Uchiage Hanabi, Shita kara Miru ka? Yoko kara Miru ka? – Quantos nós laçam o destino de um coração?
A primeira coisa que gostaria que soubessem sobre o filme Ushiage Hanabi, é que eu não entendi, sim, eu não entendi o que aconteceu e o como aconteceu tudo o que aconteceu, eu entendi os motivos, as relações humanas, mas até segunda ordem, para mim o filme não explicou absolutamente nada do porque aquele mundo se apresenta do modo como se apresenta. Dito isso, vamos ao filme.
É um bom filme apesar dos pesares, na verdade, é muito bem dirigido, muito bem animado, com um CG um pouco distorcido às vezes, o que pode incomodar um pouco, mas que dá pra relevar. O central em Fireworks, como o filme também é popularmente conhecido, é o dilema humano e afetivo dos protagonistas.
Nazuna é uma garota normal, frequenta a escola e interage com esse microcosmo sem grandes surpresas, entretanto, em sua vida familiar, existe um conflito inconciliável. A mãe de Nazuna, conhecido apenas pelo nome da família, ou seja, Oikawa, está em um relacionamento afetivo, o conflito entre mãe e filha é simples, a mãe, devido ao novo parceiro, escolhe mudar de cidade, e é claro, pretende arrastar a filha junto a ela, sem consultá-la, considerar seus sentimentos ou sua vida no local onde moram, ela acredita e afirma que a filha não tem amigos ou relações firmes com a cidade, é um rompimento brutal com a realidade da filha, e não apenas isso, é uma determinação literalmente violenta.
Nazuna está acuada, sozinha, impotente, sofrendo horrores com a situação. O que ela pode fazer? Ela está ligada a mãe a aos seus caprichos, não tem escolha alguma, uma prisioneira do próprio destino. Sua única resposta é a fuga, uma fuga desesperada e efêmera.
Junto a essa complexidade, temos os demais alunos e colegas de Nazuna que compartilham com ela a escola, e acima de tudo, que a admiram e gostam dela em segredo. Dois desses colegas se destacam, Norimichi e Yuusuke, grandes amigos com uma paixão em comum, a garota.
As ações da moça são conduzidas pela melancolia, e o anime nos apresenta ela como alguém que inicialmente quer tecer uma última memória antes de partir. É verão, os fogos de artifício e o festival estão próximos. A partida para a outra cidade, mais próxima ainda.
Norimichi acaba acompanhando alguns momentos vergonhosos e constrangedores quando, sem querer, cruza com a garota em fuga, ela é violentamente arrastada por sua mãe como uma vítima pelo carrasco.
Norimichi sempre observava Nazuna, sempre a desejou platonicamente, mas nunca tomou iniciativa, Yuusuke, a mesma coisa. Nazuna, de modo errático e desgovernado, acaba desafiando os dois rapazes em um jogo de natação, quem vencer pode pedir ao outro o que desejar, ela vence, e nisso promete a si mesma que fará memórias com o vencedor, no caso, o segundo lugar, já que ela venceu como o primeiro.
Descobrimos conforme o anime se desdobra, que a garota, apesar de confusa, é resoluta e determinada, mas fatos incontroláveis sempre barram as suas iniciativas, por exemplo, nessa competição de natação, quem vence em segundo é Yuusuke, ela assim como prometeu a si mesma, o convida para sair e assistir os fogos, que para além de um simples encontro, é um pedido de ajuda, de resgate, uma fuga, literalmente, de sua mãe e de sua situação.
Yuusuke é um cara covarde, claro que nem ele e nem Norimichi estão cientes das dificuldades pelas quais Nazuna passa, mas o rapaz só desiste mesmo, fugindo da situação.
Agora, depois de todo esse embrolho sentimental, que na verdade é bem interessante, o porque diabos eu não entendi nada do que o filme apresentou como instrumento narrativo face a estrutura com que a história é contada? Simples. Esse filme tem um elemento extra, uma esfera que em determinado momento Nazuna encontra na orla do mar, essa esfera, pelo que é explicado, pertencia a seu padrasto, o segundo marido de sua esposa, que a criou como filha, já que sua mãe, após engravidar, fugiu de seu pai com esse homem. O seu padrasto, por sua vez, acaba morrendo tragicamente no mar da cidade, isso a pouco mais de um ano dos eventos aqui narrados, e pelo que o filme nos apresenta, ele carregava consigo essa mesma esfera cristalina que Nazuna vem a encontrar.
Essa esfera é uma ferramenta inexplicada e inexplicável, a cada momento que Nazuna a derruba ou a perde, ela é encontrada por Norimichi, e este a utiliza ao arremessá-la, simples assim, e esse arremesso misteriosamente faz com que de maneira fantástica ele volte no tempo, ou ao menos cruze a linha da realidade e retorne a um universo paralelo ao real, lugar o qual pode explorar e agir, reconstruir, as suas ações. É uma volta no tempo que ao mesmo tempo não é, sendo que não sabemos ao certo se esse lugar da volta se mantém ao final do filme, o que sabemos é que as consequências da interação dentro desse mundo fantasioso parecem mudar drasticamente, ou até mesmo reescrever o mundo real inicial.
Norimichi utiliza esse mecanismo diversas vezes para arrumar situações que levariam a um destino brutal, mas ao mesmo tempo não fica claro, apesar de ser muito interessante essa imersão nesse mundo paralelo, se ele conseguiu mudar o destino.
Ao que tudo indica, essa esfera é uma espécie de mundo dos espelhos, e em momento do anime, ela é fragmentada em inúmeras partes, revelando as múltiplas camadas de realidade que se realizam ao mesmo tempo, mundos distorcidos que somam eventos possíveis a linha temporal principal, e esses eventos, do modo como o anime apresenta, são a história do mesmo. Tudo o que acontece com Norimichi, todos os eventos que ele pressiona o gatilho e assume o controle, que adentra e tenta interferir, são lentamente consolidados como eventos reais, pelo menos do ângulo do rapaz, para Nazuna, não fica claro se ela tem memória de todos os resets que acontecem ao seu redor.
É uma história multifacetada por um elemento alegórico místico, ou mágico, que não tem sua fundamentação ou funcionamento explicado, o que deixa tudo solto e confuso, ao mesmo tempo que errático e direcionado. Sabemos o desfecho desses eventos, mas não sabemos o que diabos está acontecendo, e nem mesmo os personagens sabem, isso é certo. Os personagens secundários sabem menos ainda.
Não é o primeiro filme que vejo que utiliza desse tipo de estrutura e constituição, na verdade é uma coisa bem comum com o diretor Mamoru Hosoda, por exemplo, mas é a primeira vez em que fico frustrado ao ponto de me incomodar com a completa lacuna de desenvolvimento desse aspecto tão central e essencial na obra. Não sei se o mesmo acontece com a novel ou o mangá, e desejo um dia descobrir, mas essa narrativa visual descompromissada e pouco explícita do filme me pegou de jeito.
De resto, é um ótimo filme, com uma atmosfera e um desenvolvimento dramático muito pertinente, empatizei e muito com o Norimichi e com a Nazuna, que aliás, é uma garota extremamente encantadora. A parte técnica em geral não deixa em nada a desejar, e o humor ou as interações secundárias também são aceitáveis, enfim, nada contra o surrealismo típico desse tipo de obra, mesmo que no fundo não precisasse desse tipo de recurso.
A para concluir, sim, Nazuna é apaixonada por Norimichi, assim como ele é por ela, e é muito legal o como a jornada deles se desenvolve nesse misto caótico e doce de paixão adolescente, realmente, foi adorável.