Sinto que Gleipnir teria tido uma estreia ainda melhor se os dois primeiros episódios tivessem saído juntos, pois esse segundo ato finaliza muito bem a apresentação da obra e se não revela todos os seus mistérios, abre caminho para isso.

Shuuichi e Aoi selam sua união “pitoresca” com um assassinato, como isso não poderia ser excitante?

Antes de mais nada, com esse segundo episódio fiquei com a impressão de que o recurso erótico da obra existe sim para agradar adolescente tarado, isso é óbvio, mas também dialoga satisfatoriamente com as experiências pelas quais os protagonistas da história estão passando.

Quer forma mais fácil de simbolizar para o jovem uma união com outra pessoa que pegando emprestada a ideia de sexo?

É isso que a obra faz e, por mais que eu não me anime com isso, vejo certo sentido por trás dessa exploração do ecchi, principalmente no jogo de palavras verbalizado pela Aoi, o qual pode sim dar uma impressão diferente do que a cena realmente é, mas, ao menos no caso desse episódio, se alinhou bem ao ato.

Não sexual, é verdade, mas que pôde muito bem pegar emprestada essa conotação. Não ficou tão forçado, né?

Enfim, a animação se manteve ótima, gostei da cena de ação, da trocação de socos e chutes, da fluidez dos movimentos e da manutenção dos designs; além, é claro, da bela trilha sonora que adornou bem as cenas, conseguindo me pôr completamente no clima do anime, me envolver.

Se um anime faz isso é certo que proporcionará um bom divertimento, ao menos se o roteiro por trás das cenas não for tão estúpido.

E o de Gleipnir não é, afinal, deu para entender melhor a Clair com a exposição de seu passado, do que a fez se envolver nesse mundo obscuro, assim como vislumbro muito do Shuuichi em um protagonista como o Kaneki.

Escrevi isso em meu artigo de primeiras impressões, Gleipnir me lembra um pouco Tokyo Ghoul, pois o Shuuichi é alguém que não tem força para fazer quase nada, então, por um bom tempo, deve precisar da força de outra pessoa.

Não duvido que devido a diferenças de personalidade entre os dois no futuro essa parceria seja rompida ou não se mostre mais necessária, não é possível que o Shuuichi seja sempre alguém que precise ser preenchido, que não tenha força de vontade para no mínimo se defender sozinho.

Por outro lado, acho mesmo que se trata de uma boa combinação, afinal, funciona como um chamariz para a obra, a ideia de que uma garota “penetra” um garoto e eles lutam juntos não chama atenção?

Essa conotação sexual “embutida” com certeza atrai o interesse de muita gente, seja garoto ou garota, então entendo o sucesso do mangá que levou a produção de um anime com valores de produção tão bons.

Além disso, sentimentos como tristeza e ansiedade são quase inerentes aos jovens, então não é difícil o público ter experiência com o que eles estão passando. Okay, nem todo mundo tem os pais mortos pela irmã ou vira monstro (isso ninguém, espero)…

Mas você não precisa ter passado por esses eventos “únicos” para entender um pouco da dor que eles sentem, ainda mais se faz parte do público alvo, adolescentes e jovens adultos.

Acho que já não me encaixo muito aí, mas sinto que um pouco mais novo gostaria ainda mais de Gleipnir. Não que eu não seja jovem, só consigo me desprender mais porque há muito não me sinto como se o mundo tivesse uma arma apontada para a minha cabeça…

Enfim, as cenas em que ela entra ou sai dele, além da cena final em que se esparrama nos braços monstruosos de pelúcia, foram um tanto cruas ao tratar dessa ideia de conexão, de dois tornarem-se um, mas acho que foi exatamente isso que me conquistou, a maneira como isso foi trabalhado.

Muitos jovens, ainda mais introvertidos como o protagonista, se sentem assim mesmo, vazios por dentro, insignificantes, incapazes de mais.

Sendo assim, essas pessoas acabam dependendo de alguém ou algo que as preencha, seja um relacionamento (como é o caso do Shuuichi) ou algo mais material (e nesse caso mais palpável, porque o relacionamento dos dois é incomum), a carência é a mesma.

O Shuuichi é assim e a Clair, muito cheia de si no sentido de saber o que quer e o que fazer para conseguir o que quer, se aproveita disso para usufruir de seu poder.

