Diversas coincidências e muitas ironias tornam esse episódio muito significativo. Depois de ver as consequências dos atos da Gabi aqui nós vemos que ela não se arrepende nem um pouco deles. Bem, talvez isso esteja prestes a mudar. Quem sabe não de uma hora para outra, mas quem sabe o primeiro passo tenha sido dado nesse episódio.

O episódio passado criou toda uma tenção no ar, aqueles que um dia foram aliados já não sabem mais em quem confiar. E esse episódio não mudou de forma alguma essa situação, na verdade apenas a piorou. Além de membros da tropa de exploração serem presos, agora até mesmo as pessoas fora do exército tomam conhecimento dessa desordem. As coisas estão tensas e se nada for feito logo então elas irão explodir de uma só vez.

Mas ainda que essa seja a parte mais interessante não foi nela que esse episódio focou. O foco foi total nos candidatos a guerreiros, o inocente Falco e a tão amada Gabi. No final das contas esse foi um episódio mais calmo onde não aconteceu muita coisa. Porém, os temas abordados nele são de grande importância para a obra. E muito importantes para estes dois personagens, sobretudo com a Gabi.

Eu realmente não odeio a Gabi, mas tenho que dar o braço a torcer quanto ao fato dela ser insuportável. Ela é chata de doer, isso é inegável. Contudo, o problema está no seu ódio aos “demônios” de Paradis, coisa que ela faz questão de repetir uma vez a cada três frases que diz.

Mas é necessário lembrar que o seu estado emocional se encontra completamente abalado, ela viu a pouco tempo seus amigos assassinados na sua frente, sua comunidade devastada e uma das pessoas que mais admirava a traiu. E convenhamos, depois do que o Eren fez ela acredita mais do que nunca que eles são realmente demônios.

Mas eles não são demônios, e foi sobre essa sua visão distorcida de mundo que o episódio se tratou. Pode parecer que o anime está retornando para um tema já comentado, e de fato ele está. Mas a forma como está fazendo, ou melhor dizendo, a perspectiva atual é que mudou.

Diferente de personagens como o Tybur, Reiner, Armin e o próprio Eren ela possui uma perspectiva diferente. Ela ainda vive na mentira que ensinaram a ela e de que ela mesmo decidiu acreditar. Ela crê que todos os seus inimigos são demônios, mas ela mesma se tornou um demônio por acreditar nessa mentira.

Essa compreensão de sua própria “monstruosidade” é algo conhecida por todos os personagens que eu citei. O Reiner cometeu seus diversos pecados e vive assombrado por eles em cada um dos seus dias de vida.

Mas a Gabi por sua vez não tem consciência sobre seus pecados, mas nem por isso ela deixa de ser culpada por eles. Perceba como há aqui dois diferentes estágios, o primeiro da criança que justifica os seus atos e o segundo do adulto que os aceita como eles realmente são.

Mas como é possível que alguém se equivoque dessa maneira? Como é possível que alguém cometa tantos crimes e no lugar de se culpar sinto orgulho dos seus pecados como se estes fossem atos de heroísmo? Bem, é exatamente isso que o episódio nos mostra. Toda a discussão da Gabi com a Kaya é uma pequena amostra dos diversos motivos.

Tudo começa com a desumanização, e perceba que considerar os inimigos como “demônios” nada mais é que a expressão mais radical dessa visão de mundo. Pegue a segunda guerra mundial, é natural ver o eixo e sobretudo os nazistas como os vilões da história e de fato eles são os principais culpados.

Mas os aliados também cometeram muitos crimes e espalharam terror, como o uso da bomba nuclear pelos americanos ou os estupros de milhares de mulheres alemãs pelos soviéticos.  Se haviam monstros nesse evento histórico então pode apostar que eles estavam em todos os lados.

O ponto é que de fato não há justificativas para esses crimes. E não adianta distribuir a culpa ou tentar justificar os atos, não importa o que aconteceu a centenas de anos ou o que pessoas que nem mesmo mais estão vivas fizeram, cada um carrega as culpas pelos seus próprios atos e ninguém mais.

Todas as pessoas daquele mundo, estejam elas aonde quer que estejam e tenham o sangue que for em suas veias, ainda são humanos. Todos erram e todos são culpados por seus próprios erros e apenas por eles.

É interessante notar que mesmo com os diversos motivos para odiar as duas crianças a Kaya ainda os ajuda no final das contas. Se ela soubesse que foi a Gabi quem matou a Sasha talvez ela não fosse capaz de tomar essa decisão, mas ninguém a culparia por isso.

O mesmo para os pais da Sasha que acolheram os dois “órfãos”. Porém, ainda que seja difícil perdoar essa parece ser a melhor solução, não para acabar com o mal mas ao menos para evitar que ele se repita uma vez mais.

Enfim, ainda que pareça deslocada essa é uma discussão que de fato o anime precisava fazer. Esse é um problema muito complicado e de forma alguma teria uma solução simples e tão pouco conclusiva e livre de contestações. Na verdade, o grande problema apresentado ao Eren é que ele se encontra numa situação cuja sua única solução é dar prosseguimento a esse ciclo de destruição e ódio.

É um caminho perigoso e quem tem o poder de trilha-lo é apenas o Eren. Vamos ver qual resultado sairá daí, está muito interessante acompanhar essa história. Até mais.

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