Quem diria que veríamos a Nana encurralada? E, ainda por cima, fugindo sem um plano? O Jin se mostrou um inimigo a altura, mas ao mesmo tempo sua tentativa de impactar a Nana deixou na cara que ele queria primeiro vencê-la psicologicamente, para só depois tomá-la como aliada. Funcionou?

Eu diria que não, mas o interesse dele por conhecer a Nana, ao mesmo tempo em que também expôs fraquezas, tornou a dinâmica do anime bem mais interessante que a repetição de assassinatos que vinha sendo, ainda que possa fazer uma ou outra ressalva mesmo sobre isso.

Além disso, conhecer o passado da Nana foi interessante e espero que tenha feito muitos telespectadores repensarem a forma como enxergam a personagem. É hora de Nana com passado triste digno de Naruto no Anime21!

A tentativa da protagonista de expor a fraqueza do inimigo nos mostrou mais uma vez que mesmo encurralada e ferida ela não perde o espírito de luta, mas era óbvio que toda essa gana não duraria, que ela precisaria dar uma parada.

Antes disso, questiono a ideia que o Jin expôs, de que um assassino precisa da capacidade de desumanizar suas vítimas (ninguém precisa fazer isso se for meter um tiro na sua cara, por exemplo), mas ao mesmo tempo penso que ela deve dizer respeito as circunstâncias da assassina.

Porque ela está em uma ilha com vários colegas com os quais convive diariamente, se quer matá-los ela precisa se aproximar deles e conhecê-los, se quer pegá-los desprevenidos é preferível que saiba seus pontos fracos e se valha deles a fim de atingi-los.

De toda forma, o que importava mesmo foi o que veio depois da cena inicial, não a dedução lógica da Nana sobre uma das fraquezas da habilidade de seu inimigo/cúmplice, mas a revelação do passado da heroína, o qual pode não justificar suas ações, mas dá margem a contextualização sim!

Não entendi porque ela dá a entender que os pais foram mortos por um talentoso (ela fala “inimigos da humanidade”, mas parece querer dizer outra coisa, né), mas é fato que foram brutalmente assassinados e isso pode muito bem marcar todo o resto da vida de uma pessoa.

Só ter ficado sozinha no mundo já daria margem para que ela fosse aliciada e usada por ideais alheios, mas é ainda mais compreensível quando o pai dela trabalhava com talentosos. Imagino que isso deva justificar suas suspeitas, mas confesso que esperava uma informação mais contundente, até como forma de insistir na ideia de que no fundo o que ela busca é a vingança.

E é aí que toco em um ponto sensível da construção da personagem, que pode até dizer que não guarda mágoas, mas será mesmo que não? Para fazer o que ela faz um combustível emocional não é necessário? Até para ela compactuar com as ideias de “purificação” dos talentosos é bem mais crível imaginar uma motivação pessoal como fator decisivo para tal.

Porque a Nana perdeu a família ainda muito pequena e ainda assim é bem jovem, além dela mesma não demonstrar ser apenas uma pessoa fria com um objetivo maior em mente. Ela é passional, apesar de ser extremamente racional até com a forma como se aproveita de seu passado para reforçar suas mentiras. Tamanha complexidade, tamanho sofrimento e resignação me impedem de simplificar a personagem ao título de “puta”.

Vi muita gente fazendo isso de forma leviana e só posso lamentar pela superficialidade e rispidez com a qual tratam a personagem, alguns por ela ser mulher, certamente por encará-la como um alvo mais passível de críticas pelo motivo que for, outros por acharem que as coisas na vida podem se resumir ao preto no branco. Não podem. Aliás, nem na ficção, ao menos não em uma que tenta ser de alguma forma verossímil.

Há muitos tons de cinza entre pessoas e relações que não justificam atos de barbárie como é matar em série, mas certamente humanizam mais que jogam pessoas no hall de monstros, de seres indignos da atenção ao contexto no qual se inserem seus problemas. Nana é um produto de sua personalidade e de suas escolhas, mas também de sua vida e de seu meio, não à toa ela mata por um ideal que abraçou por ódio e culpa.

