O que esperar de um grupo de cinco fadas que tem a missão de coletar “apego” e salvar o coração dos humanos com problemas? Eu poderia dizer que esse seria o plot de um mahou shoujo infantil e fofinho, mas não, esse é o enredo de Fairy Ranmaru – ou longamente falando, Fairy Ranmaru: Anata no Kokoro Otasuke Shimasu -, que de fofo ainda não mostrou nada, pelo contrário, acho que sua proposta é tão nonsense que é mais fácil te causar espanto e atrair pela breguice e seriedade empregados aqui.

Antes de mais nada, acho que é importante fazer um pequeno disclaimer, para que muitos entendam como as coisas são na realidade. O Studio Comet começou essa empreitada no “mahou shounen” com Binan Koukou Chikyuu Bouei-bu LOVE LOVE! e desde então essa já é a terceira adaptação do gênero.

O que é comum a essas obras é o estilo paródia que utilizam, o humor sarcástico e a intenção trash e debochada ao usar os garotos mágicos – se assim posso colocar -, portanto se você realmente vai assistir um anime como esse esperando que ele carregue heróis cheios de profundidade, um roteiro rebuscado com dramas pelos quais eles precisam passar, esqueça porque não é essa a intenção. Coloque na cabeça que a ideia é viajar e não levar toda a “purpurinagem” e o exagero a sério.

Na verdade alguns deles até tecem certas críticas sociais, mas de forma muito rasa, justamente pelo foco mais pastelão da história e aqui Fairy Ranmaru me surpreendeu por parecer que quer investir uma graminha a mais nessa coisa mais psicológica e nas mazelas da sociedade. Pode ser que daqui para frente o anime foque só na paródia e eu me engane, mas essa estreia me fez crer que em algum grau ele pode se diferenciar – para o bem ou não – e explicarei isso.

A rainha das fadas recruta 5 de seus súditos para cumprirem a missão de salvar a terra, com cada um vindo de um clã elemental diferente e sem qualquer vínculo prévio. Achei curioso o fato de mostrarem que outras fadas habitam a terra de forma disfarçada e como cada uma leva sua vida desde que não descumpra as leis de seu povo.

Ai é uma fada da luz e sua personalidade sem graça e blasé, acaba escondendo o potencial que ele possui enquanto parte do clã mais poderoso, os outros seguem mais ou menos os clichês esperados e já vistos em seus parentes, temos o ganancioso (metal), o que preza a beleza (água), o agressivo fortão (fogo óbvio) e o bobinho gente boa (terra). Por hora não houve ninguém que de fato me chamasse a atenção, mas acho que isso deve mudar, conforme a história se desenvolva e eles compreendam a missão que receberam.

Acredito que o anime teve forte inspiração no budismo, por trazer nas fadas os preceitos que são pregados nele, eu não conheço muito sobre a religião, mas percebi a referência e pesquisando verifiquei que realmente é compatível. Por aqui já vemos que eles começam por um caminho diferente e isso fica muito claro com os questionamentos que os próprios tem em relação ao que seria amor, apego, todos esses sentimentos que devem proteger, além do desenvolvimento do problema do dia.

A garota que Ai salva, sofre bullying por parte de uma colega que a odeia por ter perdido o namorado, com isso ela realmente começa a ser afetada pelos ataques e quase se mata, sendo esse o momento em que percebi que o anime mesmo se levando na galhofa, queria adicionar alguma seriedade a mais nas críticas sociais que viesse a abordar – o que não acho necessariamente ruim.

A vilã inimiga dela também foi um caso interessante, pois diferente da ideia de monstro do dia que aparece, ataca, é derrotado e volta ao normal, ela mostrou um empenho fortíssimo em abater a fada por pura inveja, através das criações feitas pela sua mente perturbada, ou seja, não tinha um vilão se aproveitando dela e implantando sentimentos, ao contrário, o chefão apenas observa de longe como a humanidade é podre e não move um único dedo, mostrando que a maldade está nas pessoas – o que também é uma forma legal de criar obstáculos para os protagonistas.

Depois de vencida, gostei de como o anime libertou a primeira e não aliviou a barra da outra moça, permitindo que ela sofresse as consequências do mal que estava causando, afinal como diz o ditado, você colhe aquilo que planta, ela semeou ódio, vai colher ódio, é justo. O vilão principal embora enigmático mostrou pouco, mas assim como ele, a rainha também é cercada de mistério e dúvida, no que não sei se ela é tão confiável assim quanto eles acham – a cena final dela me fez repensar.

Olhando esse caminho, Fairy Ranmaru se mostra até mais sério e curioso do que parece, mas aqui e agora quero pontuar o que me fez ver que a essência farofeira ainda está lá.

As transformações cheia de brilho, cores, detalhes, a trilha sonora com as musiquinhas de batalha tanto instrumentais, quanto cantadas, meu Deus que coisa brega – mas eu adorei aquilo. Ao ver esses trechos eu percebi que ainda estava “em casa” com esse tipo de obra, espero que isso não se perca caso o anime realmente decida se levar a sério, até porque parte do sucesso que sustentou os outros animes, foi exatamente o modo como abraçaram as bizarrices que incluiam, as referências e a comédia bem sutil inserida nelas.

Tecnicamente a produção está legal, colorida como tem que ser, consistente, então nesse quesito acho que não teremos muito o que reclamar, inclusive vale uma menção ao design do mundo interno das garotas problema – que chamou a atenção pela composição bem dramática e distorcida. Nos resta saber se a história vai conseguir seguir um ritmo bom com essa mistura entre o bobo e o sério, para valer a viagem na qual eu já embarquei pelo absurdo e suas peculiaridades.

Agradeço a quem leu e até a próxima!

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