A Tonari voltou para salvar o Fushi e ele trollou ela mostrando que não precisava de ajuda nenhuma. E sério, eu adoro Fumetsu, mas essa mania de jogar alternativas outras na cara é só tortura. Com a tempestade eles perderam a chance de viajar e ao ficarem mais um dia na ilha o cenário para a tragédia foi armado. Aliás, não é questionável o plano da Hayase? Ela não deveria ter previsto que nosso herói poderia escapar?

Não vou encucar com isso, mas achei estranho, até conveniente para adiar o desfecho da situação. Por outro lado, algo que não foi estranho, mas bem interessante, foi o diálogo do Fushi com a Tonari em que ela explicou a ele os conceitos de deus (o bem) e o demônio (o mal), algo que foi aproveitado mais tarde no episodio e justifica o título deste artigo, mas particularmente não me apetece. Sabe o que é placebo?

Não estou dizendo que deus é uma mentira nem nada assim, só que se agarrar a ideia de um paraíso como forma de aliviar a dor pela morte pode ser sim um placebo. Ainda assim, concordo que é uma proposta válida. O Fushi não vai morrer, talvez só no final da história, então ele não deve se apegar a esse tipo de ideia, mas é interessante que ele a compreenda para entender melhor os humanos com os quais interage tanto.

Além disso, o mais interessante acabou sendo a sequência da cena, o momento em que a Tonari confidencia ao Fushi o medo que sentiu do pai e a compreensão a qual chegou após presenciar sua faceta assassina. O mais legal foi que ela se dá conta da própria hipocrisia, afinal, o pai pode ter matado com as próprias mãos, mas ao dar a oportunidade de futuro para uns e não para outros, dá para dizer que são assim tão diferentes?

Eu acho que dá para dizer que são sim, mas entendo a contestação que ela faz das próprias atitudes. Menos mal que a justificativa dela é super plausível, pois concordo que crianças devem ser a prioridade em qualquer cenário. Elas não têm culpa e nem escolheram estar ali. Aliás, mesmo que tenham escolhido (como a Tonari fez), ainda assim são as grandes vítimas. Tonari é a heroína aqui, não podemos relativizar isso.

 

 

Contudo, há algo que podemos relativizar tranquilamente, que é a decisão narrativa de reforçar a tragédia em vista, afinal, o que foi o sonho de perfeição dela senão isso? Eu adoro Fumetsu, mas acho que a história poderia ser mais sutil porque esse tipo de cena costuma sentenciar o que vem a seguir e não é a primeira vez que ela acontece no anime. Talvez uma outra roupagem, mais sutil, ou até mais lúdica, cairia melhor aqui.

Em todo caso, sei que esse é um problema menor em comparação a coisas como a animação, mas uma vez aquém nesse episódio, Felizmente, a direção conseguiu disfarçar um pouco melhor o problema. Por outro lado, o detalhe mais tosco talvez tenha sido o desse episódio, o do criador do Fushi ter aparecido o tempo todo como uma imagem estática, e uma que brotou em cena do nada quando o Fushi correu atrás dos Nokkers.

Um desenrolar não só previsível, mas em certa medida necessário, ao menos se a intenção é maximizar o drama e explorar o máximo possível o desenvolvimento do herói, caso desse anime. Para isso, é claro, mas um desenrolar previsível haveria de ser usado, e não posso dizer que gostei da volta das crianças, mas isso porque sabia que a coisa ficaria feia, não porque elas voltaram. Fazia todo sentido que apoiassem a amiga.

Talvez na vida real não conseguissem, sentissem medo e recuassem, não sei. Mas a ficção não deve ser estritamente a vida real (ou o que achamos que ela normalmente é) e sim algo que faça sentido de acordo com os elementos apresentados anteriormente e com os que serão apresentados depois. Eles voltarem cobriu tudo isso. Tonari era a líder do grupo, o elo entre eles, abandoná-la seria abandonar suas dignidades.

