No artigo anterior falava sobre a sorte da Adachi e, contrariando minhas expectativas, ela se manteve, diria até que aumentou, pois nesse episódio a Shimamura foi uma verdadeira MVP e agradou tanto a gregos (fãs da Adachi). quanto a troianos (fãs da Tarumi, tem algum?). É hora de Adachi to Shimamura no Anime21!

A analogia com um pet feita pela Adachi foi muito divertida e penso que faz sim bastante sentido, não que a Shimamura a trate como um animalzinho de estimação, mas a Adachi certamente reage de forma muito devota as ações da amiga. São reações naturais que geram cenas como a da Shimamura sussurrando no ouvido dela, um momento fofo que teve uma conotação diferente por vermos a história pelos olhos da Adachi naquele momento.

Algo que foi além das impressões da Adachi já foi a alegria da Shimamura, a qual a princípio não entendi bem, mas com o tempo se explicou e nos proporcionou uma sensação pitoresca, pois enquanto é o normal gostar da Shimamura ter feito preparativos para o momento especial com a melhor amiga, também é normal a satisfação provida pela atenção dada a amiga de infância, ainda que com um desconforto natural a situação.

Porque faz sentido o contraste entre a expectativa e a realidade; entre a expectativa da Tarumi de que a Shimamura lembraria de detalhes da infância das duas e isso retomaria a intimidade que tinham, e a realidade de que elas estão afastadas há muito tempo, mudaram no período e não tem mais a mesma “química”. Essa química não existe só em romance, na amizade também é preciso entrosamento, intimidade, sincronia com o outro.

As duas estavam em dissonância, em frequências distintas, mas, mesmo assim, o ato da Shimamura na despedida ajudou a deixar a Tarumi tranquila, ciente de que não havia má vontade ou desinteresse por parte da amiga, de que a incapacidade de ambas de criarem um clima confortável era algo natural, mas que isso não significava que o tempo que passaram juntas não recuperaria lembranças ou as relembraria do carinho uma pela outra.

Essa abordagem em paralelo, mas que ao mesmo tempo deu as devidas dimensões ao que cada amizade representa (a de infância e a atual) na vida da Shimamura, foi uma das grandes sacadas desse episódio, que foi capaz de fazer o público simpatizar com a Tarumi, ao mesmo tempo em que não esquecia da Adachi. Só que dessa vez não vimos só a Adachi fazendo algo, a Shimamura se esforçou para transmitir seus sentimentos pela amiga.

Além disso, tem dois detalhes de forma que quero elogiar; a simbologia contida nos bombons que a Adachi e a Shimamura comem, e o contorno dos lábios quando as heroínas se aproximam. Os dois bombons eram de coração, mas o vermelho (simbolizando a paixão) era o da Adachi, enquanto o branco (simbolizando a harmonia, a amizade) era o da Shimamura.

Isso com certeza não foi por acaso e você pode até achar ruim que os sentimentos da Shimamura pela Adachi ainda sejam representados com essa conotação mais “branda”, mas não achei isso um problema. Inclusive, talvez seja o contrário, já que ambos tinham formato de coração, então a cor pode simbolizar apenas a maneira como cada uma enxerga seus sentimentos pela outra no momento. A Adachi a paixão, a Shimamura a amizade.

Quanto ao contorno dos lábios, toda vez que os vejo em destaque tenho certeza que não só eu, mas muitos dos telespectadores ficam com a impressão de que elas podem se beijar a qualquer hora e essa “brincadeirinha” me agrada, pois traz a conotação da atração aos momentos que as duas compartilham. Não beira ao ponto do erotismo, mas reconhece que ali pode haver desejo, é uma indicação a isso, e há por parte da Adachi.

Enfim, o contraste entre o passado e o presente foi muito bem representado no passeio das amigas de infância para comprar o chocolate da melhor amiga de uma delas, e ao mesmo tempo que teve seu tom agridoce, também apresentou doçura no momento mais crucial, para não escantear a Tarumi de vez da trama e sim buscar a retomada da conexão enferrujada entre ela e a Shimamura, da qual a Tarumi não desistiu.

E não digo isso nem pela cena em que ela fica de frente para uma Shimamura de cabelo descolorido (a qual pode muito bem ser apenas uma armadilhazinha safada da prévia), mas porque não há motivo para deixar a coisa morrer ali. Continuo achando que a Tarumi nutre um carinho especial pela Shimamura que pode muito bem desembocar em paixão ou já ser uma, mas duvido que a relação delas seja “mal explorada” por isso.

E o que seria mal explorá-la? Provocar um “embate” entre a Tarumi e a Adachi ou cenas de ciúmes muito aberrantes, sem toda a contextualização que havia quando alguém se aproximava da Shimamura e a Adachi reagia de maneira amarga. Esse episódio me passou a impressão de que a trama não vai explorar o clichê da rival amorosa em sua plenitude, o que é um alívio, pois a chance da história perder o tom com isso é grande.

Não que esse tipo de construção narrativa seja necessariamente péssima, mas combinaria mesmo com o que foi o anime até agora? Adachi to Shimamura não é um romance convencional, e é mais assim pela personalidades das protagonistas que pelo fato de serem duas garotas.

Sendo assim, deposito minhas esperanças no bom senso e no bom gosto do roteiro e da direção, os quais arrasam no clímax desse episódio nove, seja pelo momento cômico e fofo da justificativa do desejo pelo abraço ou pela mensagem surpresa da Shimamura. Essa foi para quem achava que só uma agia e se importava com a outra, isso não existe, o que acontece é que uma se sente, ou interpreta o que sente, de forma diferente.

Entretanto, nada implicava que a Shimamura se importava menos ou não se importava com a Adachi, Pelo contrário, porque, primeiro, não caio nessa de querer mensurar sentimentos (prefiro pensar que todo mundo sente e demonstra de maneira própria); segundo, a Shimamura sempre demonstrou atenção e carinho pela amiga, só nunca fez nada para se aproximar com “segundas intenções” por não tê-las exatamente.

Por fim, o importante foi que a Shimamura conseguiu externalizar o que sentia de um jeito fofo, inusitado e sincero, dando uma base considerável para o belo momento dos abraços entre as duas, uma troca de calor que as aproximou cada vez mais e firmou outro marco nesse relacionamento.

Shimamura não quer perder o que tem com a Adachi, que quer o mesmo, se esse amor fraternal se metamorfoseará e ganhará a faceta romântica por ambos os lados só o tempo irá dizer, mas uma coisa é certa, Adachi e Shimamura tem tudo para continuar sendo melhores amigas.

Até a próxima!

Esse episódio foi tão bom que merece uns extras