Começar com o All For One sentindo a presença do irmão no Deku foi bem legal e deu um indício do que será o segundo arco dessa temporada, mais focado no contexto maior da treta entre a Liga e os heróis do que na escola, o que serve para a gente lembrar que nosso pequeno gafanhoto é uma peça crucial a um tabuleiro bem maior no qual os problemas do herói encarregado de salvar a todos têm total relevância.

Além disso, a Uraraka e o Shinso tiveram participações cruciais para a volta a normalidade após o caos que o Deku criou, o que pode mesmo assim não ter encorpado tanto seus desenvolvimentos, mas com certeza os tornou um pouco mais interessantes e demonstrou mais de seus amadurecimentos. Quem salvará o herói que salva a todos? É atrás de responder essa pergunta que vamos falar de BokuAca no Anime21!

Antes de falar do embate derradeiro esse arco, acho importante esclarecer alguns pontos sobre a conversa do Gran Torino com o All Might. Como o antecessor do Deku que aparece para ele mesmo diz, o poder foi acumulado com o tempo e nele estão contidas as individualidades dos portadores anteriores ao All Might e o Deku, e isso faz sentido se pensarmos justamente nisso, no conceito de acúmulo de poder do One For All.

É claro que é muita coisa de protagonista esse lance de só com ele “chegar a hora” das individualidades se revelarem potencializadas, mas se a gente for puxar pela memória toda a jornada do Deku para dominar o poder (sendo que ele ainda nem o dominou por completo) e a própria experiência anterior do All Might, de só usar o OFA e nenhuma das outras individualidades, eu entendo a coisa se “agigantar” justo com ele.

Ele aprendeu a usar o OFA com muito mais sacrifício e dificuldades que o All Might, há muito mais urgência para seu aprendizado e desenvolvimento e ele é o segundo caso de portador que não tinha individualidade para começar. Deku é o herdeiro que mais precisa do OFA, mas que pode dar mais ao OFA também, afinal, ela herda um pepino que nem o maior herói que o Japão já viu foi capaz de resolver.

O próprio All For One sentiu a presença do irmão despertando dentro da individualidade, ele sabe que o OFA está se movimentando para destruí-lo. Deixando a sequência desses comentários um pouco mais para frente, ver o Monoma falando sério com o Shinso e argumentando de maneira bem inteligente e razoável sobre as semelhanças que vê entre as individualidades dos dois e suas experiências foi uma coisa muito daora.

Não é como se ele só servisse para tirar uma com a cara dos outros, ele é bastante observador e inteligente, não à toa prendeu o Deku próximo a si enquanto seus companheiros atacavam os do protagonista com igualdade numérica, mas o fator surpresa ao seu favor. A estratégia que o Monoma traçou (a ideia deve ter sido dele) foi excelente e tentar se conectar com o Shinso para facilitar a sincronia dos dois também.

Mas esse episódio não teve um MVP e sim uma, afinal, a Uraraka cortou caminho para ajudar o Deku e a construção da situação não caiu no erro que seria explorar apenas o aspecto romântico das ações dela, e sim algo maior e mais significativo, que parte do olhar especial que ela lança nele sim, mas foi fortalecido pela convivência e amizade que se criou entre os dois, além do profundo respeito que ela tem por ele.

Antes de mais nada, antes de sequer se conhecerem, os dois almejavam ser heróis por motivos distintos, mas com convicções e abordagens um tanto parecidas, o que os fez se aproximarem logo de cara. O primeiro exemplo de heroísmo com o qual a Uraraka pôde se conectar intimamente foi quando o Deku a salvou no teste de entrada na UA, enquanto a prova de que poderia ser um herói veio para ele naquela hora.

Os dois estão ligados pelo heroísmo, e foi até esse grande respeito pelo herói que ela via se construir diante de seus olhos que a Uraraka tanto se motivou a dar o seu melhor, como também desenvolveu sentimentos amorosos por ele. O ponto é, quando a coisa apertou ela olhou para o herói antes de mais nada, para o herói que ela respeita e deseja salvar, trilhando assim sua própria trajetória como heroína, não é mesmo?

Não gosto que a formação dela como heroína tenha esse gatilho no sentimento romântico pelo protagonista, mas, pensando bem, isso se torna menos um problema se ela vê as coisas de maneira mais ampla, como ela faz. Até porque trazer esse questionamento, de querer salvar a pessoa mais próxima a você e que você observa com mais carinho e atenção, é também um dos papeis de um herói, e um dos mais simbólicos.

Não dá para ser um grande herói salvando só desconhecidos enquanto não salva aqueles do seu próprio convívio, ou melhor, até dá par ser como o Endeavor (que fez exatamente isso por muitos anos e agora quer reparar seu erro), mas isso torna o herói questionável. Não que exista um herói perfeito também, o All Might não estava brigado com o Nighteye quando ele morreu? Tudo bem que nem se compara, mas, né…

Em todo caso, o importante é que se a Uraraka não é tão explorada quanto eu gostaria, pelo menos na hora em que foi chamada aos holofotes a heroína correspondeu à altura, partindo sem pestanejar para acalmar o Deku e sem muitas opções além de pedir ajuda, o fez de maneira muito contundente e perspicaz. Uma boa heroína, assim como um bom herói, compreende suas limitações e sabe trabalhar com o que tem a mão.

