Michiru é a MVP desse anime e se você não concorda comigo é porque está errado! Mas falando ainda mais sério agora, que final violento foi o de Talentless Nana, né? Se nunca tiver uma segunda temporada vai ser de se lamentar muito. De toda forma, o importante é que mesmo com seus clichês o anime entregou um final emocionante e interessante para o desenvolvimento da heroína. Ninguém nunca mais é o mesmo após se despedir sem dizer adeus. É hora de Talentless Nana no Anime21!

A Nana merece a amizade de alguém? Sim, claro, com certeza. Quem somos nós para achar que ela não merece compaixão, carinho, respeito? Sei que ela matou pessoas, mas isso não a torna indigna de amor. Além disso, a perspicácia da Michiru em notar a falha na dedução da Nana só evidencia que ela foi bem manipulada, afinal, é só ler o depoimento dela a polícia para pensar na possibilidade dos pais terem arrumado o quarto e fechado a janela, o que atenuaria pelo menos parte da culpa que a garota sentia e não a tornaria tão vulnerável ao controle de terceiros.

Isso não foi feito, pelo contrário, se aproveitaram até do desejo dela de ajudar crianças em sua mesma situação para convencê-la a fazer o serviço sujo (e revelar isso durante a ligação do mestre foi meio forçado, mas narrativamente válido). De posse dessa informação a gente entende que ela não queria só vingança, mas também algo de bom e que para isso estava disposta a sujar as mãos. Mais a frente vou propor uma reflexão sobre a natureza dos atos da Nana, mas antes, como não elogiar a Michiru, mas mais que isso, a perspicácia do roteiro em dar uma saída criativa e interessante a algo que parecia bem mais banal?

A preocupação da Michiru e a perturbação que demonstrava se conectaram perfeitamente as suas intenções, mas não só isso, abriram caminho para todo o drama explorado a seguir. Infelizmente, assistindo o episódio qualquer um pode antever o que iria acontecer, foi extremamente clichê, é verdade, mas isso também não significa que foi ruim ou pobre. Apelar para o drama a fim de promover um “ponto de virada” para a personagem, ainda mais sendo esta a principal de uma história, é sim a melhor forma de fazer isso e, repito, ainda que tenha sido previsível, não significa que não teve valor.

Mas antes de falar de coisa séria, por que não notar efemeridades, né? É sério que estavam vendendo bugigangas em uma ilha na qual ocorreram vários assassinatos em um curto período de tempo? Ninguém avisou as famílias, foi atrás dos corpos ou pensou em tirar os adolescentes dali? Não, e por mais que possamos pôr isso na conta da reunião dos talentosos ali ser tudo um plano para exterminá-los, foi impressionante ver como eles ainda tentam viver uma vida normal quando claramente nada assim estava. Me parece que tudo isso ocorreu só para justificar a troca de presentes entre as amigas, mas precisava de tanto?

Felizmente esse é um detalhe menor, mais estranho foi o uniforme de educação física ensanguentado da Fuko mesmo ela não sendo a assassina do amigo de infância. Aliás, por que não se tornou o próximo alvo do assassino? Isso significa que não é assim tão pura? Mas quer dizer mesmo que tem algo a esconder? Não sei, só me parece que algo a angustia, algo além da morte do pretendente. Voltando as amigas, elas trocaram presentes e a Nana pôde curtir ao menos um pouco a amizade que floresceu entre ela e a Michiru, quase como se fosse uma redenção por todo seu sofrimento. Mas essa alegria não iria durar, não teria como…

Ainda assim, era necessário mesmo matar a personagem? E da forma dramática como foi? Se fosse eu a mente criativa por trás dessa história tentaria evitar isso ao máximo por apreço a Michiru, que me cativou mesmo sendo o poço de abnegação que é, mas entendo a opção e como ela pode até chafurdar em um território comum, mas é justamente por ser algo tão básico que fica mais fácil aproximar o púbico do que é de interesse da narrativa, fazendo com que compremos a ideia de que a Nana pode até ser uma assassina, uma vilã, mas também é uma vítima, afinal, por qual prazer sórdido ela mata? Nenhum. Que escolhas ela teve para evitar esse destino? Aparentemente nenhuma.

É muito fácil julgar a Nana e atirar pedras nela, mas entender que ela é tão vítima quanto aqueles que matou não (se duvidar até mais, alguns só eram fodidos da cabeça mesmo). Ou melhor, pode não ser tão vítima quanto, mas é vítima sim, ainda que de uma forma diferente. Ela praticamente sofreu uma lavagem cerebral alimentada pela culpa que sentia, o ódio aos talentosos (imagino que disseram a ela que foi um que matou seus pais) e o desejo de salvar outras crianças do mesmo sofrimento. Essa ideia de que a causa pela qual sujava as mãos era justa foi o que a tornou o que ela era até se aproximar da Michiru.

A ligação do mestre claramente não fez a Nana voltar a si de verdade e, apesar de ter achado que a dedução dela sobre quem era o assassino surgiu um pouco do nada, é inegável que foi uma saída criativa, que aproveitou bem o talento do assassino e teve certo foreshadowing antes de ser revelada. O garoto citou essa pureza da vítima no interrogatório do Kyouya e as circunstâncias estranhas do ocorrido apontavam para sua habilidade. A obsessão dele por macular a pureza alheia também foi algo que surgiu meio que do nada, mas ao mesmo tempo não seria muito diferente para qualquer que fosse o assassino, não é mesmo?

