Shironeko Project: Zero Chronicle é adaptação de um game que nunca ouvi falar, mas com a estreia do anime deixou claro qual o conceito da história, o equilíbrio entre luz e escuridão, não exatamente bem ou mal. Isso basta para tornar o anime interessante? Acho que sim, minimamente. Enfim, vamos ao texto?

Era uma vez um castelo no céu e um gato borralheiro, um gato negro, que se apaixonou por uma gata nobre de olhos azuis, uma gata branca. Não é um conto de fadas o que descrevo, apesar da introdução ter feito parecer isso. Imagino que para os amantes de gatos tenha sido uma pena não terem citado a figura felina após o início, mas não era necessário, pois a estreia expôs razoavelmente bem qual a proposta do anime.

Existe um reino no céu, imerso em luz, e um reino na terra, imerso em escuridão. Cada metade do episódio se encarregou de mostrar um dos lados no que imagino ter ocorrido ao mesmo tempo. A primeira metade foi pouco feliz em execução, a segunda pouco ou nada errou, o que não significa que tenha acertado muito também.

Na primeira parte somos apresentados ao garoto do reino da escuridão, alguém pobre e “azarado”, como se a corroborar com uma ideia de que quem está por baixo deve ascender do fundo do poço. Isso é bom? Sim, ao menos conceitualmente faz sentido.

Contudo, a conveniência (mascarada como sorte ou destino) escancara a pobreza do roteiro. Ver o vilarejo em que vive ser massacrado e pouco depois ter um encontro predestinado não é muita coisa para o pouco tempo que foi, questão de horas?

Aconteceu tudo muito rápido e, pior ainda, não fazia sentido algum enfrentar monstros passando a ideia de conseguir lidar com eles se no final o que ocorreu foi um massacre. Não que os adultos devessem deixar o desespero transparecer para as crianças, mas se os monstros desse mundo são tão fortes comparando com os humanos, como eles conseguiram sobreviver até aquele momento e por que rumaram para a morte? Vê como não há lógica nisso tudo?

O encontro predestinado segue nessa linha, pois não fica claro o que aquele nobre estava fazendo naquele fim de mundo. Eu entendi que ele perdeu para o rei e não tinha muito tempo de vida, mas não parece muito conveniente ele ter parado logo ali e o garoto ter chamado tanto sua atenção? E não só isso, ele testou o moleque e se afeiçoou a ele. Todo seu azar se tornou sorte das grandes em questão de minutos.

Menos mal que o diálogo e a luta não foram ruins. Em circunstâncias mais comuns, se passassem a ideia de gradatividade nos eventos (por exemplo, como ele virar aprendiz do nobre) eu não acharia o que o ele fez estranho, mas se ligar a um garoto que ele só conheceu minutos antes de morrer e confiar algo tão importante a ele me pareceu demais. Não só isso, o moleque chorou copiosamente quando o velho morreu. Era mesmo para esse dramalhão todo?

Creio que não e por isso achei a primeira metade desequilibrada. Conceitualmente a ideia não foi ruim, mas a forma de desenvolvê-la não foi a melhor. Para não escrever que desgostei de tudo, menos mal que não passaram a ideia de que o reino da escuridão é só um reino do mal. Talvez o reino da luz considere o reino da escuridão maligno, pelo menos parte dele, mas, sendo assim, integrantes do reino da escuridão também devem pensar isso do outro lado, né?

Há uma oposição, uma dualidade, mas pelo menos a figura mais importante de um dos lados, a rainha da luz, compreende a importância da existente dos dois reinos, a necessidade do equilíbrio entre eles. Assim ela dá a entender que sabe não deter a verdade, não ser a dona da razão, mas claro, sabendo também que não está totalmente errada, e isso deve valer para o outro lado também (creio que com a ascensão do garoto ao poder).

Na segunda metade do episódio a co-protagonista já está na posição mais alta dentro do reino, já está em uma situação definitiva em que não precisa se provar para mais ninguém, diferente do garoto, seu provável par romântico na trama.

Sendo assim, novamente a apresentação de personagem corroborou com o conceito da obra, não errando devido as circunstâncias (foi uma luta com a apresentação dos personagens e o anúncio de outra luta, quase não tinha o que avacalhar, né), mas também não entregando nada de novo ou instigante, seja como ação ou caracterização de personagens.

Se na primeira metade sobra drama, na segunda notei um pouco de ansiedade nos personagens. De informação útil ficou a transmissão da ideia de que há um conflito entre reinos em curso, mas já que as circunstâncias não foram reveladas em detalhes (pelo que cada lado luta e o que foi feito ao outro até então, etc), não tenho como comentar a fundo.

Enfim, Shironeko fez o básico ao definir e apresentar um conceito batido, mas que pode ter seu valor de acompanhar caso desenvolvido com criatividade e coerência. Vislumbrei um pouco essa possibilidade em detalhes que pontuei ao longo do texto, mas foi só um episódio, né.

Então, acho cedo para garantir que a série não vai se perder em uma lutinha entre o bem e o mal, cada um achando que é o bem e o outro o mal, sem os tons de cinza necessários para explorar com eficiência a dualidade e sua carência de equilíbrio. Tem uma balança na abertura, mais óbvio que isso…

Quanto aos quesitos técnicos, gostei da animação e dos designs (apesar de ter havido uma ou outra cena mais tosquinhas), a trilha sonora me passou batido, mas o CG não, mesmo só tendo havido uma cena relevante com isso no final eu não achei ela o suficiente para reclamar ou elogiar.

Imagino que o anime tenha budget para pelo menos não passar vergonha na parte técnica e ainda que careça de cenas de ação fluídas e sequências elaboradas, se houver consistência (inclusive, narrativa) já vou achar de bom tamanho. E os designs são bonitinhos, né…

Mas nada muito diferente do que já vi em outras adaptações de jogos, a maioria de qualidade no máximo mediana em quase todos os aspectos. Não espero nada de melhor ou pior para Shironeko, vejo potencial usando de boa vontade e acho que se você não desgostou muito da estreia pode assistir para passar o tempo, sem grandes expectativas. Acho isso o melhor a se fazer quando se assiste adaptações de jogos.

Trabalhar com o conceito de luz e escuridão já é algo bem manjado, nascer daí um romance também. No máximo podem trabalhar com a ideia de que a luz não é necessariamente boa e a escuridão não é necessariamente má. Será que conseguem? Mesmo se conseguirem nem isso garante que o anime vai ser realmente bom, mas acho que vou pagar para ver.

Até a próxima!

P.S.: Se entendi bem, há poder da luz no príncipe da escuridão (futuro rei). Sendo assim, não falta é escuridão no reino da luz? Duvido que venha da rainha da luz, mas não é só ela quem compõe o reino, né. Trabalhar com a ideia de que um pouco do que cada um é, ou do que seu reino é, se encontra no outro, ou no reino do outro, pode ser bom e gostaria de ver isso ao longo do anime.

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