Kemono Jihen é um anime do estúdio Ajia-Do (Isekai Maou to Shoukan Shoujo no Dorei Majutsu, Kakushigoto, Shuumatsu no Izetta) que adapta o mangá de Shou Aimoto lançado na revista Jump SQ. Na história acompanhamos o investigador do oculto, Inugami, e Kabane, um garoto órfão que, assim como Inugami, não é um humano, ao menos não um humano comum. Inugami e Kabane são kemono, uma espécie de demônio. Inugami trabalha justamente resolvendo casos que envolvem essas criaturas e após cruzarem caminhos Kabane começa a trabalhar com ele em sua agência.

Desde o início essa história do elemento externo que vem de fora para resolver algum problema me pareceu suspeita, mas isso era óbvio, pois sabia o que esperar do anime. Contudo, mesmo tendo uma ideia adorei como a direção e o roteiro dão indícios, mas não jogam as respostas na sua cara. Isso pode parecer besteira, mas dá o tom de mistério que a trama precisava ter ao menos nessa estreia, a apresentação do protagonista. Até gosto de episódios de estreia que colocam o telespectador no meio da ação, dando uma ideia real do que vai ser o anime, mas não vi demérito nenhum nesse por ser diferente.

Isso se deve muito ao fato do Dorotabo (mais para o final usarei o verdadeiro nome do protagonista) ser um personagem meio que “vazio” sobre o qual primeiro precisávamos entender a origem para depois acompanhar seu desenvolvimento. Porque a forma como era tratado na casa de sua própria tia e aceitava tudo numa boa denota muito isso, que sua humanidade era só minimamente respeitada (aliás, nem isso se pensarmos que uma criança não deveria trabalhar, ainda mais em um trabalho braçal, né), que ele nunca teve a oportunidade de decidir algo por si próprio, ter sua individualidade.

Enfim, o cheiro forte não era o único elemento que indicava que havia algo estranho em seu entorno, a incomum pedra em seu pescoço também dava indícios de que Dorotabo não era um simples garoto borralheiro, afinal, já que a tia o tratava praticamente a pão e água, por que não tomou lhe a pedra que carregava? Além disso, por que os ataques que o simpático Inugami veio investigar ocorriam sempre nas noites de lua nova? Por um momento pensei que ele fosse o culpado, mas não, e seria previsível demais se assim o fosse, apesar de ao redor dele pairarem circunstâncias para lá de estranhas.

Enquanto assistia achei que o Inugami quis acompanhar o Dorotabo para ficar de olho nele e assim impedi-lo de atacar outro animal, mas não, a ideia dele era outra, e nem era conhecer um igual como pensei após a cena de ação, mas sim cumprir com o que havia sido acertado e foi propositalmente omitido. O tempo todo o anime tentar desviar o telespectador do que realmente são as coisas e diria que caí feito um patinho, mesmo a cena com Yataro me pegou um pouco de surpresa, já que ela apresenta rapidamente uma transformação incompleta do protagonista antes de ir para os verdadeiros clímax.

Kemono Jihen não se preocupa mesmo em entregar o ouro logo de cara e até por isso gostei tanto desse episódio. Talvez minha única ressalva seja a forma escrota como a tia e o primo tratam o garoto e mesmo assim não há qualquer reparação. Contudo, é como escrevi anteriormente, Kabane (antes Dorotabo) não tinha muita “personalidade”, então acabo entendendo ele não querer se vingar da família da mãe e até mesmo não lutar pela própria vida. O lance é que ainda assim ele age, não à toa salva o primo usando não sua transformação de kemono, mas força e agilidade sobre-humanas.

Aliás, voltando ao ataque de inveja do Yataro, a reação dele já era algo esperado, o que me impactou mesmo foi a revelação após sua fuga. Matar o próprio primo e ir embora como se não tivesse nada a ver com aquilo deixa claro como a família se merece, só é uma pena que a mãe de nosso herói não tenha se atentado para isso quando deixou o filho naquela casa. Deve ter sido uma situação sem saída que provavelmente teve a ver com o fato do pai do garoto ser um kemono. Aliás, quem são os pais de Kabane? Propor essa descoberta como objetivo foi uma ótima forma de dar forma a jornada do herói.

Quanto a transformação, ali deu para ver não só como a história não terá pressa em se mostrar, mas também que a produção teve seu esmero e não subaproveitou nem exacerbou o que tinha a apresentar. Outro momento do qual gostei muito foi quando o Inugami levanta a arma para apontar na direção do Kabane, revelando a verdade por trás de sua contratação. A resposta do garoto e sua reação ao acordar horas depois nos dá a certeza de que ele havia aceitado a morte com coragem, mas essa nunca esteve nos planos do investigador, ao menos não de verdade, até por um kemono não morrer tão fácil.

O encaixe da situação acaba sendo perfeito e não sei se Kabane um dia voltará a cidadezinha do interior para visitar sua tia e seu primo para tratar sobre o passado, mas, honestamente, isso não importa. O garoto tem toda uma vida nova pela frente que ele nunca deve ter imaginado que iria viver e com um objetivo bem mais interessante a cumprir. Inclusive, acho que é mais fácil ele encontrar o pai que a mãe, ao menos se pensarmos que kemono não são entidades comuns. O kemono que atacou as galinhas da pousada mesmo só surgia em noites de lua cheia e não aparentava inteligência, denotando uma complexidade ainda maior na classificação dessas criaturas.

Por fim, para Kabane renascer, Dorotabo precisava morrer e foi exatamente isso que aconteceu. Tudo após uma boa, ainda que breve, cena de ação, mas, principalmente, uma cena dramática bem consistente, o segundo e melhor clímax dessa estreia que foi previsível só até certo ponto, pois a opção por saídas criativas e não tão óbvias em certos momentos tornou todo o desenvolvimento bem mais interessante e até mais profundo do que aparentou que seria nos primeiros momentos. Kemono Jihen demonstrou bastante potencial, ainda que como a história será realmente nós só saberemos no segundo episódio, que eu duvido que você não irá assistir.

Até a próxima!

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