Nunca o título da obra fez tanto sentido. Os patriotas se revelam e eles estão cada vez mais próximos de alcançar os seus objetivos. Principalmente agora que possuem uma nova integrante.

Mas vamos ao episódio. Logo de início temos a continuação da encruzilhada em que a Irene se encontrava. Confesso que gostei da conclusão que a personagem teve. A sua relação com o Holmes foi muito bem construída e gostei da ideia de torna-la integrante da organização do lorde do crime.

Ela é uma personagem muito boa e que tem um grande potencial para ser aproveitado. Além de ser realmente muito útil. Estamos falando de uma atriz talentosa com habilidades perfeitas de disfarce. Ela será sem dúvidas uma peça valiosa para o Moriarty. Mas convenhamos, James Bond? Eu não consegui conter a gargalhada nesse momento.

Mas tudo bem, é apenas algo ridículo. E nem mesmo ridículo é uma palavra que descreva corretamente o que foi esse episódio. Patético é como eu descreveria todos os acontecimentos aqui vistos. A começar com o seu maior problema: tudo foi muito fácil. Deu para sentir a tinta da caneta do roteirista escorrer pela tela. Tudo foi feito para corresponder com o que o autor queria fazer, tornando todo o episódio artificial, ilógico e fácil.

Podemos notar esses acontecimentos com exatidão ao dividi-los nos dois planos do Moriarty. O primeiro deles visava negociar com o Sherlock enquanto o segundo visava negociar com o Mycroft. O primeiro deles é por sua vez simplesmente uma negociação inútil.

O Moriarty não precisava de forma alguma negociar com o Sherlock. Por quê? Me responda, o que foi que o Moriarty ganhou com essa negociação? Exato, os papéis e a Irene Adler. Mas note que ele não precisava ter negociado com o Sherlock para obter ambos.

Mas nada se compara com o seu outro plano. Ir até o seu maior inimigo e revelar a sua identidade. Pior ainda foi o desfecho dessa negociação. O Moriarty que matou diversos nobres poderá continuar com os seus atos por ser um “patriota”?

Claro que eles possuem um documento que pode ser usado como moeda de barganha, mas o que aconteceu lá não foi uma ameaça. Não, foi de fato um acordo baseado em confiança! E aliás, note a incompetência do anime ao observar a pessoa por trás desse acordo, Isto é, a própria rainha.

O anime quer me fazer acreditar que a nobreza são um bando de corruptos que oprimem todo um povo, quando aqui, eles entram em acordo com a representante máxima dessa mesma nobreza. Não faz sentido.

Uma coisa bem ousada foi feita pelo anime aqui, que é uma alteração da própria história a partir de um elemento ficcional. Para entender o ponto antes de tudo é necessário separar aquilo que é factual daquilo que é fictício. E aquilo que o anime aqui alterou foi a pessoa do Robespierre e as suas motivações.

Aqui Maximilien Robespierre na verdade se chamaria Sherringford Holmes. E para quem ficou curioso se era um personagem existente ou não, saiba que meio que é isso mesmo. Pois ele nada mais é que a primeira versão do detetive Sherlock Holmes. E convenhamos, o nome “Sherlock” ficou muito melhor.

Voltando ao Robespierre agora, note que temos duas coisas para comentarmos aqui. A primeira é a conclusão de sua pessoa como um herói e a segunda é a própria coerência de suas ações. Ver Robespierre como um herói pede que suas ações ou as consequências delas sejam vistas como algo positivo. As ações são meio difíceis de defender, tanto que o anime nem tentou. Então o foco recai em suas consequências.

Já a segunda carece de informações e evidências. De início o Robespierre é dito apenas como um agente realizando sua missão, e depois o anime tenta apresenta-lo como um indivíduo realizando os seus próprios objetivos. Como uma coisa virou outra? Não sei, mas tão pouco vi uma justificativa para tal transformação.

Uma pequena pausa para contemplar essa beldade

Contudo, voltemos ao Robespierre como herói. O Moriarty de fato se espelha em sua pessoa. Claro que temos o personagem fictício aqui construído, mas não faria diferença se fosse o histórico. Já que ainda que os documentos revelem as suas intenções, aquilo que o Moriarty busca reproduzir é o resultado.

Então podemos concluir que, de fato, se trata de uma interpretação histórica. E que… eu não vejo como funcione. E para entender isso temos que olhar para a própria história da França.

Mas antes eu pergunto, o autor teria se dado ao trabalho de se perguntar sobre os acontecimentos pós-revolução? Eu acho que sim, o foco em temas históricos e a boa ambientação (principalmente estética) da Era Vitoriana nos permitem supor que o autor tem um bom conhecimento da história europeia moderna e contemporânea.

Então ele sabe que depois de todos essas execuções, caos e desordem social as coisas só voltarão a normalidade com Napoleão Bonaparte. Ou seja, uma monarquia absolutista altamente militarizada que ainda guerreará contra a Europa inteira. Não basta cometer os seus erros, ainda é necessário leva-los para o resto do continente.

Então temos um sujeito que explicitamente se inspira no Período do Terror que foi catastrófico para a história de uma nação, e que além de ser um período repleto de morte e caos ainda como consequência trouxe mais mortes, caos e destruição mesmo após o seu fim com as Guerras Napoleônicas.

E nós temos que aceitar que esse sujeito é um patriota? E que essa sua intenção tem agora o apoio da própria coroa britânica que é a representante máxima da aristocracia que o Moriarty chama de “os demônios”? Se você se convenceu, tudo bem, mas eu não.

No final das contas, Moriarty: O Patriota nos obriga a fazer um esforço colossal para aceitar os seus acontecimentos como algo natural, mesmo que na prática sejam completamente artificiais. Esse episódio em especial foi um grande show de artificialidades. Mas nada de novo vindo desse anime. Um episódios terrível para um anime terrível. Até mais.

“Boa noite, sr. Sherlock Holmes” – Irene Adler

E aqui fica uma curiosidade: aquela cena em que a Irene Adler passa pelo Sherlock e diz “Boa noite, Sr. Sherlock Holmes” é uma referência à cena final do conto Um Escândalo na Boêmia. Nela, após perceber a tentativa do Holmes de descobrir o esconderijo da fotografia ousa passar por ele disfarçada logo antes de fugir com a fotografia em sua posse. O detetive nota se tratar de uma voz conhecida, mas só saberá quem era a pessoa ao ler a carta deixada pela própria Adler no local em que a fotografia deveria estar. No fim, Irene engana o grande detetive que passa a admirar a sua pessoa. É por isso que ainda que Holmes nos livros a chame de “a mulher”, a sua admiração é apenas quanto às suas capacidades intelectivas e não no sentido romântico.

Comentários