Foi mal, foi mal, negligenciei Dr. Stone essas últimas semanas e acabei acumulando vários episódios do anime para comentar, mas agora é hora de começar a pôr o anime em dia e que bom que foi com dois belos episódios nos quais pudemos ver o cenário da guerra de pedra ganhando ainda mais forma. Sem mais delongas, vamos falar sobre a ciência da gentileza!

Por incrível que pareça, o Taiju, que é sempre tratado como um cara sem muita inteligência, dá uma ideia boa para prosseguir com o plano do qual a Nikki decidiu fazer parte, a única coisa que me incomodou nesse trecho inicial (e que na verdade me incomoda um pouco no anime como um todo) é a mania que os personagens têm de tirar porcentagem do nada, é meio bobo, convenhamos.

Mas isso é algo menor, e com o plano do trio de infiltrados definido, nos restava ver como o Chrome e o Magma estavam se saindo contra o Ukyo. A decisão do Chrome se mostrou a mais acertada dadas as circunstâncias que ele mesmo bem esmiuçou para o público, quanto a isso não tenho o que comentar, mas só eu que fiquei confuso sobre o tempo dos acontecimentos? Não deu a entender que o tempo não bate?

Por exemplo, o Chrome foi capturado e logo se encontrou com o Tsukasa, sendo que mais ou menos na mesma hora o Magma já estava contando tudo para o pessoal e o Senku começava a construir o motor. Aliás, a ideia de fazer um motor para criar um carro foi sensacional e justifica o título do artigo, mas sobre isso escreverei mais a frente.

O motor a vapor de cilindro oscilante foi apresentado de maneira um pouco didática, mas nenhum pouco chata, e facilitou que o público enxergasse ser possível algo que para nós parece complexo demais dado ao que estamos acostumados. Conhecemos carros com motores complexos e muitas outras tecnologias quando tudo o que se precisa para emular a função primária do carro é um motor e um chassi.

E foi nisso que o Senku focou, em eficiência acima de tudo, para poder ir ao resgate do Chrome logo, mas também por outro motivo que comentarei mais a frente. A ideia do carro foi muito geniosa e nos mostrou mais uma vez que o trabalho de pesquisa para a obra é animal (mesmo que nem tudo ocorra igualzinho ao anime, ainda assim, não existe “fantasia”), aliando o processo científico mais básico a criatividade.

Voltando ao Chrome, a boca grande dele o colocou em perigo, e se pensarmos que o falta experiência de vida, malícia, inteligência emocional para lidar com situações tensas; é compreensível que tenha se empolgado ao ver a cara do Tsukasa, assim como é compreensível que o vilão, por mais negacionista que ele possa ser, não tenha interesse em matar o Chrome, por saber que o Senku é quem o confronta ideologicamente.

Com o Senku fora do páreo quem sabe ele poderia usar os cientistas vivos a favor do seu plano, né? Mas a gente sabe que isso não vai acontecer, obviamente, e que isso também vai se dever aos interesses de seus próprios lacaios, afinal, a Nikki já virou a casaca e o Ukyo omitiu (na verdade, distorceu) fatos com algum interesse que não é o mesmo do Tsukasa. No fim, a liderança dele não é absoluta.

Aliás, nenhuma é, ainda mais quando a pessoa a obedecer percebe que quem está no comando é racional para umas coisas e irracional para outras. Não lembro o que o Ukyo quer (já li esse arco todo no mangá), mas tenho a impressão de que tem a ver com a ciência e é algo que ele sabe que não vai conseguir se só trabalhar em favor do que quer o Tsukasa. Esse conflito de interesses diversos torna tudo mais interessante.

Para fechar o quarto episódio, vemos a turma da ciência conquistar o motor a vapor tendo uma bela (e nova) música instrumental de fundo. É de se destacar também a ideia do motor ser a vapor e como ela pareceu viável com o que Senku e os outros tinham a disposição, mas não faço essa observação para indicar que tente fazer isso em casa, apenas frisar que quando o negócio é ciência a obra não força (tanto) a barra pelo roteiro.

