O que dizer desse final de Neverland, hein? Eu gostei de 2/3 dele, quando o trio e alguns outros ficaram para trás e vieram as cenas sem qualquer contexto achei a coisa toda meio triste, com gostinho de total falta de cuidado com uma história que não rendeu só dinheiro, mas também foi bastante elogiada pelo menos até certo ponto.

Tinha como fazer uma roupagem diferente desse final para não passar essa impressão de “cancelamento” que é uma inverdade tremenda, apesar dos 11 episódios denunciarem a falta de preocupação dos financiadores com a narrativa. Ainda assim, houveram boas coisas nesse episódio, mas foi um pouco como eu falei no último artigo, que nada de realmente relevante iria acontecer.

E para jogar a última pá de terra veio o final feliz sem maiores consequências. Não que ter vivido uma vida de gado já não fosse suficiente, mas a maneira como ficou aberto, como pareciam e faltavam mesmo coisas, passa a impressão de que isso faltou, mais consequências. Infelizmente, a “tragédia” já estava anunciada e o final feliz veio, mas a que custo para nós?

Enfim, por que o perdão quase que indiscriminado da Emma é tão irritante? Porque as pessoas não querem ver o vilão ser perdoado por mais que ele possa ser considerado também uma vítima das circunstâncias. Acho até que era o caso do Peter Ratri aqui, mas tudo que ele fez e o papel que assumiu denunciavam que não faria sentido algum se ele fosse convencido pela argumentação da heroína.

Tanto é que ele não foi, acabou se matando vestindo a carapuça que assumiu, principalmente após matar o próprio irmão. Irmão esse que demonstrou uma hipocrisia boa ao assumir a identidade de Minerva e tentar compensar a traição do líder de seu clã, que fez o acordo usando os descendentes dos próprios aliados. Quando pensava que eram os descendentes dos inimigos ele não se revoltou, né?

Baita hipocrisia da parte dele, mas humanos são hipócritas, né, e o ponto nem é esse e sim que diferente do irmão, o Peter gostou da informação e abraçou ainda mais seu destino, ou aquilo que ele acreditava ser. Não adiantava a Emma tentar libertar alguém que não queria ser salvo, então pelo menos Neverland entregou isso (o básico, eu sei), pois eles darem as mãos seria ridículo.

Por outro lado, algo que também era fácil de prever, mas acho que merece até mais elogio, foi o perdão oferecido pelas crianças as suas Mamas. Não só pela Emma a Isabella, como a todas as outras que se sentiram acolhidas com as palavras da heroína. E sabe por que penso assim? Ora, é óbvio, como não perdoar a Isabella depois de terem perdoado o Ray, e melhor, como não estender a mão para alguém como você?

Diria até que a questão das Mamas foi explorada de maneira superficial pela falta de tempo, mas, sejamos honestos, que saída elas tinham? O que poderiam fazer? Se elas se recusassem seriam substituídas, no pior dos cenários as crianças seriam criadas sem qualquer cuidados ou mortas de uma vez, né? Não vi nenhuma Mama mais velha entre elas, mas em todo caso, não acho incoerente as crianças as perdoarem.

Poxa, são crianças, e crianças que foram criadas por essas mulheres, não tem como pedir para que elas reforcem continuamente esse ódio e não pratiquem o perdão, ainda mais para aquelas que entendem tudo que estava em jogo para os humanos naquele mundo. dos demônios. Dizer que perdoar a Isabella é forçado é que é forçar uma razão que não condiz com crianças inteligentes, mas emocionalmente dependentes.

Enfim, antes de partir para o fim meio sem gosto, gostaria de frisar a simbologia que o Phill traz a trama, afinal, ele foi deixado para trás na primeira temporada para facilitar os esforços da Emma e dos outros, enquanto na segunda ficou para trás no mundo humano para os protagonistas e alguns outros resolverem as últimas pontas soltas. Phill é o porto seguro, o trio de protagonistas a aventura.

