Antes de lerem essa resenha, acessem esse link, ou mesmo o vídeo do youtube que deixarei no final do artigo. Não se preocupem, é um anime com cinco minutos de duração.

A história de Cassis e Arles, que na verdade é um comercial de televisão, ou uma propaganda de uma empresa panificadora, também pode ser entendido como um AMV, ou seja, um anime music vídeo. Ou caso desejem assim o considerar, como um OVA.

 

 

Devo confessar que estou na dúvida sobre a quem se referem os nomes dos protagonistas, ainda mais por ser um anime sem falas, então não sei se é a Cassis e o Arles, ou se é a Arles e o Cassis, mas isso é o de menos.

Acho que uma informação de extrema relevância, antes de comentar sobre essa singela obra, é nomearmos o seu criador. Yoshiharo Sato, um ex animador do estúdio Ghibli. Talvez só por presenciar o traço da animação, ou mesmo a linguagem ali empregada, seria possível se deduzir o vínculo dele com o fantástico estúdio em questão, mas é melhor destacar o seu nome por dois motivos. O primeiro é para não se confundir essa obra com uma obra de outra pessoa, acho que ela facilmente poderia se passar como uma criação de algum dos demais membros do estúdio, e por segundo, para dar o devido mérito a esse animador, é um OVA lindo do começo ao fim.

 

 

Mas indo ao que importa, temos a nossa protagonista, a qual não me irei me referir junto a um nome para evitar qualquer engano. Ela trabalha em uma padaria, que não apenas vende pães, o que pode acontecer, mas sim os produz, ou seja, é uma panificadora. Localizada em uma cidade do interior, um vilarejo aconchegante, um lugar esteticamente e com uma arquitetura que denota tradicionalidade. Uma cidade antiga, que abraça um conjunto de histórias e uma alma própria. O interessante é o quanto isso é bem destacado e fica muito claro na apresentação do dia a dia da personagem.

 

 

A cidade não apenas tem o destaque por ser semelhante a uma cidade histórica, mas por transparecer uma atmosfera de lar, de lugar caseiro onde o tempo passa mais devagar, onde as pessoas são amáveis e a prosperidade se efetiva de maneira humilde. Somado a isso temos o cotidiano de uma jovem gentil, que não apenas reflete a cidade e o ambiente a que a circunda, como nutre com vida esse local. Atendendo aos consumidores, ou mesmo preparando o pão que será vendido, a jovem moça transborda felicidade e determinação.

 

 

Em contraste a ato generoso da moça, temos um rapaz, um pouco mais velho, que tem por profissão o domínio da arte, do desenho, que vive de maneira sossegada, cultivando o seu olhar para as paisagens magníficas que lhe rodeiam, às quais ele pode registrar e representar através da convivência, do profundo respirar e internalizar a arte em vida.

Ambos, a moça e o rapaz, compartilham não apenas da cidade, da refeição e do calor humano ali presente, mas também de um afeto profundo e sincero um pelo outro. Ela lhe entrega os pães, ele lhe desenha o retrato. Ambos vivem e preenchem de significado o ambiente, ora urbano, ora natural, efetivando um compromisso e uma relação simbólica, e possivelmente amorosa, ao atarem as mãos como companheiros.

 

 

O conflito do OVA, muito bem apresentado ao espectador, é a ascensão profissional da jovem, que após a descoberta de seu propósito de vida, de ser uma panificadora, uma confeiteira, resolve partir para a cidade grande e aprimorar as suas habilidades, para aprimorar o seu potencial de servir aos seus semelhantes o nutriente da vida. A partida para a cidade grande é dolorosa, mas necessária. A promessa perante o rapaz, ao que tudo indica, é de que no futuro ficaram juntos.

Em sua nova jornada e circundada por novos desafios e aprendizados, a jovem, que é muito bem recebida em seu novo local de trabalho, se esforça diariamente para concretizar os seus sonhos e objetivos. Presenciamos a sua paixão que reluz junto ao resultado de seu trabalho, junto aos clientes que se beneficiam do alimento por ela preparado. E até mesmo presenciamos os laços que desbravam o destino, como quando uma pequena criança adentra a cozinha para saber como os pães são feitos. A pequena descobre a magia, o mundo fantástico de carinho que ali habita. Até mesmo conhece uma pequena fadinha, um elemental da panificação, o qual zela pelo sucesso e pela prosperidade dessa arte tão fundamental na sociedade humana.

 

 

Não sabemos se a pequena seguirá o mesmo caminho da jovem, mas sabemos que ela é abençoada pela descoberta e instigada pela humanidade que temperam o alimento que ela tanto ama, que a nutre.

Por outro lado, também somos apresentados a busca do jovem, o artista, que adentra pela cidade grande em sua própria aventura de descoberta, que almeja intensamente reencontrar a sua amiga, a sua amada. O fantasma, o reflexo de seus sentimentos o guiam pelo labirinto do desconhecido. Ele é fisgado pela obstinação, e em ímpeto vaga seguindo o seu sonho. É interessante o como o seu percurso é retratado, o que ele corre desesperadamente, tentando alcançar a jovem que se adiantou nessa jornada. Por escadas, por um caminho que rui e do qual não há volta, ele adentra as memórias que o fazem seguir adiante, ele relembra da árvore onde prometeu a ela a seguir, onde registrou o ápice de seu compromisso.

 

 

Não sabemos se ele consegue a encontrar, mas é nítido que ambos desejam concretizar o sentimento que possuem um pelo outro, e não vejo motivo para que em um futuro próximo a relação de ambos não se estabeleça para nunca mais se romper.

E chego ao final dessa resenha, recomendação desse incrível OVA de cinco minutos de duração que deixa no chinelo filmes compostos por mais de uma hora. Espero mesmo que essa história, que embora seja apenas um comercial de televisão, ganhe, quem sabe, um longa próprio, pois é um cenário adorável, e foi efetivado com uma competência sem igual pelo veterano Yoshiharu.

 

 

Agradeço a todos que leram e que acompanharam comigo essa história, até uma próxima.

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