Ela sabe que precisa dele e está disposta a usá-lo, a pergunta é, ele está disposto a ser usado? A cena final em que o garoto a salva e dá a entender que compactuará com suas ações meio que responde isso.

Ele deve hesitar, tenho certeza de que vai querer fugir do pacto firmado com a garota, mas não terá como viver sem ela ainda por um bom tempo, não enquanto a dependência dele for o que alimentar essa relação simbiótica.

E não é como se ela não dependesse dele, eu sei que depende, mas quem garante que ela não usaria outro monstro se isso a favorecesse?

Ela já perdeu os pais, mortos pela irmã, e as seguidas tentativas de suicídio levam qualquer um a pensar que ela não tem nada a perder, ainda que não queira perder. É como se o tiro que deu só pudesse ser dado porque ela está disposta a ir até as últimas consequências para conseguir o que quer.

Também sei que as tentativas de suicídio têm o propósito de envolver ainda mais o garoto, de passar para ele a ideia (ainda que ela possa ser ao menos em parte falsa) de que ela precisa dele, que ele a ajuda a continuar vivendo.

Contudo, mesmo levando isso em consideração, dada a experiência traumática que passou e claramente fodeu com a sua cabeça, me parece que ela aceitaria o risco de morrer em qualquer situação.

O que quero dizer é que ela atira porque tem culhões para receber o tiro, que não é só conversa, diz e faz, e até por isso não consigo não enxergar beleza na personagem. Mas ela precisava ter matado a garota a sangue-frio?

Você pode achar que não e não seria incomum responder assim, mas eu penso que sim. Seria idiotice ela achar que poderia entrar nisso sem sujar as mãos, ainda que não fossem exatamente as mãos dela a fazer o serviço.

A outra garota assumiu um risco que não parecia preparada para correr (e ela nem poderia correr com a perna quebrada, né hahahahaha), não à toa foi morta e tenho a impressão de que se tivesse tido mais tempo teria implorado por sua vida.

Vai fazer falta? Não, ainda há personagens interessantes a serem explorados como o cara da moeda (que parece estar por trás de tudo) e a irmã da Clair, além de outros que aparecem na abertura.

Aliás, o anime mal começou, uma cabeça rolar agora não vai fazer falta, ainda mais se uma vida for tomada para mostrar a seriedade com a qual a obra quer ser tratada.

Pessoas morrem, pessoas são mortas, se você tem poder isso pode não te dar o direito de tirar uma vida, mas quem vai te impedir senão alguém mais forte?

No fim, a Clair é uma assassina e o Shuuchi não foi cúmplice, mas sim co-autor do ato (foi o poder dele que matou a menina), e isso não é um problema.

Seria um problema se Gleipnir tratasse a violência a que se propõe com leviandade, flertando com ela sem realmente acessá-la, mas não foi isso que aconteceu e não deve ser isso o que vai acontecer.

Pelo contrário, como a própria “heroína” disse ao “herói”, o lamaçal de merda no qual os dois vão se afundar ainda está é raso, e nele eu vou pagar para ver o que sairá da união entre esses dois, o garoto vazio e a menina vil.

Por fim, aquela cena final praticamente contou que a pelúcia em que o Shuuichi se transforma só existe devido ao sacrifício de uma garota que gostava dele.

O bichinho na bolsa dela dá a entender que ela se fundiu a ele e se tornou o poder do Shuuichi, afinal, ela própria declarou que queria estar junto dele.

Só não entendi se ela é irmã da Clair, se for aí a ideia de destino vai parecer ainda mais “descarada” do que sempre é nos animes…

Mas sendo ou não sendo, é possível que o dono das moedas tenha a transformado de sacanagem, se não for esse o caso, então a garota era pirada ao ponto de querer se tornar aquilo que transforma o amado em monstro só para estar com ele.

O próximo episódio carrega o nome da irmã da Aoi, então minhas dúvidas não devem demorar a começar a ser esclarecidas e, seja como for, ainda não consegui sacar direito a mecânica desse barato.

E isso eu acho legal, gosto de descobrir as coisas gradativamente, ao menos se o anime me diverte e instiga na medida certa para não ver problema em esperar, para até achar isso divertido.

Em todo caso, Gleipnir teve outra ótima semana, tanto que você só segue a regrinhas dos três episódios se quiser, com esses dois já dá para ter uma bela noção de como será.

Não tenha medo de ser “penetrado” por Gleipnir, fica a dica e até a próxima!

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