Enfim, a predileção da Nana por jogos e mangás é uma caracterização confortável, mas válida dada a exímia “agente do mal” que se tornou, além de ser necessário reconhecer a força mental da garota, que é capaz de usar algo relacionado a sua culpa como força para cumprir seus objetivos. Porque ela só se tornou um soldado de conspiração pelas capacidades dedutivas que tem, além da criatividade para criar histórias mirabolantes.

Indo mais além, a piedade (misturada a praticidade, eu sei) que ela demonstra pela Michiru pode não torná-la simpática para aqueles que a odeiam, mas certamente mostra que ela não é apenas um robozinho que mata quando lhe é mandado. A Yuka mesmo ela quase poupou, acho até que há a possibilidade real de não matar um talentoso se este se provar o contrário do que a contagem aponta. Talvez ocorra com a Michiru?

Não sei, mas o fato é que a Nana é uma ótima personagem, é empolgante vê-la se esforçando ao máximo quando encurralada, além de não ser de todo incomum torcermos para ver o quanto ela consegue expor esses talentosos. Se no final da história 95% forem ferrados da cabeça vou achar forçado, mas alguns tem que ser, provavelmente uma boa parte, e a Nana está aí para expor toda a podridão que o “poder” dos talentos carrega.

Porque o poder muda as pessoas, né, ainda mais em uma fase tão perturbadora como a adolescência. É até por isso que também não dá para passar pano para a Nana, porque por mais que a contagem indique uma contenção de danos por trás de seus assassinatos, também expõe toda sua crueldade. Nana é uma personagem fascinante, só é uma pena que o anime não será maior para vermos mais facetas dela.

Infelizmente, nem tudo são flores (nesse tipo de anime não mesmo, mas é em outro sentido) e posso escrever que uma garotinha correndo com a cabeça do pai nos braços foi para lá de forçado. Certamente combina com a pegada do anime, mas não há grande valor na cena além do choque que ela propõe.

Outra coisa que me incomodou nesse episódio foi a “dica” do Jin ter se provado tão rapidamente e ter ficado tão na cara para o público a culpada. Vou me surpreender se não for a garota de cabelo verde, você pode até prestar atenção no encerramento e ver que ela se encontra próxima ao garoto que apareceu morto no final do episódio. A questão é, antes já não havia gente capaz de matar, mesmo que não o tivesse feito?

Eu entendo que o Jin alertava para um extremo, para a abertura que as ações da Nana deram para outro ou outros assassinos se revelarem, mas confesso não gostar da forma como isso foi abordado, além, repito, de não ser nada de exatamente tão novo ou inesperado como trataram. De toda forma, esse é um problema menor, e que, honestamente, é quase que incondicional do anime, essa abordagem mais “explícita”.

Por fim, já que não fazia sentido especular quem é o assassino (me surpreenderei positivamente se estiver errado) era mais interessante comentar o peso que o passado da Nana tem para a compreensão da personagem e como a necessidade de mudança da dinâmica da trama era quase que urgente, afinal, seria ridículo continuar como estava após todas as acusações do Kyouya, o fato novo era necessário para dar uma agitada nas coisas.

E essa mexida certamente foi dada, elementos novos foram trazidos à tona e agora tudo pode acontecer (ou quase tudo, convenhamos), tornando essa parada na correria habitual para explorar a protagonista algo interessante, que não deve inocentá-la por nada, de forma alguma, mas oferecer uma nova percepção dela e de seus sentimentos, além das pessoas e do mundo que a cerca.

A gente pode achar que um passado triste não justifica seguir pelo caminho do “mal”, mas essa visão certamente é a de quem não tem um passado assim, pois é mais fácil apontar e esperar pelo melhor de outra pessoa (quer seja um personagem de anime ou mesmo uma pessoa real) quando você nem ao menos tanta se colocar no lugar dela, e mesmo que se coloque, dificilmente terá um entendimento razoável do que ela passou.

Até a próxima!

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