Oni (Live action) – Gerações amaldiçoadas
Oni é um curta metragem produzido pelo Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias e St. Jude Films. É um curta de terror de 18 minutos que achei por acaso no Youtube e do qual gostei. É bem produzido, tem uma premissa interessante e apesar do pouco tempo demonstra qualidades.
Aqui você pode conferir o canal do youtube do St. Jude Filmes, um grupo de São Paulo que produz curtas, clipes, web séries, entre outros. Ainda que não tenha a ver com a cultura oriental indico que você confira o canal.
Aqui está o link para o curta que comentarei a seguir, Oni. Dirigido por Weslei Mata, escrito por ele e Jennifer Brito e muito bem musicado por Natacha Ito e Breno Shinn. Sem mais delongas, vamos a Oni!
A falta de internet de qualidade no momento em que escrevo este artigo me impede de pesquisar mais a fundo sobre o St. Jude Films, mas pelo que entendi se trata de um grupo paulista que faz produções audiovisuais e lança esse conteúdo no youtube.
Confesso que fiquei impressionado com a qualidade do curta Oni, talvez até mais do que com as atuações, que são boas, mas há pouco tempo para desenvolver uma história, então sinto que não posso exigir muito dos atores.
De toda forma, São Paulo é a cidade com a maior colônia de imigrantes japoneses fora do Japão, então não é incomum que descendentes de japoneses atuem em produções audiovisuais brasileiras, muito menos que um grupo brasileiro produza um curta livremente inspirado nas histórias de terror japonesas.
Aliás, deduzo que alguns sejam descendentes de japoneses, mas não estranharia se houvesse um japonês na equipe de produção ou no elenco, pois o curta é cheio de diálogos em japonês que fluem naturalmente e isso me faz enxergar verdade na produção, como se os envolvidos tivessem boas condições de fazer o trabalho.
Na história somos apresentados a três gerações de uma família marcada por uma maldição que tem início no Japão, mas pegou carona na imigração japonesa e chegou a terra do pau brasil. Natsuko Kimura é a personagem que encarna o nascimento da maldição em 1865, após passar por um forte trauma devido ao abuso que sofrera do pai. Tsunako Kimura é uma imigrante nipo-brasileira impedida de retornar a sua terra natal em 1943 por causa da guerra. Bárbara Haruka Kimura é uma jornalista que vive em São Paulo e quer descobrir os mistérios que cercam sua ancestralidade sinistra. Para ligar ainda mais essa linhagem tem a maldição que há mais de um século atormenta as mulheres da família.
A narrativa alterna entre esses três planos no intuito de mostrar como a maldição surgiu e como ela afeta as gerações seguintes. A história dá a entender que uma entidade sobrenatural, o Oni do título, foi criada com a morte de Natsuko e esta persegue as mulheres de sua linhagem quando elas se envolvem romanticamente com alguém.
Se há mais detalhes que provocam a manifestação do Oni isso não fica claro, mas o fato das duas descendentes se envolverem romanticamente com pessoas que normalmente seriam descartadas na tentativa de se manter a “pureza” de uma linhagem sanguínea me levam a crer que o Oni se manifesta quando capta “transgressões”.
O parceiro de Tsunako não é o pai dos filhos dela e não pareceu ter traços de japoneses, já a parceira de Bárbara é justamente uma ‘parceira”. Esse Oni é muito conservador, o que faz sentido se pensarmos que ele surgiu dos sentimentos negativos que a mãe de Natsuko nutria.
Como há uma distância de mais de 150 anos entre a origem da maldição e o que ocorre com Bárbara creio que outras mulheres poderiam ter sido representadas, mas isso careceria de um orçamento maior, então trabalhar com esses três momentos me pareceu o mais adequado.
Gostei do tempo de tela distribuído para cada plano, mas senti falta de uma história propriamente dita, o que o curta mostra são recortes, especificamente os relacionados ao Oni. É em meio a eles que quem assiste pode entender a situação de cada uma das mulheres, e é devido ao interesse de Bárbara que se pode entender melhor as circunstâncias de Natsuko.
Tsunako pouco contribui para se entender a origem do problema, mas em compensação seu trecho é útil para passar a ideia de que a maldição se estende há tanto tempo. Aliás, o terror japonês explora muito isso, os sentimentos negativos e a longevidade deles, além da conexão entre o tradicionalismo e o misticismo.
Não à toa a frustração da mãe por não ter sido capaz de manter a família nos eixos, como ela acreditava ser o correto, foi o catalizador para a maldição e criação do Oni.
Não vou comentar o final do curta, pois acho que as chances de você não ter visto ele antes de ler este artigo são maiores do que ter visto, mas posso dizer que também gostei dele.
Até nisso o conto me lembrou as histórias de terror japonesas e, tirando a tela cortada e o pouco tempo para uma história ser desenvolvida, gostei bastante dos cenários, das roupas, dos cortes de cena, mas, principalmente, da trilha sonora.
Ela ajudou a criar uma atmosfera, essa muito prejudicada porque assisti o curta no horário da manhã, o que eu não indico que você faça para possibilitar a imersão na trama ou o mais próximo possível disso.
Não gostei muito do momento jump scare que teve, mas ele pode ter sido prejudicado justamente por eu não ter visto nas condições mais “propícias”, então acho que o susto pode variar de pessoa para pessoa.
Contudo, não acho que a ideia era assustar, mas sim refletir sobre o que de ruim provocou a maldição e afetou a vida dessas mulheres. Talvez não tão profundamente, pois a história não deu tanto para o público analisar, mas foi o suficiente para se tirar algo de valia do trabalho.
Por fim, posso dizer que foi uma produção bem decente para as condições que os produtores aparentavam ter. os diálogos em japonês e o fato da história se passar lá e aqui; claro, deve ter sido tudo gravado no Brasil; contribuíram para que eu conseguisse ver uma mistura bacana entre a cultura japonesa e a brasileira.
E uma mistura autêntica na medida do possível, levando em consideração o pouco tempo que o filme tem e suas condições de criação. Se esse é o nível médio de qualidade do St. Jude Filmes é certo que verei outras produções do grupo. Só espero que não tenham a tela tão cortada.
Até a próxima!