Não sei se o Shinso vai virar mesmo um herói, só que ele voltou a trama nesses episódios e pretende realizar seu sonho, mas para isso vai ter que mostrar serviço no treinamento de aspirantes a herói da turma A e B, e posso dizer que entre defeitos e dificuldades, é inegável o potencial de sua individualidade, claro, se bem explorada e combinada.

Ele não mostrou muito além dela, mas é muito provável que o Deku o impulsione a isso. É muito conveniente um personagem que já despertou alucinações no protagonista antes reaparecer justamento agora que ele voltou a tê-las, mas, convenhamos, a situação foi toda bem amarrada para nos convencer, além de terem sido dois belos episódios. Sem mais delongas, terá sido essa a volta do que vai ser herói?

Antes de falar do Shinso, tem a conversa do Deku com seu mentor e a certeza de que o garoto tem aquele poder do protagonista chamado “isso só aconteceu comigo, entre todo mundo que é especial”. Entretanto, faço a ponderação de que as circunstâncias do Deku acabam me fazendo ver sim sentido no sonho que ele teve. Por quê? Porque ele é o primeiro sucessor do primeiro símbolo da paz.

Digo, a ideia que nos é apresentada é de que o All Might foi o primeiro a se tornar esse símbolo e, como tal, angariou ainda mais para si o antagonismo do All for One. Além disso, o vilão nunca esteve tão frágil antes (está preso e deixou a missão de ferrar com o mundo para o Shigaraki) e a individualidade talvez nunca tenha sido tão “pensada” como é pelo Deku.

Sendo assim, consigo comprar a ideia de que os vestígios deixados no One for All estejam gritando para ajudar o Deku em sua jornada a fim de deter o grande mal que criou esse grande bem (que vacilo, hein, senhor All for One). Porém, é inegável que o timming todo está perfeito demais, após o confronto com o Gentle e antes da volta do Shinso, mas para isso podemos dar uma colher de chá, né?

De outra forma, como o desenvolvimento narrativo se aliaria, como está na cara que vai acontecer, né? Porque, apesar do desenvolvimento do Shinso enquanto personagem parecer uma questão a ser trabalhada, está na cara que o objetivo principal é fazê-lo se defrontar com o Deku e usar a individualidade do garoto para estimular mais desse novo cenário que se apresentou para o protagonista.

O All Might falar que os sentimentos dos portadores são passados entre gerações, e que dado o sonho do Midoriya ele deve poder acessá-los, dá a entender que nosso herói se aproxima cada vez mais de um ponto de virada em seu desenvolvimento como herói, principalmente no que se refere a sua individualidade. Mas como exatamente isso se dará? O que a mão emanando poder do Deku significa? Ela e só um começo?

Isso só veremos nos próximos episódios. Aliás, certamente veremos no confronto do grupo do Deku contra o grupo da turma B + o Shinso. Foi por isso que o garoto controlador de mentes retornou a trama, ainda que seu desenvolvimento como personagem não seja insignificante. Nem o do pessoal da turma B é, mesmo que a ideia de que melhoraram seja passada sem dar vazão a uma construção narrativa dos personagens.

Não que eu achasse que deveria, convenhamos, nem a moçada da turma A tem esse desenvolvimento todo tirando quem têm individualidades de combate e não é uma garota. É sério, até o emo lá do Big Three teve um razoável desenvolvimento como herói em meio a um combate e a gente não vê nada na mesma dimensão com a Uraraka ou a Asui, nem mesmo a Momo que tem mais potencial para a luta.

O ponto da minha reclamação é, as garotas só vão ser “desenvolvidas” fora do espectro do heroísmo mesmo? Como foi com a Jiro cantando e a Uraraka cada vez mais dando bandeira de que está apaixonada pelo Deku? Me corrigindo, não precisa necessariamente que elas tenham seus grandes momentos em batalha, mas fazendo papel de heroína já bastaria; sem ser em grupo ou treinamento.

