Para quem estava com saudades da magia sonora trazida pelos diferentes instrumentos da cultura japonesa, eis que a Temporada de Abril nos apresenta Those Snow White Notes – Mashiro no Oto, no original -, um drama cujo protagonista toca o diferente shamisen e segue numa difícil busca pelo som perfeito.

Como alguém que gosta de música e que curtiu bastante Kono Oto Tomare, era mais do que um dever eu dar uma olhada nesse, até porque os dois instrumentos tem um som parecido e ambos são de corda – os meus preferidos para tirar um som gostoso de ouvir.

O shamisen para quem não conhece, possui 3 cordas e é amplamente conhecido no Japão, pela sua versatilidade e capacidade de produzir vários timbres diferentes com essas poucas cordas. Normalmente é mais utilizado em apresentações teatrais, mas ao longo dos anos a evolução do instrumento gerou criou novos estilos de toque, como o “tsugaru”, que inclusive é um dos abordados nesse anime.

Indo para o enredo, Setsu é um garoto que cresceu admirando todo o talento musical do avô, aprendendo dele o máximo que podia, mas para o desgosto do velhinho, da forma errada. Se tornando uma cópia fiel de seu mestre, o rapaz acabou não desenvolvendo um estilo próprio e isso criava um incômodo.

Embora tenha um talento natural e um forte desejo pela música, ele nunca conseguiu se desvencilhar da sua admiração cega e isso fazia com que seu avô temesse pelo futuro, inclusive, apesar de ser uma fala pesada para o momento, consigo entender a aflição do homem ao pedir que ele parasse de tocar depois que ele partisse.

Se aquele som era tudo para o garoto, o que seria dele se o dono do mesmo não pudesse mais tocá-lo? Se um dia ele quisesse se orgulhar do seu som, o que apresentaria? Uma cópia barata? Onde estava a identidade dele, aquela coisa que só quem toca de verdade tem e que passa a amar conforme desenvolve? Pois bem, imagino na mente do pobre senhor todas essas eram questões recorrentes.

Infelizmente com a morte dele, sua aflição se confirmou e o Setsu “se perdeu”, não conseguindo escutar o som que lhe trazia tanta alegria. Engraçado que só por aqui eu consigo catar várias semelhanças entre ele o Chika – protagonista de Kono Oto Tomare -, pois ambos tinham uma personalidade um tanto difícil, muito talento e uma forte ligação com seus avôs e o instrumento em questão.

A fuga para Tokyo foi um movimento inesperado, mas confesso que gostei da forma acelerada como as coisas aconteceram, porque certos acontecimentos se fossem enrolados ficariam perdidos ao que deve importar aqui – quem ver vai entender -, e isso inclui alguns dos personagens apresentados.

A Yuna por exemplo, me pareceu uma personagem bem interessante e que gostei de cara pela sua personalidade. Ela apesar de ser forte e independente, no seu interior se sentia perdida e vazia, igual ao protagonista, por conta das várias oportunidades perdidas e sonhos não realizados.

Como se não fosse suficiente, ela ainda tinha uma relação abusiva com o namorado músico, que além de péssimo, desconhece o significado da palavra esforço. Não sei o que o anime pretende fazer com esse rapaz, mas confesso que fiquei um pouco reticente com a permanência dele junto ao Setsu – isso depois de várias besteiras que fez.

Achei uma pena que a Yuna pouco irá brilhar – ao menos considerando a viagem feita, e daí o meu comentário anterior sobre o ritmo acelerado -, mas fiquei satisfeito que o encontro dos dois pode construir pontes para ambos, afinal aquele contato miraculoso, não só tirou o Setsu de seu coma interno, como resgatou a vontade de lutar da moça, que ao ouvir o seu som, decidiu dar um giro na vida.

Quero também acreditar que, assim como o instrumentista foi importante para a nova amiga com apenas poucas semanas de convivência, ele também sera para o Taketo, quem sabe o ensinando algo sobre como ser uma pessoa e um artista melhor. Por outro lado, o músico tem alguma razão no que apontou sobre o jovem, então será que a idiotice dele também teria alguma utilidade aqui? Fica a dúvida.

O episódio deixa um gancho que é a nova personagem, uma mãe bem diferentona – denunciada criminalmente pela sinopse, que podia nos deixar intrigados – e me parece que essa sim vai revolucionar o mundo do protagonista, que com o empurrão certo, eventualmente acabará encontrando o caminho do seu próprio som e soltar as correntes com as quais se prendeu a técnica do avô.

No geral gostei bastante dessa estreia, porque mesmo tendo um ar sério, ela consegue se manter leve e dinâmica. As partes em que o Setsu e seu avô tocam são ótimas, tanto em som quanto em animação, que por sinal me chamou atenção pelos designs legais e especialmente pelo empenho na hora de cada performance – que ficaram mais fluidos e detalhados do que eu esperava. No restante das cenas ela permanece apenas ok, mas para uma obra parada, isso não deve influenciar no resultado, até porque como já disse,

Acho que o shamisen é bem interessante de se explorar e a sua expressividade mesmo com poucas cordas é fascinante, me identifico com a Yuna, quando ela se emocionou com a música do Setsu. No mais a linha do drama pessoal parece bem traçada, ficando minha curiosidade a cargo dos outros personagens e as suas problemáticas – o que também não deve fugir do que vimos no outro anime já citado.

Se você gosta da temática musical – com o brinde de um drama decente -, esse me parece um ótimo candidato para seguir na temporada, principalmente por explorar algo importante dessa cultura que tanto apreciamos e novo ao nosso conhecimento, como é esse instrumento.

Agradeço a quem leu e até o próximo artigo!

 

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