódio final.

Listeners tenta contar uma história entre mil e umas referências, não duvido que seja assim até para determinar seu final.

Por fim, já escrevi muito, então vou dar um confere rápido (ou ao menos tentar) nas referências desse episódio. A Criação de Adão de Michelangelo foi uma referência fichinha, né?

Você sacou que o nome do chefe do Echo é referência a Marshall, famosa empresa de amplificadores? Mesmo sendo específica imagino que esse não tenha sido difícil de sacar também, agora, e quanto as referências musicais, você pegou alguma?

Eu peguei várias, vou pontuá-las agora. A forma como o Denka pede para ser chamado, de “The Kid”, foi uma referência ao personagem homônimo que Prince interpreta no filme Purple Rain.

Purple Rain é uma produção musical e visual com direito a álbum, o mais conhecido e certamente um dos melhores da carreira de Prince, contendo clássicos como When Doves Cry (que dá título ao episódio) e a própria Purple Rain (uma obra-prima que você pode escutar mais abaixo).

Ademais, Sign O’ The Times é o nome de outro álbum e música de muito sucesso de Prince. Coincidentemente, minha banda favorita, o Muse, fez cover dessa música anos atrás, então essa referência eu notei na hora em que ouvi.

Rainbow Bridge já não tem nada a ver com Prince, mas sim com Jimi Hendrix, é o nome de um álbum póstumo do gênio que eu ainda não ouvi, mas pretendo, porque com certeza é do caralho!

New Power Generation, The Revolution e Wendy & Lisa são grupos (esse último um duo) que atuaram junto a Prince ao longo de sua extensa carreira, na qual por vezes ele atuou solo e em tantas outras tocava com esses grupos.

Não à toa o nome do tal Projeto era Freedom (Liberdade), Prince sempre foi um artista livre, excêntrico e genial; gigante.

Paisley Park Records é um selo/complexo de estúdios criado pelo músico, algo como um “playground” particular do cantor. Não à toa a cidade tem esse nome e é o equipamento de Denka.

First Avenue já é uma casa de shows famosa em Minneaplois, a maior cidade do estado de Minnesota, nos EUA. Aliás, foi na região que Prince sediou muitos seus projetos, construiu seu “santuário” e se manteve ativo na cena música local.

Se manteve, é passado, pois, infelizmente, Prince faleceu em 2016, deixando o mundo órfão de seu talento, originalidade e carisma. O que jamais se perderá é seu legado, não por acaso recebeu essa belíssima homenagem.

A obra de Prince é vasta e encantadora, indico que deem uma chance a ela, eu darei. Quanto a Listeners, o anime segue com um norte definido e a promessa de mais uma homenagem episódio que vem.

Me desculpem Roger Waters e David Gilmour, mas nós brasileiros precisamos sim de educação, ao menos se esta nos ajudar a não repetirmos os mesmos erros que temos repetido e colocaram o país no buraco no qual se encontra agora…

Até a próxima!

  1. Realmente o anime eh repleto de referências,para qm quer ficar ligado e gosta. Estou assistindo pela dupla de protagonistas e torcendo pelo enlace deles. Mas como vc disse está tudo muito arrastado. Neste episódio echo poderia ter feito/falado alguma coisa para Mu que fizesse eles terem um envolvimento mínimo afetivo/amoroso mas não teve absolutamente nada. Ela pergunta: O q vc faria se tivesse encontrado outra garota ? Ele fica calado…. Meu Deus parece a mãe dele, tá difícil se enxergar como(e se) o autor vai dar uma virada pra engatar esse relacionamento. Se é que vai
    Outra coisa importante eh destacar, na conversa entre Denka e Jimi, o quão horríveis eles fizeram o corpo,o rosto,enfim tudo do Jimi. Ficou muito ruim . Pelo amoooor…..

  2. E outra a forma como eles ganharam a luta… Corrdenando as ações? Isto combina com o q o Denka aconselhou? Pensei q eles iriam dar uma movimentada ali no cockpit…..sem condições…..

  3. Como é um anime original de um cour (deve ter 12 ou 13 episódios) imagino que o romance não deva deslanchar em momento algum, aliás, raros são os casos em que rola alguma coisa em animes cujo foco não é o romance, né, então não espero muito nesse aspecto. Listeners é mais um combo de referências que qualquer outra coisa e isso é uma pena, pois sinto que a Mu e o Echo poderiam ser personagens mais legais se tivessem mais profundidade, mais história própria. Obrigado pelo comentário!

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