Mashle: Magic and Muscles é um mangá de autoria de Hajime Koumoto lançado na Shounen Jump que conta a história de Mash Vandead, um garoto que é desprovido de magia em um mundo regido por ela. Seu pai, Regro Vandead, o orienta a sempre treinar o corpo para se proteger de quem ameaçá-lo por sua condição. Um dia seu segredo é exposto e ele acaba entrando na Escola de Magia Easton a fim de se tornar um Visionário Divino e subverter o sistema.

Antes de mais nada, preciso frisar que Mashle é uma paródia, e sim, a obra zoa Harry Potter na cara dura, é esta inclusive uma de suas melhores qualidades, sua capacidade de quebrar clichês na base da porrada (a base da zoeira), brincando com elementos comuns a esse tipo de história emvolvendo magia, escola e um preconceito aquilo que é diferente, justamente Mash, um herói sem magia, tipo o Asta de Black Clover, mas que não se diminui e nem se detém por ser diferente.

O traço do mangá e bem feinho e simplista, mas ao mesmo tempo combina demais com a proposta. Não há a intenção de valorizar a ação em detrimento da comédia, pelo contrário, é a comicidade transmitida através do traço e do roteiro criativo e consistente que dão cara a trama, também simples, mas muito feliz ao se aproveitar de referências e clichês para divertir, muitas vezes usando a piada do protagonista fortão, outras se valendo de quebras de expectativa.

A piada do protagonista enfrentar a magia com os seus músculos ficaria saturada rápido não fosse a capacidade do autor de extender esses momentos e exagerar, afinal, qual é a fonte da força sobrehumana de Mash? Não se sabe, e nem importa, o importante é se aproveitar desse elemento e extrapolar em cima dele. Além disso, mesmo quando só se usa a piada para a sátira pura e simples, funciona devido a várias diferenças de contexto, todas jogando magia no lixo.

Até onde se sustenta esse tipo de proposta? Não sei, depende muito da criatividade do autor e do quanto ele é capaz de diferenciar a história daquilo que ela parodia ao mesmo tempo em que mantém as zoeiras em dia. Até onde li, os seis primeiros episódios (que você consegue ler gratuitamente no aplicativo Manga PLUS em inglês ou espanhol), o mangá me cativou bastante, principalmente depois que comprei a ideia de um herói que combate a magia com os músculos.

E não é só isso, porque o Mash também tem uma personalidade interessante, que não se resume a comédia, mas trabalha bem demais em função dela. Inclusive, várias de suas reações são imprevistas para os personagens, talvez menos para quem vai lendo a história e aprendendo o que esperar dela, mas não deixam de manter uma base de coerência, a qual o dá ares de herói, mesmo que não muito, mas já o suficiente para vermos que ali nem tudo é zoeira.

Enfim, comentando mais sobre os momentos iniciais da história, o exame de admissão na escola teve algumas das “referências” mais descaradas a Harry Potter que já vi na vida mesmo em uma paródia, mas não é que foi legal? Trabalhou com vários clichês comuns a esse tipo de história envolvendo magia e uma sociedade organizada com base nela, mas sem perder o tino das quebras necessárias para entreter, fosse com o protagonista ou com a heroína, Lemon.

Comecei dando risadas tímidas e terminei achando tudo o maior barato, ainda mais porque se consegue manter a ideia de que o Mash tem um objetivo e quer alcançá-lo. Isso não se dobra e nem se anula a fim de fazer o leitor rir, e também não o impede de continuar a quebrar os obstáculos na base da pancada. Aliás, o elemento “músculos” e a criatividade do autor em aplicá-lo na narrativa em constraste com o elemento “magia” me dá muita confiança no sucesso da série.

O desenrolar dos primeiros capítulos se vale de uma construção previsível (o aparecimento de amigos, a ocorrência de provas, casos de bullying), mas, repito, isso acaba sendo bom, porque traz certa seriedade a trama, ainda que ela seja calçada na zoeira e não dê para levar nada tão a sério, no máximo as ameaças do Mash de quebrar na porrada quem se mete em seu caminho. Acho que o mangá se sustenta bem na linha tênue que existe entre a zoeira e a seriedade.

Tem algum ponto negativo nesse mangá? Dada a proposta e a execução, cobrindo tudo o que li, vejo mais pontos positivos que qualquer outra coisa, claro, se você for fisgado pela ideia e a forma de contar a história não incomodar. A mim incomodou um pouco no início, mas logo me acostumei e passei a curtir. E sabe de outra coisa legal? Pode até ter uma cópia descarada de Dumbledore na história, mas no geral todos os personagens são “autênticos”.

A paródia tem seu limite, Mashle vai além, ainda que com muita simplicidade e clichês aos montes, mas que não norteiam a trama e nem desvalorizam sua veia cômica nervosa, constante, criativa. O mangá acabou de chegar a casa dos 30 capítulos e indico muito a leitura se procura uma comédia forçada, no bom sentido, sem muita exigência com o traço e o mímimo de objetivos. Mashle quer se tornar um Visionário Divino para ser aceito pelo mundo como é.

Até a próxima!

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