Não ouvi muito The Who, se muito escutei dois álbuns da banda (na verdade, amo os 60 anos, mas nunca parei para ouvir as discografias de suas grandes bandas), então posso ter deixado passar uma ou outra referencia, pois meu verdadeiro eu é de um apaixonado por música criado a base dos anos 90 e 2000 mais muito rock progressivo e metal. Aliás, ainda falta um representante do metal (será que vai ter?) e para o anime um desfecho.

Esse episódio pavimentou o caminho para o fim, alguém no reddit deve ter teorizado o que foi revelado sobre a Mu, eu confesso que não cheguei a pensar em tanto, no máximo nunca me convenci de que ela era só a irmã mais nova do Jimi e pronto. Se fosse, por que foi encontrada no lixão sem memórias com um fusível como a única coisa que a ligasse ao Jimi quando a ligação deles nunca ficou clara? Afinal, quem é a verdadeira Mu?

Se tem um ponto negativo nessa jornada da Mu e do Echo é eles terem sempre que subir em um palco pré-determinado (criado para ressoar com a banda homenageada no episódio), mas, por outro lado, objetivamente falando isso não é necessariamente ruim e esse episódio foi uma prova. Foi um episódio mais tranquilo, mas não necessariamente introspectivo, em que a Mu, e até mesmo o Echo, se defrontaram com coisas importantes.

Ela em busca de sua identidade, de sua ligação com Jimi e de quem ela foi, preocupada com o que viria a ser após saber de tudo. Ele ainda um pouco alheio aos próprios sentimentos, sem perceber que talvez esteja perdendo tempo ao não expressar o que sente com clareza para a pessoa que deseja alcançar. Aliás, o que é música senão a coragem de dizer algo a alguém sem exatamente ter a coragem de fazê-lo diretamente?

Se tem uma manifestação humana que dá vazão aos sentimentos esta com certeza é a música e o Echo passar pelo que está passado em um anime que só existe por causa dela é algo interessante de frisar. É óbvio que ele está apaixonado pela Mu, falta só transmitir isso, até de forma a passá-la a confiança necessária para se aceitar; quer ela seja uma Earless, ou uma fusão entre uma Earless e o Jimi; quer seu tempo esteja acabando ou não.

Diferente de outros episódios, a Mu demonstrou ansiedade, mas não pressa, aceitou o papel que a pediram para assumir e encarou de frente a possibilidade de reencontrar o suposto irmão e ter que lidar com a verdade. Não foi um episódio tão introspectivo, cheio de conflitos de identidade, mas acho que foi o suficiente para que o público tivesse certeza de que ela estava preocupada com tudo isso, que saber quem “é” era importante.

Entre aspas, pois é aquilo, a personalidade que ela tem no momento também é quem ela é, assim como a personalidade que tinha antes de perder as memórias (se tinha alguma e esta não era igual a dela enquanto Mu) e a personalidade que deve se chacoalhar (talvez até mudar de fato) quando ela descobrir toda a verdade em detalhes. Dependerá do final do anime; tanto pode ser que isso a “consuma”, quanto pode ser que ela “absorva”.

Ela pode ser sobreposta por aquilo que não consegue lembrar (ainda que já tenha lembrado que era uma Earless), mas também pode sobrepujar isso, conseguindo continuar como “Mu” mesmo sabendo de seu passado. Aliás, agora me parece que quem é a verdadeira chave para o conflito entre as raças é ela, afinal, ela é os dois, nasceu como Earless, mas vive como humana, e como Player ainda por cima. Mu é a encrenca em dose dupla!

Enfim, os sentimentos do Echo vão mudar quando ele descobrir a verdade? Não. Os Earless um dia foram humanos? Tudo indica que sim (lembra do pai da Roz que parecia ter virado um Earless após a morte?). A Mu representa um caminho para a coexistência entre as raças? Eu acredito que sim. A Mu precisa primeiro ter certeza sobre quem é antes de ter certeza sobre o que sente pelo Echo? Sim. Então no fim veremos uma decla…

O romance deve ficar em segundo plano, por ora o mais importante é ver como a Mu vai conseguir se libertar (porque a gente sabe que ela vai) das correntes postas nela no quartel-geral de Londonium, e como o título do próximo episódio dialoga com isso. Ela vai precisar se libertar do projeto liberdade, que no fim não visava liberdade de fato, para assim trilhar seu próprio caminho, não assumindo o papel de outra pessoa, no caso Jimi.

