Yesterday wo Utatte – ep 2 – O amor confunde a nossa cabeça!
O desabrochar das cerejeiras faz Shinako lembrar do amor que perdeu, a professora vive presa ao passado e se há uma época que vislumbra quando se perde em pensamentos é o ontem.
Não é só o Rikuo que não consegue sair do lugar, ainda que a parada no tempo se dê em aspectos diferentes de suas vidas. Cante “Yesterday” para mim segue sendo um anime maravilhoso.
Shinako cortou o cabelo curto com qual propósito? Tentar se olhar no espelho e enxergar algo diferente do que tem visto nos últimos anos? Ou talvez foi uma espécie de penitência por ainda não conseguir seguir em frente mesmo após seis anos da perda de um grande amor?
Posso confessar uma coisa para você? Já fiz o mesmo que ela, ainda que por outro motivo…
Faz uns dez anos que não tomo refrigerante, e como a Haru nunca tomei um gole de bebiba alcoólica, não por motivo de saúde, mas sim por querer me “punir” devido ao fora que levei da minha paixonite no médio (na verdade, nunca quis me esquecer da vergonha que senti pela situação desconfortável que criei para mim mesmo).
Então sim, interpreto a mudança dela como algo parecido, mas o pano de fundo é mais…
Mais triste, não ao ponto de fazer o público chorar, acho que não, mas com certeza ao ponto de fazer muitos dos que não simpatizavam com ela repensarem a primeira impressão.
Em momento algum Shinako foi leviana com outra pessoa nessa história e sim, ela tem todo o direito de não querer explicar a situação, ainda que não queira escondê-la.
Se já me acha idiota pelo que fiz na adolescência garanto que não vou me usar como exemplo mais que o necessário, mas sim, tem outro ponto em que me identifico demais com a professora (é como se eu fosse uma mistura de Rikuo e Shinako, e não me orgulho disso…) e é na dificuldade em seguir a vida após um relacionamento mal-sucedido.
A pessoa a qual me refiro não morreu, felizmente, mas ela morreu para mim. Você entende?
Aposto que entende, porque é bem provável que você já tenha passado por algo do tipo, eu só espero que não tenha demorado seis anos para processar…
Não vou afirmar que ainda continuo parado no tempo nem vou desconversar que não, a única afirmação que quero fazer é que sim, não há data para esquecer ou superar, cada um tem um tempo e às vezes nem todo o tempo do mundo é suficiente para curar o coração.
É involuntário, como a paixão descrita pela Haru, é algo que acontece, floresce em você e quando você se dá conta não tem mais como controlar…
Quando vai acabar, se vai acabar, como vai acabar, se vai acabar com você. É impressionante como o texto da obra se conecta o tempo todo, vai se complementando, não acha?
Outro exemplo, parece imaturo por parte da Shinako se manter presa a algo que não pode ser mudado, mas, por outro lado, como a julgar por se manter fiel aos seus sentimentos?
Ser adulto não significa ter as respostas para tudo e muito menos o equilíbrio emocional que a sociedade espera de nós. Sendo assim, dá mesmo para taxar alguém incapaz de progredir em algum aspecto da vida como imaturo?
Isso vale para a Shinako, mas também para o Rikuo, ambos estacionados no tempo por razões diferentes, ambos em uma situação incômoda que tem resposta lógica, mas cuja lógica quase nunca se alinha a emoção.
Manter a amizade após tomar ou dar um fora não é para qualquer um e, vamos ser realistas aqui, os dois foram bem em se afastarem até segunda ordem. Eles admitiram que não tem maturidade suficiente para seguirem como estavam.
E sabe o que eu acho? Que, ainda que sem intenções românticas, ela projetou o amor de infância no Rikuo, porque ela é assim mesmo, alguém cujo amor está relacionado a cuidar.
Isso não significa que ela estava usando o amigo (ao menos não em um aspecto nocivo), nem que foi sacana ao não dar uma chance para ele quando se confessou… só significa que ela é assim. Aliás, isso reforça como é difícil para ela se desprender.
Por que afirmo isso? Porque de outra forma ela teria se apaixonado pelo amigo, mas não foi o que a gente viu até aqui. Ela mantém seu olhar desolado para o passado e nutre um medo enorme de se machucar no futuro.
Como não entendo a dimensão da dor de perder uma pessoa que se ama (perder no sentido de morte) não acho que posso e nem quero julgá-la, e espero que você não seja leviano(a) a ponto de fazer isso.
Shinako é fraca, mas ao mesmo tempo é forte, o que também vale para o Rikuo e a Haru; um é forte para perceber quando precisa se afastar, a outra para manter a máscara e agir imaturamente escondendo sua dor e insegurança, dignas de alguém que não teve escolha senão amadurecer na marra.
Isso se o que ela estiver passando puder ser chamado de amadurecimento (a vida dela não tem equilíbrio, né).
Aí fica o questionamento, dá mesmo para achar que ela é “madura” para a idade se tem que engolir todas as coisas ruins pelas quais deve ter passado ou ainda está passando e agir como se não existissem?
Acho que não, não à toa até sua infantilidade (presente na ideia de declarar guerra a ex-professora) parece forçada, como se fizesse isso para se lembrar que não pode desistir, deixar ser engolida.
A Shinako me preocupou sim nesse episódio, mas o problema dela é algo que diz mais respeito a ela e não tem como ser resolvido de outra forma senão com o tempo.
Contudo, o mesmo não posso afirmar da Haru, ela carece de uma atenção especial e mal posso esperar pelos episódios em que a heroína começará a ser realmente aprofundada na série.
A confissão dela, de que sua ex-professora não tem culpa no cartório, só me deixou mais preocupado…
Em aspectos distintos os três são muito parecidos, aliás, os quatro, pois o novo personagem introduzido, o Rou (segundo as imagens promocionais do anime ele deve ser relevante), gosta da Shinako e ainda não se tocou, ou não quer admitir, que não tem chance com ela.
Ele também parece preso ao passado, mas por um motivo que não acho tâo interessante especular agora (certamente tem a ver com a Shinako e o irmão), afinal, apareceu pouco, conhecendo mais o personagem devemos “sacar” mais ele.
Ademais, o que posso comentar sobre o episódio? Que adorei todas as cenas, especialmente as mais pungentes, destacando as do parque e a na frente da casa da Shinako, mas sem esquecer das cenas mais simples, como a fugida da confraternização ou a do Rou pintando.
Parece que o anime não desperdiça tempo com nada. A professora saiu mais cedo porque precisava pensar, além de evitar se envolver demais com as pessoas, já o Rou tem “alma de artista”, então não vou me surpreender se for um cara realmente sensível.
Acho a animação tão bonitinha e cortar a abertura, mantendo apenas uma música com montagem de créditos finais, foi tão benéfico ao ritmo da trama que me assombra como é gostoso assistir o anime.
As cenas mais importantes fluem naturalmente entre as cenas pontuais e até a intercalação de cenas que revelou o “segredo” da professora se apresentou de maneira tão adequada que só estaria sendo chato se escrevesse que acho esse tipo de construção conveniente (apesar de eu achar mesmo).
Yesterday wo Uttate se debruçou ainda mais sobre o ontem e nem vou começar a parafrasear letra de música aqui senão esse artigo não acaba mais, pois se até o amor da Shinako corre o risco de “acabar” um dia, quem dirá as impressões de um tolo, mas experiente em ter o coração partido, feito eu?
É um alívio que esse anime continue ainda melhor do que era ontem.
Até a próxima!