Finalmente conhecemos a terceira garota da história e essa é a Shii, uma menina dócil e alegre, mas que ainda não pilota uma Cub – com destaque para o “ainda”. Chegando como um ar de mudança para compor o grupo das silenciosas motoqueiras, como será que ela vai mudar nesse meio, e como o seu eu mais animado vai influenciar as outras duas, especialmente a Koguma?

Flávio: Embora os episódios 7 e 8 não formem um arco, eles se complementam.

JG: Exatamente, e o mais interessante é que mesmo sendo episódios menos “expositivos” que os outros, eles continuam igualmente bons no que tange as meninas. Não sei se você vê da mesma forma, mas a nova personagem mal chegou e eu realmente sinto que ela causou uma impressão na Koguma, porque nas duas oportunidades em que interagem, vejo que ela a observa de uma forma diferente – o que acaba sendo recíproco, já que a Shii parece ter gostado dela de cara.

Flávio: Não houve informações sobre a moto em si. Sobre a Koguma, digo que para alguém que só enxergava cinza por onde passava, agora ver várias cores, incluindo um azul desbotado meio sem graça.

JG: E é um tanto engraçado que logo alguém bem séria e “sem graça” como ela, visse a colega dessa forma no começo – talvez identificação?

Flávio: Não sei se foi uma identificação, pois são personagens diferentes. Continuando com as analogias cromáticas, a Koguma antes da Cub era cinza ou se preferir, não tinha cor alguma.

JG: Olha já comentando as peripécias dela, admito que fiquei um pouquinho surpreso com a ação dela durante a organização do festival, porque como ela vem se abrindo aos poucos as novidades, eu imaginei que ao ver a Shii convidando todos a participar, ela ia ativar o gatilho e se envolver na atividade, mas não, ela permaneceu quieta.

Acho isso legal porque mostra que mesmo ela mudando algumas coisas no seu eu, a essência dela se mantém, ela está mais aberta, porém também não abre mão da sua tranquilidade e reserva.

Flávio: Acho que a Koguma hesitou um pouco, e tive a impressão que ela tomou a inciativa para provar que a moto dela poderia ser útil. Outra coisa que notei é que a Reiko não parecia muito entusiasmada para participar do festival escolar.

JG: Exato, nas duas a impressão que fiquei era que elas pensaram: “hm…não sou muito adepta desse festival, passo… prefiro ver os acessórios pras Cubs”. O que mudou a ideia dela foi só o “desaforo” do povo, imagina que audácia dizer que as motos não serviam pra trazer aquelas bobagens?

Mexeu com as Cubs, mexeu num vespeiro, e diferente dela, a Reiko não pareceu se importar nem com isso, ela só acompanhou porque enfim, a amiga arrastou, mas acho que no natural ela ia passar batida.

Flávio: Devido a personalidade animada, e por gostar de desafios, me surpreendeu essa postura da Reiko em se importar pouco com o festival. Provável, que assim como a Koguma, qualquer coisa que não envolva a Cub é ignorada.

JG: Para mim é notório que a Reiko realmente vive para sua cub e tudo o que a envolve, você percebe isso com mais facilidade na cena em que ela reclama de ter que botar aquela carroça extra fixada na moto dela, e quando a Koguma sugere comprar aqueles protetores de guidão, que ela acha feio, preferindo passar frio – até a hora em que viu como eles foram úteis.

Flávio: As duas vivem para as suas Cubs. Mas é por meio das suas respectivas motos que elas descobrem o mundo ao redor delas.

JG: E aí depois entra a Shii, que se interessou pelas motos vendo as duas, mas não tem coragem de encarar uma ainda. Quando a Koguma aconselhou a menina, meio que entendi como um aviso do tipo “ou vai ou racha”, porque se realmente estiver disposta, tem que ter uma entrega, como ela própria teve na sua vez. A Shii tem seus medos e se ela não quiser passar por cima deles, realmente não tem gosto ou vontade que vença.

Flávio: A Koguma falou como se a Cub possuisse vida e vontade própria. Simbolicamente, não tratar a moto como mero objeto mostra o apego que a protagonista tem com sua Super Cub.

JG: Isso é verdade, ela deu um sentido muito maior ao veículo. Assim como dissemos no outro artigo, a Cub já foi muito além de ser um mero transporte, pela transformação que foi causando gradualmente na protagonista.

Flávio: A preocupação vai além da própria moto. Há um cuidado na hora de escolher os acessórios. Uma coisa que chama a atenção é a compra de acessórios de acordo com as estações do ano.

JG: Essas questões temporais são curiosas, porque diferente da nossa realidade, que pode mudar as estações e nunca se sabe se vai chover, fazer sol, calor ou frio (na minha terra é quentura o ano inteiro), lá as coisas parecem mais certinhas e o clima cumpre o seu papel, sendo necessário um preparo pra isso e com os veículos não é diferente – a “aflição” e lembrança constante da Koguma é a melhor representação disso.

Flávio: Para um artigo cuja a introdução foi sobre a nova personagem, conversamos bastante sobre a Koguma e a Reiko.

JG: É porque quem é protagonista, nunca perde o protagonismo, já diz o ditado. Mas aproveitando a sua deixa, essa coisa do frio e calor, me fez pensar que estar ali no café da Shii, fez a Koguma sentir esse calor e a vontade de estar ali.