E mesmo que esperasse pelo pior, confesso que a maneira como a situação transcorreu não deixou de ser um baque para mim, ainda mais pela forma violenta como o ataque e as mortes se deram. Mais uma violência no caminho do Fushi, né? Humanos são frágeis, ele não, mas pensando bem, até ele é, afinal, só conseguiu escapar porque teve ajuda do Uroy, aquele gordinho herói que não veste capa, mas merece o mundo.

Mas teve que se contentar com a ideia de um paraíso para o qual pudesse rumar feliz. Acho engraçado, e até cruel, como pessoas morrem com a ideia de um lugar melhor para além do plano em que se encontram, quando, convenhamos, se a coisa fosse tão boa assim elas topariam ir para esse tal paraíso prontamente. O problema é que não há certeza sobre isso, e essa é a dúvida que seduz e permite qualquer que seja a opinião.

 

 

Enfim, deixando minhas opiniões mais “pessoais” de lado e voltando ao quadro geral desse episódio, a morte da Oopa e depois o ataque a Mia foram baques duros, pesados, coisa demais para apenas um episódio. Mas ainda faltava a tragédia do Uroy, um desenrolar que, repito, ajudou o Fushi e reforçou seus limites, mas não deixou de machucar também. E se por um lado achei uma pena não termos tido mais deles, por outro…

Talvez tenha sido até melhor, pois a dor de perdê-las dessa maneira trágica seria ainda pior, não que já não devesse estar preparado para isso. Aliás, todos nós se pensarmos que a abertura já dava a letra do que aconteceria desde o começo do anime. Focando mais no Fushi agora, adoro como a imortalidade dele não é usada para forçar uma capacidade que ele realmente não tem e a qual duvido que atinja plenamente um dia.

Ser imortal é só mais um de seus aspectos, que com certeza o ajuda demais, mas com certeza não opera milagres, tanto que o máximo que ele vai poder fazer pelas crianças é carregar seus legados, pois curá-las ou impedir que corram perigo não é uma possibilidade. Talvez se ele fosse mais forte, mais bem preparado, pudesse fazer diferente, mas não o suficiente para garantir a segurança daqueles com os quais se envolve.

Aliás, foi meio angustiante ver as crianças chegando e lutando ao lado do Fushi e da Tonari, pois estava na cara o que iria acontecer, era só questão de quando e como. E sofri com isso, mas foi justamente por sofrer que foi tão bom. Senti mais do que esperava por personagens que conhecia menos e creio que muito disso se deve a natureza deles. Não consigo ficar indiferente a violências praticadas contra uma criança.

Isso acontece de maneira recorrente em Fumetsu a fim de maximizar o envolvimento do público? Acredito que sim, além disso, temos que lembrar que o Fushi é uma “criança” de 5 anos, mesmo que já tenha vivido aventuras por um adulto de 50. Acho que é bem crível ele cruzar caminho com crianças e se afeiçoar a elas mais do que acontece com os adultos, ainda que alguns tenham preenchido sua jornada.

Inclusive, não espero nada além do pior, mas posso jogar uma teoria aqui (sério, estou correndo de spoilers dos últimos episódios, que a essa altura já saíram faz tempo)? Eu não sei se você percebeu (nem se observei com a devida atenção), mas estou ficando doido ou a Tonari não aparece tendo um “desfecho” na abertura? Será que isso significa que ela sobreviverá? Será que é só uma bait para criar esperanças?

Comentarei isso no próximo artigo ou no artigo derradeiro dessa primeira temporada de Fumetsu no Anata e, um anime que é um alento na minha vida, pois me dá certeza de que histórias boas não são jogadas no lixo mesmo com produção aquém e coisas questionáveis. Oopa, Mia e Uroy; vocês serão lembrados. Fushi, não é vergonha ser incapaz, vergonha é não reconhecer ou se importar. Tonari, obrigado por tudo desde já.

Até a próxima!

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