I’m Standing on a Million Lives (100-man no Inochi no Ue ni Ore wa Tatteiru) é uma adaptação de mangá que estreia nessa temporada de outono de 2020. O estúdio encarregado da produção é o Maho Film e a história gira em torno de Yotsuya Yuusuke, um garoto entediado com a vida que leva, mas que ganha novo ânimo ao ir parar em um peculiar mundo de fantasia com Hakozaki Kuzue e Shindou Iu, suas colegas de classe. O problema é que ao invés de ser guerreiro ou mago, ele pertence a classe de fazendeiro e vai ter que se virar para realizar as quests.

Esse anime seria um isekai normal não fosse algumas características que o distinguem bem do que podemos considerar como “genérico” hoje em dia. A mecânica da ida a esse mundo de fantasia (que mais parece um game) é bem particular, bem detalhada, além de ter na figura do Game Master (talvez o Game Master mais estranho dos animes) uma existência para lá de incomum, que não só come o fim das falas, mas interage de maneira “única” com os heróis, os quais, aliás, não tem nenhuma facilidade além da classe que recebem, armas e um reviver rápido.

Porém, mesmo que revivam rápido, se os três morrerem a brincadeira acaba e a consequência, ao que tudo indica, e a morte real, definitiva. É dentro dessas condições que o protagonista acaba envolvido nesse mundo de perigos, mas também literal e figurada magia, meio que pego em uma corrente com a qual não deveria ter nada a ver a princípio, exceto, talvez, pelo fato de parecer bem entediado em sua vida. Penso isso porque a guerreira que compõe a party parecia em situação similar a dele. Em todo caso, uma coisa é certa, Yuusuke prefere o “game”.

Por quê? Porque vivendo esse tipo de aventura maluca, e sobre a qual não sabe muita coisa, ele consegue sair da mesmice na qual se encontra sua vida no Japão; sem amigos e ambições claras. Acaba que essa história maluca combina mesmo com ele e é ajudada por uma direção que sabe embalar bem os distintos momentos da produção. Por exemplo, há cenas de ação em que a trilha sonora empolga e, ainda que a animação não seja nada de mais mesmo, isso fica em segundo plano, porque se cria uma atmosfera para aguçar o mínimo de interesse.

A história se torna ainda mais peculiar pela classe do protagonista, fazendeiro, o que é bom, porque força ele e as garotas a pensarem em formas criativas de resolver seus problemas, não dependendo apenas da força ou das poucas armas que têm a disposição. Isso acaba compensando um pouco a falta de experiência dos três, tornando crível que consigam derrotar inimigos razoáveis e sair de situações problemáticas, como ter uma companheira engolida por um troll, afinal, enquanto um viver, recuperar a vida de todos e cumprir a quest é possível.

A forma prática de resolver as coisas do protagonista escancara seu pragmatismo, mas, honestamente, não garante que sua personalidade seja assim tão horrível, no máximo cautelosa, e se você quiser chamar, medíocre. Porque não arriscar a vida de todos partindo para a floresta sozinho para upar realmente foi a medida menos arriscada a ser tomada, o que pega é a forma como ele explica isso a companheira. Esse herói com certeza não sabe ser gentil, o que também é compreensível. Yuusuke não tem amigos, não é versado em relações interpessoais.

Há uma perspectiva de melhora aí que pode ser cumprida, mas também não, vai depender de que caminho a trama seguir. A única coisa certa é que o protagonista não é mesmo o estereótipo de herói de história de fantasia e isso também torna o anime interessante. Se a produção se vira bem, mas também não encanta, o destaque fica mesmo para a ideia mirabolante, a mecânica do mundo e a jornada de desenvolvimento desse personagem principal que, ao invés do comum, enxerga no outro mundo uma oportunidade de sentir prazer com a própria vida.

I’m Standing on a Million Lives é um anime interessante, para dizer o mínimo, que me agradou bastante em sua estreis e tende a ir incorporando personagens a sua dinâmica incomum de isekai, que não envolve uma viagem ao outro mundo definitiva, mas carrega consigo enormes perigos. A crunchyroll dá conta do simulcast e, apesar de partir de um lugar comum, indico muito que dê uma chance, pois o anime promete. O protagonista egoísta ou o Game Master doidão, de quem você gostou mais? Eu curti ambos, mas principalmente as ideias propostas.

Até a próxima!

  1. Eu gostei. A interação de Yotsuya Yuusuke com este mundo fantástico e com as colegas de classe renderam boas risadas. O Game Master me lembrou bastante o Dr. Manhattan (Watchmen) em sua concepção, exceto claro, pelo rosto pela metade…rs!

    • É, o anime teve uma estreia legal e a cada episódio tem me cativado mais. O rosto pela metade e as frases cortadas foi criativo mesmo, aliás, a proposta é bem interessante, ainda que não exatamente inovadora. Só é uma pena que a animação tenha uns momentos bem fraquinhos, mas acho que mesmo assim é um bom anime para assistir.

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