A menina tem uma simpatia contagiante, os pais dela também são adoráveis, não me admira que ela se sinta a vontade ali, ainda mais com a mudança do clima. Ela veio com a desculpa do café – que naturalmente é próprio pra situação -, mas não comprei, ela gostou foi do calor humano emanado pela família da Shii.

Flávio: A Shii mesmo não se encaixando no estereótipo de menina energética ( genki girl), tem uma simpatia e alegria tão contagiantes quanto um céu azul de verão. Aliás, a aparência delicada e a personalidade dócil, talvez faça as pessoas acharem que a menina não tivesse vigor o suficiente para organizar o café no festival. Quase a garota se complica, mas aí chegou a Koguma e sua fiel escudeira para salvar o dia.

JG: O que eu gosto na Shii é exatamente essa coisa de ela ser mais do que a sua aparência entrega, tornando ela ainda mais divertida de se assistir. Ela é feliz? É, mas não exagerada. É fofa? É, mas na dose certa. É tonta? Não, é proativa, responsável, dedicada. Como você falou, as pessoas parecem não acreditar no que veem, assim como a Koguma também não levou a sério, e no fim você tem uma pessoa ótima escondida ali.

Me pergunto como ela é em relação a questão da amizade, porque o que senti é que ela é comunicativa e bem relacionada, mas não parece ter grandes amigos, apenas bons colegas – talvez daí a vontade de se entrosar mais com as meninas, não sei.

Flávio: Vale ressaltar que a Shii e a Reiko já se conheciam. Um outro ponto interessante é que a Shii não é (ainda) uma “amiga de Cub”.

JG: E ambas tem intimidade, tanto que se chamam pelo sufixo “-chan”, que é próprio para quem já tem essa proximidade maior. Assim como dissemos lá no comecinho, o “ainda” precisa ser reforçado, porque eu acredito que a mistura desse trio vai fazer ela dar o pontapé para arrumar uma Cub própria.

Pode até não ser agora – dado o spoiler da abertura que mostra só a bike mesmo -, mas aí quem sabe o anime não nos presenteia com uma segunda temporada e resolve isso.

Flávio: Não há indícios que a Shii comprará uma Super Cub, e pode ser que nem compre uma. Pessoalmente não vejo problema se a personagem continuar com a bicicleta. A menina já faz parte do grupo, independente do veículo.

JG: Ver eu também não vejo, mas que seria bom as três desfilarem como iguais, seria. Se olharmos um outro ponto, ela tem uma personalidade bem pra frente, você vê que até os negócios do pai a cidadã já quer assumir, então não imagino que alguém com a vontade dela se prenda ao medo da moto.

Se for uma questão de gosto pessoal, ok, mas a preocupação de cair e se arrebentar eu acho que ela contorna fácil, até porque grossamente falando, a bicicleta não está tão longe de uma Cub nesse quesito.

Flávio: Ela pode ter curiosidade em pilotar uma moto, mas não tem um motivo forte o bastante para se apegar ao veículo.

JG: Esse é o ponto. Acho que tudo vai depender também dos objetivos que ela for traçando, de repente a Cub se alinha com isso e ela decide ter a sua porque vale a pena e o motivo aparece. Por enquanto ainda é vago como é que vai ser essa relação das três e o que vai acontecer, mas vamos vendo como cada uma se comporta e desenrola na história. Elas podem não ser “companheiras de Cub”, mas as três vão continuar sendo “amigas de duas rodas”.

Flávio: Hipoteticamente, ela poderia entregar pão com a moto. Seria uma forma de unir a moto e a paixão dela que é a padaria/cafeteria da família.

JG: Já que ela quer expandir seus negócios, não é difícil imaginar que ela decida fazer um delivery, a ideia é ótima até para ela fazer o que as meninas fazem, desbravar as ruas.

Flávio: Falando sobre a família, a menina tem pais peculiares. Não chegam a ser muito excêntricos, mas o multiculturalismo deles chama a atenção e tem até um certo charme, apesar da padaria/cafeteria soar tematicamente incoerente como a Reiko disse.

JG: Eu gosto de como ela emerge se opondo as raízes que os dois abraçam, navegando em outras culturas, aumentando ainda mais o pluralismo deles, porque para quem trabalha nessa área alimentícia isso é maravilhoso e para o lado cômico da vivência familiar, também.

Julgando pelo pouco que vimos ali no café, bem imagino as picuinhas que essa mistura de países não gera o tempo todo. Digo isso porque tenho um pai paraibano e uma mãe baiana, e já é um processo acompanhar os dois, imagina algo ainda mais vasto como diferentes nações.

Flávio: Delimitar um tema, público-alvo e até mesmo os produtos a serem vendidos, são coisas importantes. No caso do café da família da Shii, pode ser só uma excentricidade causada por serem supostamente distraídos, ou somente uma forma que os pais dela encontraram para conciliarem suas preferências culturais. Aliás, a própria Shii tem uma preferência cultural diferente da dos pais.

JG: Tenho para mim que foi uma soma das duas coisas, ali você tem a distração e a conciliação, principalmente vendo o ar avoado e brincalhão desses personagens que souberam dar o seu tom a história. No fim desses dois episódios, só posso dizer que tudo continua ótimo e nada mais que isso.

Flávio: Seria redundante da minha parte dizer que os episódios foram bons, pois a boa qualidade tem se mantido constante a aqui, e creio eu que vai permanecer assim até o fim. A Shii pode não ser a protagonista do anime, mas simboliza a delicadeza da série que revigora nossa alma como se fosse um lindo céu azul.

Agradecemos a quem leu e até o próximo artigo!

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