A Mu tem que ser a Mu mesmo que ela seja uma fusão entre o Jimi e o Earless que veio do outro lado do portal. Como isso seria possível? Não sei, só sei que o próximo episódio deve esclarecer ainda mais as misteriosas circunstâncias do “nascimento” dela, assim como avançar na definição do que exatamente vão fazer e como. Até o fim da jornada, por exemplo, eles podem decidir buscar a coexistência que deve ter sim fascinado o Jimi.

Então, foi um bom episódio? Acho que sim, pois apesar de ter achado a ideia do portal jogada e de não terem dado respostas sobre o paradeiro do Jimi, a Mu lembrou de suas origens, o Echo tomou consciência do que sente (ainda que não fosse se declarar, com certeza a passaria a confiança de que a Mu precisa) e deu para entender que ela não foi exatamente controlada e o quanto sua história pode ser triste e bela ao mesmo tempo.

A Mu realmente pareceu uma protagonista de ópera rock nesse episódio, uma viajante perdida em um conflito de identidade. E tudo isso como forma de homenagem ao The Who, banda dos anos 60 que fez não só um, mas dois álbuns de ópera rock (que conta uma história interligada pelas músicas, mídia visual, performances ao vive, etc). As referências continuam pesadas, mas dessa vez penso que elas fizeram mais sentido que nunca!

A Mu não está só em busca de sua identidade, mas também é peça central em um conflito que diz respeito as suas origens, mas também vai além dela. Só torço para que ela não acabe sendo a heroína trágica nesse caso, aí com certeza o anime terminaria tendo um final não tão feliz. Vai negar que ela forma um casal fofo com o Echo? Além disso, ela não merece a felicidade? Assim como os Earless merecem ao menos ser compreendidos?

Enfim, talvez tenha deixado passar referências bem minuciosas, mas as principais tenho certeza que notei e irei comentá-las agora. The Who, como você já deve saber, é uma banda criada nos anos 60 que rivalizou com os Beatles, os Rolling Stones e outras bandas da época pelo sucesso, então, não à toa Tommy disse que o amor deve reinar sobre você (Love Reign O’er Me) ao invés de ser tudo aquilo que você precisa (All You Need Is Love).

Foi uma clara referência aos Beatles, tipo um desafio. Isso significa que o último episódio vai homenagear os Beatles (só a maior banda de toda a história da música) e provar ao público que você precisa de amor, mas não deve deixar o amor dominá-lo? Acredito que sim, seria uma forma bem poética, bonita mesmo, de concluir a obra. Isso, claro, se até lá a Mu encontrar seu verdadeiro eu (The Real Me), como na música título ao episódio.

Ademais, Dual Showman é um modelo de amplificar da Fender. O símbolo nos fardamentos do pessoal do quartel-general é o símbolo da subcultura mod (de modernismo) que o Who usou como logo, não sei se usa até hoje. Inclusive, essa subcultura é amplamente explorada no filme de um dos álbuns de ópera rock da banda, o Quadrophenia, que contém, não por acaso; The Real Me, The Punk and the Godfather e Love Reign O’er Me.

Nada é referenciado ao acaso nesse anime, ainda mais quando, se lembrarmos da primeira banda homenageada na obra, o Oasis, fica clara a conexão. O Oasis foi uma das bandas que mais bebeu dessa subcultura, não à toa a banda fez um cover do maior clássico do Who, My Generation, uma música que você conhece ou você conhece. É como muitos dos clássicos dos Beatles, você já ouviu, mesmo que não saiba onde. Você já conhece!

Enfim, as outras referências relacionadas ao Who dizem respeito ao álbum Tommy. Tomm Walker, inclusive, é o nome do personagem principal do disco, Sally Simpson e o nome de uma canção perto do fim do álbum e o nome do velho realmente não notei se era uma referência. Advinha o nome de outra música desse álbum? Christimas (Natal). Vê como é tudo pensando nos mínimos detalhes? Não indicarei mais nada do Who, vá e ouça!

Por fim, e não menos importante, peço desculpas por não ter notado a referência a música Freedom do Jimi Hendrix feita no projeto. Tem muitas músicas de sucesso com esse nome, daí deixei passar. Mas, repito, tudo faz sentido, né? O próximo episódio vai homenagear o Jimi Hendrix, mas o engraçado é que outra de suas grandes músicas já teve destaque nesse. All Along the Watchtower (Ao Longo da Torre de Vigilância), outro petardo.

As referências seguem muitas e boas, mas percebe como ressoaram ainda mais com a trama? Culpe o anime que, quando você para para pensar e, claro, se tem conhecimento prévio e confirma no google, mostra muitos cruzamentos de referências, dando sustentação pelo menos as ideias que são trabalhadas. Se a trama se sustenta é outra história e creio que os próximos episódios darão uma resposta definitiva sobre algo tão relevante!

Até a próxima!

Comentários