Fate/Stay Night – ep 16 – Transtorno obsessivo-compulsivo
[sc:review nota=3]
Após observar por tanto tempo o comportamento do Shirou e escutar tudo o que ele diz, especialmente as partes onde ele admite abertamente que o que ele faz é arriscar a si mesmo para proteger os outros, que ele sabe que isso não está exatamente certo, mas que tudo bem, que ele não se importa, não é preciso ser nenhum guru para perceber que o moleque tem algum tipo de problema psicológico sério. Até a Rin percebeu isso. Como ele passou por um trauma há dez anos atrás, e ele vive citando isso e dizendo que é o motivo para ele agir assim, é óbvio que é essa a causa, e a Rin também identificou isso corretamente. E a garota fez o que nós espectadores não podemos: jogou isso na cara do protagonista. Ainda que reconheça, de certo modo, que ela está certa, ele insiste em seus meios. O que o Shirou tenta disfarçar como um objetivo de vida racional na verdade é só a racionalização de uma compulsão que ele adquiriu como resultado do forte estresse causado pelo trauma. Mas tudo bem, ele pelo menos ajuda as pessoas né? Antes fosse! Ele atende antes à sua compulsão do que às reais necessidades dos outros, podendo até mesmo, ainda que sem querer, prejudicar quando quer ajudar. Me acompanhe enquanto eu explico.
Já vimos muitos episódios atrás como o Shirou simplesmente não consegue resistir a um pedido de ajuda explícito ou mesmo implícito, que ocorre quando ele vê uma pessoa em situação que ele acredita necessitar de ajuda. A coisa vai do patético (quando ele se demora a caminho de casa porque estava varrendo e pondo para fora o lixo de um estabelecimento comercial qualquer) ao descaradamente suicida, que foi o caso desse episódio. Quer prova maior que ele apenas sente uma compulsão e não está de fato preocupado em ajudar os outros do que esse episódio? Na verdade, ocorreu ainda no anterior, mas foi tão rápido que o Gilgamesh lidou com o Shirou em dois ou três frames (sem brincadeira). Você sabe a que me refiro: a Illya, para a tristeza de muita gente (eu não fiquei genuinamente triste, mesmo já conhecendo a personagem de antemão, e atribuo isso a problemas na execução do anime, mas vá lá), já havia sido morta pelo Gilgamesh. Àquela altura não havia nada que o Shirou poderia fazer para evitar isso. Talvez ele quisesse apenas vingá-la então, certo? Tenho certeza que ele quer vingar a homunculozinha favorita da temporada, mas se ele não tivesse um transtorno psicológico ele se controlaria pois claramente ele não poderia derrotar o Gilgamesh, e portanto se vingar, naquele instante. Seria legal se Shirou fosse só um idealista, um jovem com um grande coração e capaz de dar tudo de si pelos outros, mas é uma pena que ele seja só ruim da cabeça.
Reconstituamos tudo aquilo pelo que a mente do Shirou passou: há dez anos atrás ele viu o mundo acabar em fogo ao seu redor. Pessoas mortas por todos os lados. Pior ainda: pessoas mortalmente feridas por todos os lados, várias delas implorando por ajuda, qualquer ajuda, vinda de qualquer lugar. Shirou não só era muito jovem como ele também estava ferido (e no meio de um enorme incêndio) então ele não pôde fazer nada por ninguém. Nem por si mesmo. Quando não aguentou mais, simplesmente caiu no chão e ficou ali esperando que a morte viesse para lhe recolher também. Ao invés, ele viu Kiritsugu. No rosto e nos olhos do Kiritsugu ele viu um pouco do sofrimento que ele próprio havia experimentado, o sofrimento de alguém que viu tantas pessoas morrerem sem poder fazer nada. Claro que os dois saíram daquilo traumatizados. Sobre o pai adotivo do protagonista pouco se sabe exceto que ele morreu e que parecia haver desenvolvido algum tipo de dissociação da sociedade, vivendo recluso em um templo, criando seu filho adotivo e falando sobre como o mundo era um lugar horrível em que era impossível existirem heróis. É muito pouca informação, mas suponho que o trauma induziu Kiritsugu a desenvolver uma depressão profunda que alterou para sempre sua personalidade e sua forma de ver o mundo. Possivelmente ele se sentia culpado pelo que aconteceu. Shirou, por outro lado, não sentia culpa – que culpa ele poderia ter? De todo modo ele se traumatizou e deve ter sonhado e revisitado de diversas formas aquela situação várias vezes em sua vida, e como resposta a isso desenvolveu a compulsão por “ajudar” pessoas. Se ele ajudar todo mundo, nunca precisará viver aquele inferno de novo.
O momento enredo ruim da semana foi quando Shirou começou a explicar quem Gilgamesh foi e qual o seu poder. Claro, ele pode ter estudado sobre Gilgamesh, o personagem histórico, em qualquer lugar. Eu também estudei e escrevi várias coisas sobre ele no artigo sobre o episódio anterior e algumas delas o Shirou e a Rin repetiram para mim nesse episódio. Que a Rin conheça o Gilgamesh histórico e até um pouco sobre o lado esotérico dele é ainda mais compreensivo, tendo crescido ela estudando loucamente para ser uma maga em uma família tradicional de magos. Tudo isso soa um pouco forçado e sem graça quando eles conversam, mas tudo bem. Agora, quando o Shirou começou a explicar a teoria dele para o poder do Gilgamesh foi demais para mim. Há pouco tempo ele nem sabia o que era esse torneio pelo Cálice, muito menos seus detalhes como servos e fantasmas nobres, e foi capaz de pensar tudo aquilo sozinho? Por sinal, provavelmente está tudo certo, Fate não é o tipo de anime que dá pistas falsas. Então não só ele criou uma teoria complexa sobre o poder do Gilgamesh apenas sabendo que ele é o Gilgamesh e tendo acabado de assistir uma luta do rei sumério como ele acertou na mosca. Protagonistas costumam ser prodígios, mas dessa vez foi demais!
A história do episódio em si foi bastante razoável. O mestre do Lancer decidiu se aliar com Shirou e Rin para derrotar Caster. A essa altura, seja ele quem for, faz sentido. Faria mais sentido aliar-se com Gilgamesh, devo dizer, e eles também disseram isso em uma demonstração de sensatez, e essa opção existia, mas Lancer preferiu os dois garotos por não achar que vá conseguir trabalhar junto com alguém com a personalidade do Gilgamesh. E quem será seu mestre misterioso? O anime quer que pensemos nisso! Em outra cena constrangedora, Lancer pergunta se Shirou quer saber quem é seu mestre como condição para estabelecerem a aliança, mas o garoto diz que exige apenas que o azulão não dê em cima da Rin (e eu ri). Depois o Lancer ainda repetiria sobre “saber meu mestre”, “saber meu mestre”. Essa insistência e o fato do anime já estar avançado, se aproximando de seu quarto final, eliminam a possibilidade deste ser um personagem novo. Ele também é um homem, como Lancer garantiu ao dizer “se meu mestre fosse uma garota”. Então, quais os homens que ainda não têm servos no anime? Não são muitos. Só consigo lembrar de dois. Um deles não é pois nem sabia que a Caster era uma serva (me refiro aquele colega de escola do Shirou, ele era presidente do conselho estudantil? algo assim). Então, por simples lógica, apenas com essa cena, deduzo que seu mestre é o padre Kirei. Na verdade já estava meio escancarada essa relação entre eles desde o último episódio antes do hiato quando a Caster invadiu a igreja, mas acho que agora não restam mais dúvidas, ou restam?