Aliás, por que eu estou falando disso quando não tem a ver agora, né? Me exaltei um pouco, desculpe. Mas a verdade é que não tem tanto o que comentar sobre a segunda metade do episódio, é só chover no molhado que foi conveniente onde o Shinso foi encaixado, mas, por outro lado, a ideia de que ele poderia ser tanto um fardo, quanto uma ajuda por ser um a mais também é digna de nota.

E é isso o que me deixa fula com o Horikoshi às vezes porque ele sabe construir uma narrativa convincente em seus mínimos detalhes, mas meio que se “sabota’ em momentos chave. Felizmente, não foi o que ocorreu nesses episódios, principalmente no segundo após a ótima atuação da Asui e do Kaminari e a maneira perspicaz como a individualidade do Shinso foi usada. Mas já eu chego lá, só uns instantinhos…

Outros pontos dignos de nota, dessa vez mais técnicos, foram a trilha sonora e a animação, principalmente o primeiro, apesar do segundo também ter sido bastante consistente (só que o anime é assim em sua maior parte). Tanto no terceiro, quanto no quarto episódio me peguei apreciando as faixas e me empolgando com trechos que normalmente não me animariam. Foram episódios muito divertidos por isso também.

Para fechar meus comentários mais focados no terceiro episódio (deixei acumular para dar prioridade as primeiras impressões da temporada), adorei a ideia do Persona Code e do Shinso usar as faixas “vivas” do Eraserhead. Para começar foi uma maneira bacana de equipar o mínimo o personagem para que ele possa ao menos competir com a galera do curso de heróis. O que ele fez bem ou mal feito?

Eu gostei bastante de como mesmo o Shinso demonstrou certa evolução em comparação ao estágio em que se encontrava quando apareceu na história. O mesmo vale para a galera da turma A e para a galera da turma B, mas o caso dele é ainda mais interessante porque nem do curso de heróis ele é, né, além de que ainda terá uma nova oportunidade para mostrar mais.

Porque, por exemplo, ele usou bem as faixas, mas acho que ainda pode usá-las melhor, e não ficou claro se foi combinado, mas a ausência de uma conversa sobre isso dá a entender que o xeque-mate no time adversário se deu mais por astúcia da Tsuyu e oportunidade que por méritos dele. Não que a ideia por trás dos acontecimentos perda valor por isso, diria até que é o contrário, pois o encaixe foi perfeito.

Entretanto, é inegável que o plano do primeiro time da turma A só deu certo por falhas do time adversário, principalmente uma que geralmente é um artifício de roteiro dos mais preguiçosos, a boca grande de algum personagem que fornece informações desnecessárias ao inimigo, as quais acabam por prejudicá-lo em um momento futuro da trama. É sério, a besta foi uma besta quadrada ao fazer isso.

Por exemplo, o Shinso poderia tê-lo forçado a falar usando sua individualidade, o que tornaria a atitude dele compreensível e daria maior utilidade ao uso do controle mental que ele tentou fazer naquele momento. Eu entendo que a intenção era mostrar um confronto no qual o time da turma A fosse superado antes de mostrar o contra-ataque vitorioso, mas as falhas do Shinso nesse comecinho foram um tanto gritantes.

Ele não só usou seu poder para nada, como não conseguiu deter ninguém a acabou capturado. Por outro lado, foi a primeira experiência de conflito mais real, e ainda mais em grupo, do garoto, então eu compreendo que ele tenha mandado mal nela, o que achei preguiçoso foi não ter aproveitado isso para justificar o entreguismo da besta quadrada e fazer um meio-termo para a melhora dele na hora do contra-ataque.

Apesar de que nem acho que ele foi tão incrível assim na segunda metade, o lance é que com ou sem a intenção a individualidade dele foi bem melhor explorada do que havia sido antes porque, por exemplo, não vi como ele se safaria do ataque da besta não fosse a interferência da Asui, então sim, ele foi encurralado, o barato é que mesmo essa fraqueza em seu poder pôde ser explorada.

