O que esse episódio tem de mais importante é o que é dito e o que é subentendido no diálogo que os personagens (principalmente o Haruhiro e a Mary) têm no começo do episódio, antes mesmo da animação de início. É ali que citam e resolvem a maioria dos seus problemas até agora. É o fim do arco da Mary.

O resto do episódio resolve coisas importantes para os personagens mas nem tanto para o anime em si. A vingança pelo Manato não tem tanta importância para o espectador porque ele não era um personagem muito carismático (a bem da verdade, poucos ali são carismáticos para a audiência). A questão moral do anime foi tocada bem de leve e meio que tentou se encaixar tudo, com sucesso variável ao longo do episódio.

Goblins jogando xadrez

Goblins jogando xadrez

A primeira coisa que chamou a atenção dos espectadores e do Ranta (desculpe-me, eu errei o nome dele no artigo anterior mesmo) foi o fato da Mary agora estar chamando o Haruhiro apenas de Haru, um sinal de intimidade. No final do episódio o Haru diz a ela que ninguém nunca havia chamado-o assim, e é verdade: eu conferi e a Yume chama o Haruhiro de Haru-kun, adicionando o honorífico japonês. Sua legenda pode ou não estar trazendo esse “kun”, se não estiver, apenas acredite em mim. No Japão, a Yume já se refere ao Haruhiro de forma razoavelmente íntima por usar versão reduzida do nome, mas não usar honorífico algum é apenas para pessoas muito próximas. Quando foi que a Mary ficou próxima assim do Haruhiro?

Eu tenho um baralho de hanafuda e sei jogar koi koi, mas não sei o que eles estão jogando

Eu tenho um baralho de hanafuda e sei jogar koi koi, mas não sei o que eles estão jogando

Até onde eu pude apurar aqui ela nunca usou honoríficos (e quase nunca usa sequer nomes). Assim, ela está no máximo na mesma situação da Yume, apenas não tem o costume de usar honoríficos por algum motivo. Considerando o nome ocidental dela, ouso dizer que ela simplesmente não é japonesa. Pois é, não se pode esquecer que eles foram transportados do mundo real para o mundo de Grimgar. Por que apenas japoneses seriam abduzidos, não é mesmo? A única coisa que mudou então é que agora ela confia neles (especialmente no Haruhiro, que é o líder do grupo e foi quem, ao fim e ao cabo, nunca desistiu dela – e claro que não descarto que tenha desenvolvido uma quedinha por ele, mas isso agora não importa), é amiga deles. Aliás, o Haruhiro também nunca usou honorífico para falar com ela, não prestei atenção nos demais personagens (apostaria que a Yume a chama de Mary-chan porque “é fofo”). O escândalo todo do Ranta é quase um despiste, porque não é isso o que importa.

Ranta e Yume armando emboscada

Ranta e Yume armando emboscada

A Mary agora é amiga deles. Não é que ela não quisesse mais ter amigos desde a morte dos membros de seu grupo, mas sim que se considerava culpada e evitava se aproximar de outras pessoas emocionalmente. Ela queria pessoas, queria amigos, mas não queria ela ter que se comprometer porque tinha medo de fracassar de novo. O medo que ela expressou de ser expulsa do grupo no episódio anterior é uma boa demonstração disso. Nesse episódio, durante o discurso do Haruhiro, ele falou o que ele faria se estivesse sozinho, e a Mary disse: você não está sozinho. É lógico que ele nunca esteve sozinho, mas a Mary dizer isso tem um significado especial: ela agora se inclui entre as pessoas que fazem parte da vida do Haruhiro. Ela agora tem amigos, e por isso ela diz, também no diálogo no começo: não vou deixar mais nenhum amigo morrer.

Não foi fácil

Não foi fácil

Haruhiro lamenta a morte do Manato, e a Mary lamenta a morte de membros de seu antigo grupo. Os dois se sentem culpados, responsáveis pelas mortes, com um detalhe que torna os casos complementares e é explorado pelos personagens: no grupo do Haruhiro foi o sacerdote quem morreu, no grupo da Mary foi a sacerdotisa (ela, no caso) quem deixou o grupo morrer. O fato deles se completarem permite não apenas a empatia, mas que a Mary possa sentir uma fraçãozinha da vingança pelo seu grupo quando o grupo do Haruhiro obter a vingança dele.

O que acontece logo em seguida, não sem algumas dificuldades. Os goblins dessa vez estavam mais humanizados que o normal, jogando xadrez, hanafuda, e vivendo de forma razoavelmente humana em uma grande edificação humana. Durante o combate os goblins demonstraram grande conhecimento de poderes e táticas tipicamente usadas pelos humanos, mais ou menos como humanos memorizam as táticas dos “monstros” para derrotá-los com mais eficiência. Quando Manato morreu já havia ficado claro como aquele grupo de goblins era organizado quando conseguiu realizar aquela emboscada e com aquela capacidade de dividir tarefas, e esse episódio apenas ratificou o quão “humanos” eles eram. Mesmo assim, Ranta sentencia: é matar ou morrer.

Não foi fácil mesmo

Não foi fácil mesmo

Muito tempo se passou (só até o episódio 3 foram 23 dias, conforme relato do Haruhiro) e acredito que a essa altura eles já tenham se acostumado com “as coisas do jeito que elas são”, mas não se esqueceram. A propósito, acho que é importante falar sobre a passagem do tempo no anime. A maior parte do tempo se passa sem que percebamos. Em alguns episódios (nesse inclusive) há longas cenas sem falas, estáticas ou semi-estáticas, apenas com trilha sonora, o que é comum em uma cena que queira denotar “passagem de tempo”. O interessante é que na maioria das vezes nessas cenas relativamente pouco tempo se passa. Quase sempre apenas um dia. Quando acompanhado de um monólogo do Haruhiro mais tempo pode se passar, e foi o caso quando ele relatou o crescimento do grupo matando goblins e se preparando no episódio anterior para o grande dia nesse episódio. No primeiro episódio estava tão quente que os garotos dormiam sem camisa. Com o passar dos episódios passaram a dormir com camisa, depois cobertos de palha, e nesse episódio começou a nevar. Meses podem ter se passado.

Há outros sinais, mas no geral Grimgar poderia fazer um trabalho melhor contando a passagem do tempo. É a falta de noção de quanto tempo realmente se passou que pode tornar estranho para algumas pessoas a aparente velocidade com a qual o relacionamento da Mary com o resto do grupo se desenvolveu: no episódio anterior ela ainda mal falava com eles, e agora está tratando o Haruhiro por apelido carinhoso? Ocorre que semanas, talvez um mês, talvez mais, se passaram entre a conversa franca que Haruhiro e companhia teve com ela no episódio anterior e o começo desse episódio. Aquela conversa onde todos a chamaram de amiga quando ela já estava preparada para ser expulsa de mais um grupo. Os sinais estão nos dois episódios, embora talvez não sejam tão claros.

Mas se for para eleger um único ponto negativo nesse episódio, foi a animação. Não foi especialmente horrível, mas foi inconsistente e eu esperava muito mais da cena de luta. Na cena do túmulo fizeram um efeito de giro da câmera que ficou super bem animado, mas que não combinou com a cena nem foi consistente com o que Grimgar vinha fazendo nesse tipo de cena emotiva até agora. Ao mesmo tempo, a luta pareceu bem básica, pior até que outras lutas menos importantes e mais inconsequentes de episódios anteriores. E o que será que vem agora?

A Mary agora consegue sorrir

A Mary agora consegue sorrir

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