Se a individualidade do Shinso não foi o gatilho para a manifestação descontrolada da individualidade do antecessor do Deku, foi essencial para pará-la, criando uma cooperação entre rivais em um momento de emergência a fim de fazer o que um herói precisa fazer de melhor: salvar. Seja a própria pele, a pele de outro herói ou a pele de uma pessoa em dificuldades; não há nada mais importante que salvar para um herói.

Sendo assim, os dois acabaram em um gesto demonstrando um belo amadurecimento como heróis em potencial. Não estou aqui querendo aumentar os atos de uma donzela apaixonada ou de um rival que não queria perder sem uma luta justa, mas a verdade é que é justamente nos detalhes que o caráter de um herói se forma, ou ao menos é nisso que o autor tenta nos fazer acreditar crer que o Deku salvou a Uraraka lá atrás.

Antes de repassar os pontos já abordados e falar do finalzinho desse episódio, não posso esquecer da conversa entre herdeiros que esclareceu muitas questões pertinentes, como o que esperar dessa primeira individualidade liberada e a responsabilidade que o Deku tem agora após ter acessado os vestígios, as impressões impregnadas, no OFA. Além disso, devo dizer o que acho dessa história de Deku ter sete individualidades.

Não, não acho que esse foi um artifício de roteiro rasteiro, apesar de ser sim um artifício. Por quê? Porque, convenhamos, é até esperado que portadores anteriores tivessem suas próprias individualidades antes de receber o poder e que isso se misturasse ao próprio poder do OFA e se potencializasse após suas mortes. O que o OFA faz é bem simples, é força bruta genuína, mas a ideia por trás do poder é bem mais complexa.

Originalmente o OFA foi uma individualidade criada para amarrar o irmão do All For One a ele, mas que acabou tendo o efeito contrário, criando a dinastia encarregada de atrapalhar os planos do All For One. Para isso, esse conceito de acúmulo de energia e com ela os desejos e as individualidades de seus portadores acaba fazendo sentido, afinal, se o OFA é a oposição ao AFO, então ele não rouba individualidades, as acolhe de bom grado.

O AFO toma outras individualidades e as redistribui, o que o OFA não faz, mas essa capacidade de armazenar acaba tornando as individualidades similares, e para alegria geral da nação o OFA não só armazena, mas também potencializa e pode até guiar o “herdeiro”, como acontece com o Deku. Sendo assim, está na cara que esse filho incompleto do AFO deve superá-lo algum dia, não é mesmo? Mal posso esperar por isso.

Considerações feitas, não acho que tem como reclamar dessa história de vestígios, individualidades escondidas a serem destravadas e o contato do Deku com seus antecessores. Havia margem para que tudo isso acontecesse desde o princípio da história, ou melhor, desde que todo esse rolo entre AFO e OFA foi se aprofundando. Além disso, é meio intuitivo demais controlar o coração para controlar as individualidades, mas…

Que outra forma haveria de fazer isso? Essa jornada de formação do Deku como herói foi toda marcada por isso, por desafios que ele precisou tatear até conseguir lidar. Não existe outra alternativa para ele a não ser seguir assim, mas dessa vez ele deve tomar mais cuidado após um sinal como o que teve em seu quarto. Agora, ele terá tempo de desenvolver essas novas características com calma? Duvido, mas veremos.

Para terminar, o Shinso teve um papel menor dessa vez, mas também foi bem, e ainda tem o próximo episódio e o desfecho do confronto para vermos se ele brilhará mais ou não. Juro que nem lembrava que a luta continuava depois desse ponto, mas lembro do arco seguinte a esse. Vai entender? Acho que o salvamento da Uraraka me marcou tanto que até apaguei da mente o resto da luta por não me importar tanto com ela.

Ainda assim, gostei do embate ter continuado não só pela permissividade do Eraserhead, mas também por iniciativa dos alunos, e tudo isso com o Deku receoso em usar o OFA como a prévia bem deu a entender. Vai ser interessante demais ver o desfecho dessa luta, até porque agora não temos só um Deku que tem que se virar para proteger seus amigos, como amigos capazes de oferecer-lhe todo o suporte, como a Uraraka fez.

Por fim, não sei se deu para perceber, mas a Uraraka é minha personagem favorita de BokuAca e com certeza foi a melhor desse episódio, pois interviu no momento certo e se arriscou para salvar o herói que salva a todos, mas é salvo por quem? Salvar o grande herói é com certeza um ato de heroísmo digno e só uma grande heroína como a Uraraka para perceber o que ninguém mais percebeu e agir quando muitos recuariam.

Até a próxima!

Comentários