Filmes de franquias costumam ser como lembrancinhas, um bônus, amostra grátis para os fãs, e por serem idealizados assim, costumam ser descartáveis, e não apenas isso, mas se apresentam em um resultado próximo a expressão “nas coxas”, ou seja, de qualquer jeito. É compreensível até certo ponto, mas é quando o nas coxas apresenta real potencial não desenvolvido ou mal desenvolvido, aí mora a frustração.

 

 

Não se enganem, ver os filmes de One Piece, ou de qualquer franquia shonen, é um ato esclarecido, não carrego expectativa nenhuma, sei bem que eles não podem tocar ou se aproximar da história do cânone do anime, sei que se infiltram dentre roteiros rasteiros para inflar o produto, mas as vezes, e apenas as vezes, eu cometo o erro de me deixar instigar, e por um segundo, acreditar que podem realmente serem um bom filme.

Não dá pra negar que fui no bonde do quarto filme, que se destacou dos três primeiros, mas esse quinto, ah esse quinto, ele foi traiçoeiro.

Ousaram apresentar densidade e um plot elaborado, venderam uma ideia que adentrava em eventos da infância de um dos personagens principais, e prometeram uma história paralela focada nesse personagem. E depois os infelizes jogaram tudo na lata do lixo e fizeram qualquer coisa com qualquer coisa.

 

 

Foi doloroso. Norowareta Seiken adentra pelos laços de infância de Zoro, introduz Saga, um de seus companheiros de treinamento e de profissão, me refiro a de caçador de recompensas, antes dele se tornar um Mugiwara, e amarra a relação de ambos com uma promessa de amizade que faz com que Zoro até mesmo se vire contra os seus colegas piratas.

Olha, isso tem realmente um tempero, por assim dizer, e poderia ser bem legal, e ainda mais, eles criam todo uma estrutura mitológica, uma espada amaldiçoada que se corrompe devido a uma lendária guerra entre três distintos homens apaixonados por uma princesa, que de sangue em sangue brutalizam o passado de um império, agora decadente, chamado de Aska. A princesa da antiguidade, uma sacerdotisa, consegue a ajuda divina em troca de seu auto sacrifício, e com isso pacífica a guerra e o conflito que se alastrava por seu povo. Clichê? Sim, interessante, também.

No presente, Saga, o ferido e combalido caçador de recompensa arranja abrigo na vila de Aska, se conecta afetivamente com os descendentes milenares do antigo império, se estabelece como um guardião e espadachim no local, quase efetiva família, mas tragicamente se vê encurralado por piratas saqueadores que almejam o pacifico local. Luta, perde, sangra e acaba descobrindo um artefato selado proibido. Novamente, é clichê, mas é interessante também.

 

 

Toda essa trama que conecta personagens e eventos, que coaduna em um dos amigos de Zoro, um reencontro e uma dívida a ser paga, é bem intrigante. No caso, a dívida que Zoro tem com Saga, é que ele não conseguiu salvar o amigo em uma incursão a um navio pirata, onde Saga se viu preso e prestes a ser mandado pelos ares, sem que Zoro, impotente, pudesse fazer nada. A explosão acontece, Zoro se culpa pela “morte” do amigo, e segue a vida. Saga sobrevive, mesmo que com a sequela de um braço inutilizado, e segue rumo a seu novo destino, se tornar um capitão da marinha, controlado por uma espada amaldiçoada milenar que o convida a formar um exército de marinheiros e, quando o selo for rompido, a dominar e banhar o mundo em destruição.

Tudo isso em um filme, em um maldito filme que deveria ser tosco e descartável, e o pior, o filme é tosco e descartável, eles elaboram um grande evento, um plot intrigante, e jogam tudo isso em uma execução incompetente e frustrante.

O filme em si consegue ser até mediano, com um ritmo e uma ambientação razoável, ele não é muito ruim em geral, mas quando compelido e entregar o que promete, a colocar na mesa as cartas de um enredo mais denso do que deveria ser, ele coloca do pior jeito possível, e nem as lutas ele desenvolve adequadamente, é um pecado. Tudo fica em um misto de arrastado e rushado, de um afobamento e desleixo complicado.

 

 

Para falar a verdade, isso é uma constante nos filmes de One Piece até o momento, eles simplificam tudo e entregam um resultado sempre meio sem sal, com pontos positivos muito pontuais, e às vezes, como no quarto filme, conseguindo equilibrar isso adequadamente e dar luz e destaque para o que engrandece o resultado final, mesmo que tenha que limar lutas desnecessárias. Esse quinto filme resolve seguir a bula à risca, e ele se envenena com a própria fórmula, por assim dizer.

No fim das contas o bando dos Mugiwara cumprem os requisitos do contexto, purificam a espada, tem um anticlímax, a espada consegue romper os selos, o poder de Saga chega ao limite, os heróis combatem o mal, são vitoriosos, nada fora do normal, nada fora do esperado, mas como sempre digo, o que importa aqui não é o que, mas sim o como.

Sim, seguir esse clichês pode destruir o resultado final, que é o que acontece, mas também pode conseguir um resultado magnífico. Perdi as contas de quantas vezes já vimos essas sequências de eventos em animes, e cada um a apresenta de seu próprio jeito. Mas convenhamos, é comum nos maravilharmos com desfechos dos mais diversos e que tem por essência a mesma estrutura. Pegue qualquer anime shonen, qualquer mesmo, e na maioria das vezes será esse mesmo desdobrar de momentos que se repetirá. Conflito, luta, clímax e anticlímax, superação, desfecho.

 

 

O pecado desse filme é a execução, o pior e ele elaborar um cenário que requisita que seu desfecho e seu conteúdo tenham qualidade; e é uma pena, é como colocar todos os ingredientes do bolo e resolver comer ele cru mesmo, sem assar, esse é o gosto que temos ao assistir esse filme, pelo menos é como eu descrevo.

Comentários