Enfim, a Nana tirou sua última dedução genial das coxas (coisa em que nem o Kyouya havia pensado) e correu para salvar a amiga apesar do que havia dito após a ligação. Vou querer matar o autor se a Nana ainda matar outro talentoso e não for em legítima defesa, porque não é possível que a garota não tenha aprendido nada com a Michiru, mesmo que tenha sido um talentoso aquele que mostrou toda a face horrível que os poderes podem ter. De certa forma, foi a bondade da Michiru que a condenou, mas também foi essa mesma bondade que salvou a Nana e melhor, isso foi o que sua amiga, Hitomi, fez por ela. Parece até que gentileza gera gentileza, né?

Eu acredito nisso, mas claro, não em todos os casos, e é muito mais fácil falar na ficção. Em todo caso, o assassino é revelado com toda aquela exposição de inteligência que esse tipo de anime tem que ter, mas o que me pegou mesmo foi as barbaridades que a Nana disse a Michiru a fim de afastá-la dali. Por que essa cena foi tão cruel e ao mesmo tempo tão bela? Porque até certa altura do anime era mesmo tudo que a Nana pensava, porém, naquele momento nada mais daquilo era verdade. E elas se separaram sem nem dizer adeus, como não chorar… Outra coisa que gostei foi que a Michiru fugiu assustada, magoada mesmo que só por um momento, uma reação natural a quem sofre esse tipo de baque.

Mas era óbvio que ela voltaria e salvaria a Nana, se sacrificando e retribuindo o sacrifício da amiga, despertando todo o poder que tinha guardado dentro de si. Foi super clichê esse desfecho, mas, repito, que outra forma havia para mudar profundamente a protagonista? Se tem uma coisa que mudou a Nana em sua vida foi a dor da perda, o sofrimento, a culpa. A diferença é que agora, após conhecer a Michiru e receber tanto da sua ajuda, acho difícil que ela não busque tomar um caminho diferente na vida. O apoio emocional do qual precisava após a morte dos pais ela só foi encontrar anos depois com a Michiru. Qual será o apoio que terá após a morte dela?

Eu só consigo pensar no Kyouya e em como o desfecho mais coerente e satisfatório para a situação em que a Nana foi deixada ao final do anime é abrir o jogo com ele, propondo uma aliança para desmascarar a organização para a qual ela trabalha e encontrar um meio-termo entre a ameaça que os talentosos representam e a ideia de que nem todos devem ser “detidos”. Há um momento desse episódio que foi bastante simbólico, e certamente útil, a hora em que a Nana fala que está indo lidar com os inimigos da humanidade como se eles fossem os talentosos. E estes são os talentosos, essa é a verdade manipulada pela organização.

As mentiras da organização e o dever de matar indiscriminadamente que ela quer impor a Nana devem fazê-la querer sair de tudo isso. Não fugir, mas não seguir mais ordens cegamente. Por outro lado, é inegável que os talentosos são perigosos, se não todos, parte deles. O microcosmo que é a ilha deixa muito bem claro isso. Sendo assim, como dá para pisar na ideologia que enfiaram na cabeça da Nana? Não havia mesmo algum sentido nas ideias passadas a ela? O problema é que ela foi usada, os adultos que deveriam resolver a situação não encontraram um meio-termo e até por isso pessoas inocentes como a Michiru acabaram morrendo.

Adoro como aos poucos a narrativa fez de tudo para que agente passasse a encarar a Nana por outro prisma (ainda que de forma um pouco forçada às vezes), esmiuçando que o cenário é todo muito mais complexo e nebuloso do que aparenta tanto para ela, como para os talentosos. Isso me faz pensar que é muito fácil tomar as dores do herói quando este mata em nome da justiça e passa por cima de outros pela certeza de seus ideais, mas por que não tentar ver que a Nana em si também tinha alguma razão e que, de alguma forma, na cabeça manipulada dela, ela era a heroína trágica encarregada de uma missão que só alguém chafurdando em sofrimento como ela poderia executar?

Por fim, o que podemos tirar desse final? Que a tragédia quase que cíclica da Nana foi o turning point da personagem e assim de sua história. A Michiru foi em paz por ter salvo a amiga, sem saber se as barbaridades que a Nana disse eram realmente verdade, mas creio eu que ela sentiu que não, afinal, a Nana não a salvaria se não fosse sua amiga de verdade. Era algo tão óbvio que não tinha como ter outro desfecho. Fiquei triste porque me afeiçoei demais a Michiru, ainda mais após ela ter feito a Nana perceber algo tão óbvio, mas tão importante (aliviando um peso que a garota carregou consigo por tantos anos). Não tem como não lamentar sua morte, assim como não ser grato por essa personagem tão bacana.

Até o momento em que escrevo este artigo não sei nada sobre uma segunda temporada. Li em fórum que ainda não tem material suficiente, então com sorte estão esperando ter mais capítulos para anunciar algo. Eu espero que tenha feito sucesso para tanto, porque esse episódio final foi uma correria só, não fechou nada e ainda me aguçou demais o interesse em saber como a Nana vai reagir a tudo que lhe aconteceu. Se ela como vilã já proveu um entretenimento e tanto, imagina usando toda a sua força para encontrar uma saída para uma situação tão complexa? Nana não é uma “vadia” e muito menos uma psicopata; ela é uma vítima, mas também culpada, alguém que só após ter feito uma amiga começou a enxergar a luz.

Até a próxima!

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