Bom dia!

Dois episódios potentes e fechados em si mesmos, mas obviamente com conexão com a grande história de Carole & Tuesday e também apresentando o desenvolvimento de algumas tramas paralelas importantes.

Como em artigos anteriores desse meu esforço para alcançar os episódio atuais do anime, não vou tratar de tudo o que aconteceu nesses episódios, mesmo se importante, quando forem coisas que continuem em episódios seguintes e caibam melhor em discussões sobre eles.

Nos episódios 15 e 16 Carole e Tuesday conhecem dois músicos veteranos que fizeram muito sucesso e agora estão fora da mídia – cada um por um motivo muito diferente. E os dois dão pistas sobre o significado da música, seu verdadeiro potencial.

Carole e Tuesday são músicas novatas e embora incrivelmente talentosas, obviamente não sabem tudo sobre a música ou a indústria da música. Nem a Angela sabe, sua rival e uma artista profissional há mais tempo.

Há coisas que só aprendemos com a idade mesmo. O diabo é diabo porque é velho, não porque é sábio.

Talvez por isso as protagonistas tenham dificuldade com Tobe? Ok, o anime já estabeleceu tanto que todo mundo tem dificuldade com Tobe quanto que elas conseguiram gravar seu single com relativa facilidade, mas mesmo assim.

Em todo caso Skip reconheceu nelas algo que nem elas entendem ainda. Crystal parece ter visto isso também. E certamente esse também é o caso de Desmond e Flora, os veteranos apresentados respectivamente nos episódios 15 e 16.

 

 

Desmond sofre de androgenia marciana, a mesma condição da Dahlia, a mãe adotiva da Angela. Esse episódio explica um pouco melhor o que é: desequilíbrio hormonal provocado pela radiação a que seres humanos estão expostos em Marte e que provoca mudanças drásticas no corpo – algo como hermafroditismo, parece.

Parece também que só afeta homens (os dois caso até agora foram de homens). Exige tratamento e pode ser bastante debilitante. Basta ver a condição do Desmond. Apesar disso, ele não se define por sua condição clínica.

O fator mais importante na vida de Desmond é o amor que ele uma vez sentiu por outro homem, que no entanto morreu jovem. Quem era aquele homem? Ele sabia do amor de Desmond? Ele retribuiu? Nada disso importa. O que importa é que Desmond o amou e é para seu amor que ele compõe e canta até hoje.

Desmond tem uma visão meio esotérica da música e da vida, algo como nutrição para a alma e essas coisas, que eu não compro, mas eu compreendo onde ele quer chegar. Isso fica mais claro conforme ele conversa com as protagonistas.

 

 

Quando Carole e Tuesday tem que responder a pergunta de Desmond, “por que elas cantam?”, elas se saem com uma resposta padrão: através da música elas conseguem comunicar sentimentos, coisa que elas sentem que não seriam capazes de fazer de outra forma.

O artista veterano chega a ser didático nessa conversa. Ele explica para as duas que cantar não é só uma outra forma de comunicação. Não é apenas uma linguagem diferente para transmitir uma mensagem. A ser isso, até mesmo uma máquina poderia fazer, não é mesmo? Pelo menos é esse o rumo que esse mundo parece estar tomando, e que Desmond detesta.

Para Desmond, a música é sobre sentimentos. Não é sobre comunicar os sentimentos, mas sobre expressá-los de uma forma que quem escutar irá sentir a mesma coisa que o músico sente ao cantar aquela canção. É empatia. Claro que para isso é preciso que o músico esteja sentindo algo enquanto canta.

A diferença é sutil, no final das contas. Em todo caso, o anime contrasta a canção de amor de Desmond com o discurso de ódio de Valerie, e o que se conclui disso é que se trata então não de apenas comunicar ou convencer, mas de conquistar corações.

 

 

No episódio seguinte, Flora parece ser o oposto de Desmond, e de certa forma é, e exatamente por isso ela reforça a mesma mensagem.

Flora gostava muito de cantar e tinha talento para isso, mas ao mesmo tempo ela veio de uma família muito pobre, sofreu muito por causa disso, e portanto estava determinada a se tornar rica a qualquer custo para fugir do ciclo de pobreza que tolheu seus pais.

 

 

Ou ela achou, quando ainda era jovem e cheia de potencial, que estava disposta a pagar qualquer preço. É por isso que o elogio, mas também o alerta, de tanta gente importante como Skip, Tobe, Desmond, é tão importante para Carole e Tuesday: para que elas não sigam o caminho maldito que Flora seguiu.

E que, em outra arte, em outro palco, Valerie, mãe de Tuesday, está seguindo.

Gus melhor do que ninguém deveria saber que deve evitar que elas caiam nessa armadilha. A sua recusa ao contrato com a Brightest Records, de Catherine, deve ser revista sob outra luz após esse episódio.

Flora e Gus parecem ter desenvolvido um relacionamento platônico. Em mais de um momento pareceu que o que havia entre os dois não era apenas o que há entre uma artista e seu empresário, por mais próximos e amigos que sejam, mas não ultrapassou nenhuma fronteira também.

Isso pode ou não ter sido um fator que contribuiu para o desastre que se seguiu. Flora conseguiu um contrato com uma grande gravadora, mas não haveria espaço para Gus. Como ela queria enriquecer, aceitou. Eles se separaram e nunca mais se viram.

Flora sempre se sentiu culpada pela decisão, porém, e isso destruiu lentamente sua carreira. Nem as falsas amizades e romances, nem as drogas, nada conseguia preencher o vazio que ficou com a separação de Gus, e, sem esse sentimento, ela aos poucos perdeu a vontade de cantar.

 

 

Eu sou uma pessoa pragmática. Não acho que a decisão dela tenha sido errada. Era a carreira dela, o sonho dela! Flora acreditou que daria certo, mas não deu. Sentiu-se tentada a procurar Gus, mas não procurou. Deveria ter procurado.

Gus também quis procurar Flora quando escutou boatos de que ela estava passando por maus bocados, mas nunca mexeu um dedo. Ela desapareceu.

Esse foi o erro deles. Foram orgulhosos demais para superar o passado e ao fazer isso condenaram o futuro.

 

 

Conforme as trevas se adensam na subtrama política de Carole & Tuesday, as heroínas precisarão aprender logo o verdadeiro significado da música e seu poder para conquistar corações.

É brega, mas creio que seja esse o caminho para o qual o anime está caminhando: através da música elas irão reconquistar com o amor corações até então preenchidos pelo ódio instigado pela tóxica campanha eleitoral e os interesses indizíveis por trás dela.