Tem como não simpatizar com uma criança que cuida de outras? Logo de cara fui muito com a cara da Maha, uma heroína responsável e simpática que, não por acaso, também tem magia e personalidade, apesar dessa última ter sido encoberta pela sordidez desse episódio.

Digo, sei que o que se tentou fazer aqui foi criticar a podridão do mundo, o problema é a forma como isso foi feito, em muitos momentos apelando para artifícios no mínimo questionáveis se a intenção era mostrar o quanto é errado e não explorar fetiches escrotos. Enfim, vamos lá?

A Maha me ganhou nos primeiros minutos, logo quando mostraram que ela era a líder de um grupo de garotas em situação de vulnerabilidade como a dela. Nada além dela ser filha de um comerciante é revelado, não sabemos porque ela foi parar nas ruas, como o pai morreu, etc.

O que sabemos é que ela é fofa e tem magia, além de ser acometida por um infortúnio tremendo, o que, ao menos como a Tarte, a tornou mais vulnerável a “sedução” do protagonista, algo que, convenhamos, nem precisaria da roupagem boba que tentaram emplacar nesse episódio.

Não precisa ser 8 ou 80, o Lugh não precisa dar a entender que só age por interesse, como também não precisamos vê-lo sendo pintado como um príncipe encantado que vai salvar uma princesa de seu infortúnio, apesar dele ser nenhum dos dois e um pouco dos dois ao mesmo tempo.

Enfim, a cretinice humana não tem limites e a gente sabe muito bem disso, então não tenho do que reclamar do rapto das crianças ou da forma como são tratadas até compreendendo o contexto, a época e a sociedade na qual estão inseridas. Porém, devo reclamar de como mostram isso.

Por exemplo, por que dar um upgrade nos seios da Ifa na primeira noite em que ela é levada e estuprada? Para mostrar ao público que ela tinha o corpo de uma moça apta a desempenhar esse papel terrível ou explorar um fanservice sacana em uma situação que deveria ser só triste?

Triste e não excitante, de forma alguma isso. E eu ficaria calado se ela já tivesse esses seios fartos, mas não se preocuparam em criar um contexto, apenas jogaram ali as marcas da adolescência em um corpo que, por mais que fosse mais velho que o das outras, ainda era o de uma criança.

Sim, eu sei que naquela época o contexto era outro, que garotas de 12 anos já eram vistas como adultas e blá blá blá, mas sério, elas seguiam no orfanato de merda, e ficaram lá por dois anos, então eram sim crianças que sofriam estupro de pedófilos pintados como horríveis, o mínimo.

Mas por que tornear seios, explorar diálogos desagradáveis em que o chefe fala que vai estuprar a heroína e chegar ao ponto do assédio físico na carruagem? Para reforçar uma crítica ou agradar a parcela do público com desejos dúbios, talvez a parcela de fãs que curtia isso em Kaifuku?

E não estou aqui apontando o dedo para a cara de ninguém, só dizendo que não me incomoda o episódio mostrar a desgraça que se abateu sobre as crianças e sim o excesso de exposição e exploração de cenas que poderiam muito bem ter sido cortadas ou modificadas.

Afim de quê? Afim de tornar menos incômodo para as pessoas, pois tenho certeza de que parte do público se incomodou, apesar de uma parte bater palma para herói estuprador como eu sei que bate… E com isso Sekai Saikou chafurda um pouco na lama na qual Kaifuku se afoga…

Lembra da polêmica com a cena do estupro dos goblins no mangá de Goblin Slayer? Então, é o mesmo caso, pois em ambas as obras em nenhum momento se diminui a gravidade das violências, mas em ambas se trabalha as situações de forma a explorar a lascividade delas.

Somando isso a visão deturpada (ainda que justificável) que a Maha tem do Lugh, posso dizer seguramente que esse foi o pior episódio do anime até então, talvez o mais desnecessário se pensarmos que saber que crianças são estupradas nesse mundo não vai agregar nada a trama.

O anime não começa com um leilão de garotas? Já não era o suficiente para entender que as mulheres são tratadas como mercadoria nesse mundo? Outra coisa, foi legal ele ter feito a plástica em uma das garotas, mas por que não mostraram o destino delas?

É óbvio que elas não ficaram a própria sorte, mas por que insistir na pintura fantasiosa do Lugh até o fim? Talvez para apresentar um contraponto a forma como ele encara a própria gentileza? Não sei, só me pareceu bobo. Felizmente, isso não diminui a adição da “virgem” Maha ao elenco.

Por fim, esse é o último ponto que queria abordar, a forma como o autor escancara seus valores através da escrita. O valor dado a virgindade é um sinal disso, de um machismo descarado, e nunca é demais falar, ainda que eu concorde com o óbvio, que estupro suje a todos os envolvidos.

Até a próxima!

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