Além disso, deu para perceber e se sensibilizar com a proximidade da Emma com ele. Aliás, da Emma com todos os seus irmãos. Inclusive, ela foi a arquiteta desse plano, diferente da primeira temporada em que apenas aceitou deixar as crianças para trás porque era a melhor escolha. A Emma amadureceu durante a jornada e percebeu que não bastava só salvar as crianças das fazendas e isso eu curti bastante.

O problema em si não era a intenção ou a ação, pelo contrário, boto a culpa toda na produção e na direção, uma por não dar boas condições para concluir um projeto que começou de forma tão bacana, a outra por fazer a pior escolha possível a fim de representar esse momento. O público do anime deve querer saber o que eram todas aquelas cenas, mas ler o mangá basta para entender após esse final original do anime?

Entende qual é o problema? A nova promessa que a Emma decidiu fazer nem foi o que ferrou, mas isso ser jogado na trama aos 45 do segundo tempo, sem tempo para mais nada. Até seria cabível se um tempo não tivesse sido gasto com essa jornada de o que, uma década? Daria para acabar com eles se despedindo no portão e então só reaparecendo anos mais tarde e esse já seria um fechamento mais decente.

Acabar com esse trecho que quis contar tudo sem dizer nada (ele no máximo nos permitiu especular, mas algumas coisas sem qualquer base) foi uma decisão bem infeliz, além de, repito, ninguém mais ter morrido, nada ter acontecido, tudo ter saído o melhor possível tirando os anos que eles passaram longe dos que escaparam primeiro. Neverland acabou como o conto de fadas que alguma hora ameaçou não ser.

Menos mal que no meio do caminho houveram coisas legais, a jornada da Emma, do Ray e do Norman não foi só esses defeitos todos e proveu alguns bons momentos, além de boas sacadas, o que pegou foi a falta de tempo e a falta de cuidado com algumas questões importantes para não só dar um fechamento mais coerente a trama, como também não passar a ideia de que foi tudo muito fácil.

Não foi exatamente por tudo que essas crianças sofreram para conseguir escapar, mas também não foi coerente que os peixes grandes do lado dos demônios tivessem ficado tão de lado enquanto o mundo governado por eles mudava meio que da noite para o dia. Teve até uma cena com o rei e alguns comparsas dele, mas para que aquela cena serviu se em nenhum momento os demônios antagonizaram em Neverland?

No final, acabou parecendo que eles foram mais um artifício de roteiro que qualquer outra coisa, além de que a maneira como o cenário girou 360° em tão pouco tempo não passa veracidade mesmo contando com o sangue amaldiçoado, o qual foi outro artifício de roteiro daqueles bem preguiçosos. Objetivamente o episódio final foi até aceitável em sua maior parte, mas seu toque final em nada me agradou.

Por fim, não acho que Neverland deve ser jogado no lixo por esse último episódio e nem por essa segunda temporada, mas é certo que nada se iguala a primeira e o equivalente dela no mangá, nem mesmo o mangá como um todo, que acabou sob uma chuva de questionamentos, os quais me fazem ir na contra mão de qualquer insatisfação pelo caminho da animação ter sido diferente.

Não foi ruim porque foi diferente do mangá, foi ruim porque foi meia-boca. Aliás, mesmo meia-boca, ainda achei essa segunda temporada e o fechamento da história digno de alguns elogios, mas é verdade que foi passível de mais críticas, além de ter acabado traindo qualquer expectativa por uma história mais séria que em algum momento a obra deu a entender que poderia ser.

Acabou que anos após se envolverem ainda mais no mundo dos demônios afim de reparar as pontas soltas deixadas pela revolução de fundo de quintal que criaram, nossos heróis voltaram para casa (ou melhor, finalmente conheceram a casa que sua família criou para eles) e tiveram o final feliz que mereciam. Porque a Emma, o Ray e o Norman, além de todas as outras crianças, mereciam um final feliz; só não sei se tão tranquilo…

Até a próxima!

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