Adachi to Shimamura é um anime do estúdio Tezuka Productions da temporada de outono de 2020 que adapta a light novel escrita por Hitoma Iruma e ilustrada por Nozomi Ousaka.

Na história acompanhamos Adachi e Shimamura, duas colegiais que fazem amizade enquanto matam aula e jogam ping-pong. A medida que se aproximam crescem os sentimentos que têm uma pela outra.

A sinopse que você pode ler no Myanimelist entrega, Adachi to Shimamura é um shoujo ai, então a coisa vai caminhar para o romance, mas a estreia não dá a entender exatamente isso devido ao seu ritmo lento.

O que é bom? Eu achei ótimo, porque o público pode acompanhar esse processo com clareza, com todas as suas minúcias, sem momentos impactantes para impactar somente, mas momentos belos e singelos.

A Adachi é uma delinquente que não tem amigos até se aproximar de Shimamura meio que ao acaso. Ela, Shimamura, é parecida com Adachi nesse sentido, a diferença é que ela ainda mantêm as “aparências”.

A Shimamura faz amizades que seria injusto chamar de falsas, mas ao mesmo tempo são amizades de oportunidade, que surgiram para evitar o isolamento total em um ambiente no qual é preciso se enturmar.

Ao menos se a intenção é não acabar feito a Adachi, mal falada e isolada socialmente. Shimamura ainda tem uma saída, mas não é tão diferente da amiga, afinal, também não se abre para ninguém tão fácil.

E vai além, reflete a fundo, ao ponto de comparar a amizade a um mergulho profundo e proporcionar um dos vários momentos em que a linguagem visual transborda, se modifica, traz poesia para o dia a dia.

Visualmente o anime já é bem bonitinho, fofinho sem precisar apelar para o moe, ficando mais encantador com essas sacadas em momentos de intimidade das amigas, os quais adornam muito bem o slice of life.

Além disso, a amizade das duas não carece de muito para convencer, é natural, cresce em meio a zoeiras e diálogos despretensiosos como costumeiramente as amizades iniciam, com ações até mesmo instintivas.

Uma se preocupa com a outra, sente a falta da outra e quer estar perto, ainda que desencontros ocorram. Não precisa pisar o pé no drama para que incômodos sejam sentidos e também naturalmente superados…

Ou mal-entendidos sejam desfeitos, sem discussões de relacionamento ou brigas, porque a relação delas é, de certa forma, livre, ela flui e não prende. Não há pressão, ao menos não proposital, escancarada, má.

As duas se dão bem, curtem o tempo que passam juntas “matando o tempo” e têm dificuldade em se “entregar” nessa relação justamente por dar valor ao que se entende por amizade, elas respeitam isso.

E não precisa mesmo de drama demasiado para cativar o público, pelo menos não precisou nessa estreia, que tem sua dose de tensão e até emoção em alguns trechos, mas nada que tome a narrativa.

A forma como as duas garotas encaram a solidão e compartilham um pouco dela entre si é muito bonita e genuína, um pouco melancólica às vezes, mas de fato prazerosa de acompanhar, até mesmo realista.

Na verdade, não é que não haja drama, é que há sim contundência em explorar esse drama. Repito, sem a tentativa de conquistar antes de convencer. Adachi to Shimamura convence e quando se vê, conquista.

É um deleite gradual, uma história para ser apreciada momento a momento, cena a cena, acontecimento a acontecimento. Se gosta de slice of life e romance é talvez a melhor indicação da temporada de outubro.

Claro, se a impressão deixada pela excelente estreia se confirmar mesmo quando o romance avançar e a relação das protagonistas mudar. Romance que tem início na amizade sempre pode ser delicado de tratar.

Mas eu tenho fé que tudo continuará bem. Adachi to Shimamura superou um pouco minhas expectativas, inclusive, na forma lúdica como tratou uns elementos meio exóticos na produção, como a referência ao E.T.

O próprio astronauta mirim é um detalhe mais visual tão inusitado e agradável que não tem como não dar a ele um crédito pelo divertimento que o episódio dá ao público. A pegada desse anime é até “sonhadora”.

Entretanto, mantém os dois pés no chão, mostrando o calibre necessário para trabalhar personagens tão complexas como são as protagonistas, personagens com muita profundidade, mas que são bem simples.

É incrível como bons autores conseguem fazer você achar um personagem rico sem carecer exatamente de complexidade vendida como tal, basta que sejam coerentes e carismáticos e conquistam nos detalhes.

Como deu para perceber, eu amei o anime e pretendo seguir na primeira fila torcendo pelo casal, inclusive, querendo ver mais da figura mascote da série, o tal astronauta irresistivelmente nonsense e agradável.

Por fim, assista Adachi to Shimamura, sua estreia foi demais e me deixou com expectativas enormes para a sequência dos doze episódios programados. Antes da vergonha vem o deleite, e junto dele a felicidade.

Até a próxima!

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