Quando o Shinso usa sua individualidade e controla a mente de alguém isso gera um sinal de alerta em quem coopera com o controlado, cortando a fluidez na comunicação entre os do grupo, algo que poderia ser superado se, por exemplo, eles tivessem pontos eletrônicos ou entrosamento e abertura o suficiente para se comunicar sem falar. Não foi o que aconteceu com o grupo da menina cipó, né?

Aliás, acho a caracterização dela como alguém pura como uma árvore bem bobinha, mas, obviamente, isso é não é relevante aqui, apesar de ser meio previsível demais, como os nomes dos personagens, que dão a entender que os país já sabiam que poderes eles tinham ao nascer. Não era só a partir de uma certa idade que a individualidade se manifestava? Em todo caso, o que vale nota foi o contra-ataque da moçada da turma A.

A Asui e o Kaminari foram muito perspicazes com o plano que botaram em prática e foi ainda mais legal que tenham o bolado em meio a correria e com uma razoável margem de liberdade para a improvisação, ou melhor, sem definições detalhadas que quase nunca parecem convincentes, ainda mais se os personagens se encontram com a adrenalina a mil e podem ser atacados a qualquer hora.

Além disso, foi muito legal ver a Asui lutando com as armas que ela tinha, sem perder de vista seus limites, mas sem se deixar deter por eles também. O Kaminari fez um estragozinho do bom, mas, convenhamos, a vitória só veio pela ousadia e inteligência da Asui. Só acho uma pena, repito, que esses momentos de personagens femininas não ocorram quando a coisa é realmente séria, como no arco do Overhaul, por exemplo.

Voltando a “revanche”, não sei se foi a intenção de um deles, do Shinso e da Asui, ou dos dois, mas a ideia de usar o Shinso como isca foi muito boa porque explorou a fraqueza da individualidade dele, já que enquanto a besta focava em derrotá-lo para libertar a menina cipó, perdeu a noção do entorno e deu as costas para um ataque inimigo que veio justamente quando seu adversário parecia completamente encurralado.

A contramedida para a individualidade do Shinso acabou trabalhando contra a galera da turma B, que foi derrotada em um ataque arrasador no qual, felizmente, nem tudo correu perfeitamente também (o carinha das escamas se tocou do disco, né?), dando o mínimo necessário para o telespectador ver ali a capacidade de adaptação e improviso do pessoal da turma A, além da cooperação com um elemento externo ao grupo.

Teve seus erros, mas no geral a situação construída foi, em sua maior parte, bem escrita e proveu embates um cadinho empolgantes. E eu não sei se você percebeu, mas o Gentle Criminal do arco anterior era um aspirante a herói que virou vilão sem nem ter uma individualidade “vilanesca” (o que é um preconceito, eu sei), enquanto o Shinso pode ser um Gentle que vai dar certo. Aliás, eu espero que seja.

Em todo caso, o que queria destacar aqui é o contraste, o qual destaca ainda mais a dificuldade e magnitude da posição em que o Deku e seus companheiros do curso de herói se encontram. Para desabrochar ainda mais esse crescimento ele vai ter que lidar com os vestígios do passado do One for All e para tanto o Shinso certamente desempenhará o seu papel enquanto tenta agarrar a sua chance, o seu lugar ao sol.

Por fim, foram dois episódios que se complementaram e me divertiram bastante, apesar das ressalvas que fiz (algumas mais pertinentes que outras nesse ponto da trama). Espero bons confrontos entre os outros times, mas a gente sabe qual vai ser o mais importante, o que foi guardado para o final, o “acerto de contas” entre o Midoriya e o Shinso, que tem tudo para ser um momento relevante na trajetória dos dois.

Até a próxima!

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