A arte do combate em milenar evolução é o que arremessa a vitória para o futuro. Ou ao menos é um bom começo. Para um novo monstro é um método de impacto. Kizumonogatari II Nekketsu-hen, nos convida ao pacto entre a puberdade e os contornos carnais da imortalidade.

 

 

Araragi, em promessa e ato, folheia as opções de sobrevivência e conquista. Em ritmo de jazz, mais gingado e improvisado que o primeiro filme, acompanhamos seu aprimoramento pela arte marcial do Baseball. Já Hanekawa, sua fiel e ingênua amiga, se agarra ao jovem escondendo sua profunda solidão.

Os detalhes que atormentam a representante de classe não são revelados, mas presenciamos o sombrio afago entre sofredores. E infelizmente, para o rapaz em desespero, manter proximidade com uma alma tão pura e doce, que lhe abraça e conforta, lhe transborda aflição e dor.

A cena em que Araragi afugenta a moça, o destaque nebuloso e o contraste entre a crueldade e a impotência de ambos, que sem qualquer intenção se ferem mutuamente, é de grande nota. Araragi é um servo de seu fardo, um vampiro que só pode habitar as sombras. Hanekawa é um anjo melancólico que vaga à procura de abrigo.

 

 

A missão urge, Dramaturgie surge, magnânimo, retalhando, amputando e impelindo o impacto que dilacera. Só, apenas vidros e o insano potencial regenerativo fazem companhia ao jovem, um lampejo de esperança que flexiona os braços e nocauteia a muralha de contrato mercenário.

A rendição oferece a prenda, quem degusta amadurece em sua adolescência candente. Heart Under Blade, a metamorfose de uma loli perfeita. A mediação e o segundo ato abrem as cortinas.

Como seguimento dos feitos, um rancoroso Hafu que carrega a cruz de seu limbo, o sagrado sem lugar de oração atende pelo nome de Episode. Abandonado e desprezado pelos puros, sejam eles humanos ou bestas, o que lhe compete é a vingança, a passional e pessoal cobrança dos juros.

 

 

Nesse conturbado embate que evapora e sublima, assim como na química escolar, estabelece o império do nebuloso. Hanekawa, a garota que sabe apenas o que sabe, sabe. Um sistema de vapor não se efetiva se a densidade do meio estiver saturada pela poeira da vida.

O preço pelo segredo é a evisceração do inocente. Quem dá com a língua nos dentes deve morder as consequências. Ela gira, o sangue circunda e os órgãos saltam. O guardião, chamado de Meme, passivamente se abstém de lançar movimentos ao tabuleiro. A incógnita sobre sua dignidade está marcada.

Por insanidade e sofrimento sem igual, Araragi acelera, foge, mas avança em tática de retaliação. É bela, é o impacto que levanta a vantagem e anula a mobilidade do híbrido e de sua cruz. A asfixia voraz contorce o merecido pescoço da vingança, mas que de humano carece, de humano deve permanecer.

 

 

Por segredo, e por inexplicável, o poder de seu coração, de seu sangue e alma, jorra sobre a cura. A inveja da medicina derrama lágrimas para o seu maior artefato que lhe é desconhecido, o segredo da regeneração absoluta.

O amor, o tesão e os hormônios assumem a cena. A juventude, o brilho da pele e o elástico tecido que recobre o desejo. Hanekawa enrubesce frente a seu lapso de sinceridade, Araragi ajoelha perante as dádivas que em sonhos nunca imaginou realizar.

O presente é seda, o que recobre o portal do paraíso é a chave da volúpia indomável. Ao vento e em liberdade, protegido pela generosidade dos campos férteis, a promessa é proclamada. A chama e a brasa se mantêm acesas frente ao afeto de melancólicos pares.

 

 

O desafio final é entrecortado pelo ápice da sensualidade, pela expansão feminina que ofusca o brilho do sol. Kiss Shot sobe sobre o altar de deusa e como tal reina. Não restam oponentes para sua perfeição.

Os corvos, no entanto, anunciam o clímax do desfecho, Guillotinecutter. A refém do ato vil, implora dentre as garras do sagrado humano, quem de maligno em essência se apresenta como o maior monstro, sim, o moral, o sacro maldito que usa da fé para justificar sua corrupção.

Araragi é pressionado ao sacrifício, e como lhe aconselham, ele sacrifica. Ao extremo de seu potencial, cruza o som e arremessa o seu caminho como veículos ao inevitável da gravidade. Sua escolha é única, não existe alternativa. Entrega o corpo ao inexplicável, frutifica como árvore e arrebata o sorriso doentio de seu arrogante oponente.

 

 

Sua sina está completa, uma vitória total ao resguardar a donzela sobre os braços.

O segundo filme de Kizumonogatari percorre os desafios do resgate, a recuperação e restauração dos membros da lendária prima dona. Os eventos lindamente retratados conseguem convencer sem jamais preencher, é uma delicada narrativa visual que não tem por intento sobrecarregar de contexto, mas apenas manifestar o ápice da emoção.

Por ritmo, ainda tendo a preferir o primeiro filme, mas por desenvolvimento de relação, esse em certo se destaca. Fico por essas palavras, mas retorno em breve para abordar a conclusão desta peça. Meus agradecimentos a todos que até aqui chegaram. Até a próxima lua.

 

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