O nascimento do Steam Gorilla foi regado a muita zoeira e abriu os trabalhos no quinto episodio, o qual mais uma vez não me agradou quanto ao tempo dos acontecimentos, mas ao mesmo tempo reconheço que esse é um detalhe que podemos deixar de lado em prol de, por exemplo, destacar a atitude dos velinhos, os quais, reconhecendo a gentileza do Senku em construir o automóvel para levá-los, decidem ficar na vila.

E nem houve o discurso clássico de não querer deixar a própria casa, o roteiro focou na ideia de que eles confiavam no sucesso da empreitada do Senku, trabalhando com a percepção de que para isso o ideal não seria que eles ocupassem o espaço e sim o deixassem para os aparatos úteis na luta. Esse tipo de coisa não passa a sensação de que a gentileza do Senku é retribuída mesmo sem ele precisar dizer ou pedir nada?

Aliás, o Senku não é um cientista muito prático, mas também muito gentil? Ele não é frio, o lance é que ele disfarça bem, e sei que já escrevi sobre isso antes, mas é sempre bom frisar como nas pequenas coisas, ainda que a gente só note se for falado em voz alta, isso acaba ficando evidente. É até por isso que o Senku não pensa em criar um “novo mundo”, mas despetrificar as pessoas e restabelecer a sociedade.

Senku sabe que é apenas um humano, que não deve decidir quem vive e quem morre, e muitos menos decidir que rumo as pessoas que forem despetrificadas devem dar a sociedade em reconstrução. O mesmo não se aplica ao Tsukasa, mas também não acho que ele mataria gente que não foi petrificada, selvagem. Seria uma afronta a sua lógica, pois o que ele abomina são as pessoas de mentalidade viciada do mundo antigo.

Enfim, a investigação da Suika dá frutos e o paradeiro do Chrome é descoberto, então eis que ele percebe que se fugir deve ajudar mais seus companheiros, o que ele demorou um pouco a perceber para quem é tão inteligente. Aliás, inteligência para a ciência é uma coisa, sagacidade para sair de situações complicadas outra. O Chrome é muito sincero e se por um lado isso é uma virtude, por outro pode ser um defeito.

Por isso o Chrome teve dificuldades nesses dois episódios, mas ao mesmo tempo também foi o que fez o Tsukasa reconhecer o valor dele e, por tabela, decidir não matá-lo, além, é claro, da ideia de ter um refém do Reino da Ciência e com ele atrair o Senku e sua trupe não ser ruim. Mas é aquilo, né, fazer isso com quem trabalha para ele escondendo coisas dele abre muita brecha para que os planos do Tsukasa sejam frustrados.

Voltando ao Senku e seus seguidores, a zoeira com o papel realmente espanta por quão inusitada a ideia é se apenas parcialmente explicada. Eu não sabia que dava para produzir fibra de carbono (ou ao menos improvisar uma) de forma tão fácil, não fazia ideia, mas mais uma vez Dr. Stone nos presenteou com ciência alternativa. Ou melhor, com ciência que se vale de métodos e materiais alternativos para alcançar o mesmo fim.

Esse é com certeza um dos principais chamarizes do anime, enquanto uma das observações mais repetitivas e necessárias a se fazer é “não repita isso em casa”, mesmo se o perigo oferecido pela produção da fibra de carbono não for exatamente grande. Um perigo que já é grande com certeza é o do Tsukasa, ainda mais quando ele consegue não só ser seu brutamontes favorito, mas também um estrategista de não se jogar fora.

Por fim, o Chrome vai conseguir fugir ou antes disso o tanque da ciência vai invadir o Império Tsukasa? O quanto as ações da Nikki e do Ukyo podem prejudicar o Tsukasa? Como exatamente o conflito vai se desenrolar? O quanto cada um será capaz de abrir mão a fim de resolver tudo? São respostas para os próximos episódios, o importante é que até essa altura da jornada o anime segue de vento em popa. Concorda?

Até a próxima!

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