O artigo de hoje foi cedido pelo Rodney Ferreira. É uma participação especial, já que para além de ser um grande amigo de faculdade, ele um otaku de coração.

Estou fazendo essa breve apresentação devido ao fato de que ele não faz parte do blog, e também para contextualizar o texto dele aqui indicado.

Ano passado, antes de engrenar no mestrado em filosofia, Rodney e eu (Youkai), participamos da V Jornada de Filosofia Oriental e Intercultural da USP e I Congresso Internacional de Filosofia Intercultural da ALAFI, em uma mesa sobre cinema japonês. Nessa mesa, eu apresentei uma leitura filosófica sobre o filme Millenium Actress, e o Rodney fez um ensaio, muito mais denso, sobre o filme Tenshi no Tamago.

Pronto, contextualização efetivada! Não vou encher linguiça.

 

 

A seguir deixo um trecho chamariz do artigo do Rodney, mas como é um texto um pouco mais longo e elaborado, achamos melhor colocar um link direcionando para o artigo em sua completude. O link está ao fim do chamariz, mas aproveito também para deixar aqui um outro link, o qual direciona a um vídeo onde busco interpretar e analisar o anime, de modo muito menos elaborado e pertinente do que o Rodney, mas não poderia deixar de expressar a minha sensação em relação a está obra que também muito admiro. Link do Vídeo. (clique aqui)

E sem mais delongas, convido a todos para o ler esse belo artigo, e aproveitem, caso ainda não tenham visto, para assistir o anime.

 

 

Preâmbulo

Lançada em 1985 diretamente para vídeo, Tenshi no Tamago (天使のたまご) é uma animação de longa-metragem que resulta da parceria entre Mamoru Oshii – que ficou a cargo da direção e é mais conhecido por Ghost in the Shell (1995) –, o character designer Yoshitaka Amano – que alguns de vocês já devem conhecer pela consagrada franquia de jogos Final Fantasy – e o estúdio de animação Studio DEEN, cuja produção mais conhecida no Brasil é a série animada Samurai X (1996-1998).

A estória, cujo título se traduziria em português literalmente por “Ovo de Anjo”, se passa em um mundo pós-apocalíptico e nos apresenta apenas dois personagens, uma menina e um rapaz, cujos nomes não se sabe. Inicialmente, acompanhamos a menina em sua perambulação por cenários urbanos desérticos e sombrios, de arquitetura europeia da primeira metade do século XX – ela busca água e alimento, enquanto carrega consigo um ovo de tamanho próximo ao de sua cabeça. Em certo momento, a menina se depara com um rapaz, que desembarca de uma espécie de veículo militar, trajado a caráter e carregando uma arma em formato de cruz. Ela foge dele, assustada, mas seu reencontro não demora e logo passam a caminhar juntos pela vasta desolação que se apresenta naquele mundo e que também lhes é interna, pois não sabem seus nomes, de onde vieram e nem para onde vão. Os diálogos são poucos – em geral, curtos – e a relação dos dois gira em torno dessa sua angústia identitária e do ovo, que a menina crê ser de um pássaro de forma angelical, mas cuja existência do conteúdo é continuamente posta em dúvida pelo rapaz. Com efeito, o clímax se efetiva quando o rapaz destrói o ovo e abandona o local onde eles se abrigavam das contínuas chuvas, o que conduz a menina, quando descobre o fato no dia seguinte, a sair do abrigo, em errância desesperada, e acabar se afogando. Após seu afogamento, vemos o rapaz observar uma grande nave de forma orbital emergir do mar e vemos que, dentro dessa nave, entre outras estátuas, há uma com a forma da menina. Sequencialmente, a câmera se afasta lentamente do local, revelando que aquele mundo é uma pequena e solitária ilha artificial, de forma losangular, envolta por um imenso e escuro oceano.

 

 

Todos esses acontecimentos são balizados por elementos complexos que, vistos com atenção, impulsionam seu sentido próprio e também indicam sentidos alegóricos possibilitados por elementos simbólicos. E embora sejam justamente os aspectos simbólicos e alegóricos da obra aquilo sobre o que mais centralmente ensaiamos, é importante reafirmar que nossa análise não pretende abarcar o todo de significações de sua significação – o que seria mesmo impossível – mas antes identificar alguns dínamos narrativos conceitualmente determináveis, em vistas de estabelecer uma leitura coesa da obra em acordo com os conceitos capazes de definir aqueles movimentos que, estrategicamente, consideramos serem os mais centrais para uma reconstituição filosoficamente amparada da obra. Nesse sentido, certamente trabalhamos conscientes dos inúmeros problemas do discurso teórico sobre a arte quando não é feito do ponto de vista meramente historiográfico ou segundo um único sistema filosófico que dê conta de explicar tudo em rede. Mas também compreendemos, seguindo Theodor Adorno em O ensaio como forma, que a análise ela mesma pode ser ao mesmo tempo rigorosa e criadora, na medida em que toma o ponto de vista da dialética indivíduo-obra-cultura-história como algo cuja tensão não precisa ser dissolvida, mas encarada lucidamente em sua problematicidade.

 

 

Veja o artigo em sua integra ao acessar o link aqui destacado: Símbolo, alegoria e autonomia em Tenshi no Tamago

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