Após três temporadas de My Hero Academia e um sucesso absoluto, chegou a hora do anime ir para os cinemas, inclusive os brasileiros. A nova aventura, que se passa durante um grande evento em uma ilha artificial, faz parte do cânone e acrescenta elementos muito bem-vindos à série principal. Eu diria que o filme funciona como um episódio de uma hora e meia, mas será que isso é bom?

Este longa-metragem introduz muita coisa nova à franquia, e uma delas é a própria ilha I-Island, que é habitada por cientistas que estudam as individualidades. O local é muito bem explorado neste filme e também é possível reconhecer sua grandiosidade. Boa parte da animação é dedicada apenas a conhecer o lugar e a sensação é que os personagens estão em um parque de diversões no estilo Disneyland. Porém, ele também conta com elementos que lembram eventos de cosplay como a Comic-Con.

Outra novidade que temos aqui são os personagens, com destaque para David Shield, amigo de longa data de All Might, e Melissa, sua filha. A presença de David acrescenta ao anime mais do passado do Símbolo da Paz, assim como sua influência no mundo todo. Sempre é legal ver o personagem em ação, e aqui tivemos a chance de conferir mais de sua juventude. Há, inclusive, uma referência no filme com as Eras dos quadrinhos americanos.

Assistiria tranquilamente uma série derivada deles dois

Já sobre Melissa, sua maior contribuição é um item de suporte que permite que Deku possa usar toda sua força sem se ferir. Isso resolve o dilema do personagem nas três primeiras temporadas e espero que tenha alguma influência na série. Além disso, a relação entre ela e seu pai é muito bonita, de forma que Melissa o vê como um ideal a ser seguido, assim como Deku vê All Might – que também é praticamente uma figura paterna. Outra semelhança entre ela e nosso protagonista é o fato dos dois nascerem sem poderes, mas já sabemos como a história mudou para Deku.

Isso resolve todos os problemas dele

Ainda temos o retorno de personagens queridos pelo público – acredito que os mais carismáticos – entre eles, Uraraka, Iida, Todoroki e Bakugo. Cada um consegue ter uma cena para brilhar e a interação entre os alunos continua divertida como sempre – desta vez com roupas de gala ao invés dos uniformes. Porém, as justificativas para estarem ali mais parecem facilitações do roteiro por serem tão convenientes.

Um dos pontos que este longa me deixou um pouco confuso é em relação ao seu público-alvo: em alguns momentos ele segue a história pegando gancho em eventos muito recentes do anime, como a presença de All For One. Porém, em outros temos uma introdução de toda história, apresentando o anime para aqueles que não o conhecem, desde quando Deku era uma criança sem individualidade. Essa falta de foco acaba não funcionando, se tornando repetitivo para quem já conhece a trama e apressado para os que não conhecem.

Durante boa parte do longa acompanhamos vilões invadindo o sistema de segurança do prédio da I-Expo e fazendo as pessoas que estão no local de refém, incluindo All Might. Assim, nossos heróis precisam subir 200 andares e impedi-los. É aqui que a maior parte da ação acontece e que tudo se desenvolve, o que resulta em uma dinâmica um pouco repetitiva, com robôs e vilões cada vez mais fortes conforme eles avançam.

As coisas voltam a ficar interessantes e empolgam pra valer durante o último ato, quando temos acontecimentos inesperados e surpreendentes que não vou revelar aqui por se tratar de spoiler. Mas posso adiantar que são decisões que não são comuns assistirmos na série.

De longe, a melhor coisa do filme é ver Deku e All Might lutando juntos. Além de se tratar de momentos emocionantes e épicos, a qualidade da animação do estúdio Bones mostra todo seu potencial aqui. Sem falar que é um momento único que provavelmente nunca mais deve se repetir.

Se levarmos em conta que este é o primeiro filme de My Hero Academia, podemos dizer que ele está em um bom caminho, captando a essência da série e acrescentando novos elementos. Porém, ainda há muito para ser melhorado, como trabalhar o desenvolvimento da história. A dinâmica dos andares até que funciona, mas não é o suficiente para prender o público. É justamente nisso que Two Heroes peca, pois ainda precisa encontrar uma maneira de manter a trama coesa e interessante durante muito tempo. Espero que acertem na dublagem em português e que venham mais produções como essa.

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