O deserto toma o lugar de destaque, a saga de hoje é nada mais nada menos do que Alabasta. Estranho começar o artigo com essa introdução, mas é exatamente isso. O oitavo filme de One Piece é uma compilação dos melhores momentos da saga de Alabasta! Uma boa ou uma má ideia? Sendo sincero, nem sei, mas vou comentar o que o filme apresenta, se é que posso chamar de filme algo que não tem qualquer intenção de ser um filme.

 

 

Antes de comentar o filme em si, vamos a rememoração. Alabasta é a primeira saga central de One Piece, onde para além de apresentar ou resolver um conflito de algum dos membros do chapéu de palha que estão ingressando ao bando, se constrói a arquitetura de sustentação do cenário pelo qual o Luffy trilha sua aventura.
Aqui temos a introdução de um Shichibukai, Crocodile, temos a apresentação do próprio reino de Alabasta e sua imensa importância para o entendimento da história mundial intrincada de One Piece, que auxiliará também como esclarecimento em relação à figura dos Tenryuubito, e não apenas isso, temos a revelação dos Poneglyphs, isso sem contar a citação direta da poderosa arma Pluton, algo que certamente será desvelado e central mais adiante. E por último e mais importante, temos a apresentação de personagens centrais e incríveis da obra, como a Nico Robin, o Bon Clay e a Vivi.

 

 

Alabasta é uma saga que se estrutura do seguinte modo. Temos um reino estável e próspero, que apesar de habitar uma ilha hostil e desértica, consegue superar todas as dificuldades e brilhar como um poderoso império governado por uma respeitável dinastia de monarcas.

Cobra é um bom rei, um homem íntegro e justo, mas sua ingenuidade acaba sendo o seu ponto mais fraco, ainda mais quando o ardiloso Crocodile mexe os pauzinhos pelas sombras, conspirando para desestabilizar o reino.

Crocodile deseja os segredos do reino, mas ele é um Shishibukai, e sabe que pisa em ovos, mediante isso, sua estratégia se efetiva por meio da sabotagem. Consolida uma força adequada aos seus propósitos chamada de Baroque Works, força à qual habilmente introduz o conflito dentro do reino. Como a monarquia de Alabasta é muito sólida, o projeto que desenvolvem é exatamente colocar em cheque esse monolito de poder, convencendo o povo de que a tirania, o egoísmo e o mau caratismo imperam junto ao governo. Entretanto, novamente, o governo de Alabasta é muito digno e competente, é uma árdua tarefa retirar a sua credibilidade.

 

 

De modo muito astuto, Crocodile descobre o calcanhar de Aquiles desse reino, e essa fraqueza é exatamente as características climáticas inóspitas locais. Utilizando de um pó proibido que força a umidade do ar a se condensar em forma de chuva, ele, por meses ou anos, força com que as chuvas aconteçam na capital real. O efeito colateral desse pó que força a chuva no local onde é dissipado pela atmosfera, é que ele suga o fluxo hídrico do local, causando estiagem e seca em todas as regiões circundantes, às quais definham sem uma gota de chuva sequer.

Leva muito tempo, mas Crocodile consegue não apenas quebrar o espírito do reino, como consegue manipular o coração das pessoas. Alabasta é arrastada por um conflito rebelde, ou guerra civil, iminente. A corte se vê impotente frente a tragédia pela qual o seu povo passa, pelo sofrimento causado às custas de que aparentemente se entende como um golpe do governo que visa prosperar apenas a capital. Cegos pela situação degradante, o povo se volta contra o seu rei.

O objetivo de Crocodile é destituir a monarquia local, roubar os seus segredos em relação a arma de Pluton e substituir o governo assumindo o cargo que ficaria vago. Ele é um conhecido benfeitor local, um renomado personagem na região, tanto é que até mesmo o rei tem que reconhecer a sua influência.

 

 

A história da saga de Alabasta se apresenta como a saga de Vivi, a princesa local, que não apenas desvenda as ações maquiavélicas de Crocodile, como é obrigada a buscar ajuda externa perante uma situação que está completamente fora do controle do reino.

Baroque Works e seu grande líder, puxam as cordas do caos e jogam o reino na lama, o colapso de Alabasta é irremediável. Vivi consegue, entretanto, os aliados tão bem conhecidos, os protagonistas do anime em questão, os Mugiwara. Um auxílio não apenas pontual, mas uma amizade eterna.

Para finalizar esse artigo, vamos ao filme. Esse filme não pode ser entendido como um filme em estrito senso, mas sim um compilado, um recorte, ou mesmo uma repaginação nostálgica de uma saga central da obra. Sim, tem a duração de um filme, mas tem por ambição, e o cumpre, efetivar um resumo e espinha dorsal da saga como um todo. Ele conta de maneira simplificada, o roteiro que enreda Alabasta, o principal está apresentado, mas apenas isso. É uma obra que consegue sim emocionar, que funciona como um brinde aos fãs e conhecedores do universo, mas que se analisada metodicamente, apresenta uma pobreza de fluxo e um atropelo estilístico inevitáveis. Alabasta é uma saga de muita mais do que trinta episódios, é uma coletânea de eventos concatenados que tem por desfecho um processo grandiloquente de clímax e conclusão, não tem como transpor tudo isso em um filme de pouco mais de uma hora de duração.

 

 

A proposta do filme é apenas estética, e nisso ele acerta, por embeleza e deixa uma marcante empatia em relação a beleza de certas ilustrações em relação a saga, e também é competente em se guiar pelo ângulo central, o da Vivi, e não o dos chapéus de palha, garantindo o protagonismo de um momento que é realmente só dela, é o seu reino, a sua casa, o seu povo que está à beira da mútua aniquilação. No entanto, infelizmente os Mugiwara são obrigados a participar, constituir e preencher o filme, o que, é claro, eles têm que fazer, e o filme tem que representar os eventos como aconteceram, mas isso quebra o foco dramático de Vivi, que é potente ao ponto de, mesmo assim, segurar com força a direção do filme como um todo.

No que tange a construção da empatia e da sensibilização, apresentação das motivações e adequada condução das relações dos personagens, o filme o faz muito bem, poderia ser bem melhor, mas não há como. O que impressiona então é exatamente o como o material base, a saga em si, é sólida e dispõem de uma grande quantidade de elementos fortes que elevam o filme apenas por estarem bem amarrados no fluxo dos eventos do mesmo.

 

 

Tudo o que esse filme peca acaba se devendo ao fato da simplificação e do acelerado ritmo com que tudo tem que se desvelar e concluir. Ele fica solto em relação às estruturas exigidas prévias, como a introdução da aventura, a conexão de Vivi e os chapéus de palha, e em relação ao aprofundamento da relação complexa que cada personagem, seja protagonista ou antagonista, tem junto a saga. Mas, novamente, isso é inevitável.

Concluo que esse filme é, em si, um filme ruim, mas um ótimo exemplo de como se apresentar e se vender a grandiosidade e a complexidade do material base que o sustenta, e ainda mais, o quanto o carinho pela obra está presente, e o quanto a proposta de ser um filme feito para os fãs é o norte que guia toda essa narrativa nostálgica de modo extremamente sincero e bem feito.

 

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