Shaman King (2021) – Um anime pra se carregar na alma – Primeiras impressões
Você conhece Shaman King, né? Se não, assistindo essa estreia dá para entender bem do que se trata o anime e do que ele deve contemplar, é a aventura do protagonista, Yoh Asakura, para se tornar o rei xamã, tendo em seu caminho o próprio irmão gêmeo, Hao, a reencarnação de um xamã de séculos atrás.
Shaman King é originalmente um mangá battle shounen de Hiroyuki Takei lançado na revista Weekly Shounen Jump entre 1998 e 2004. Na época o mangá não teve um final propriamente dito devido a problemas do autor, mas alguns anos depois uma nova versão foi lançada com mais capítulos e um fechamento para a história. Por aqui temos só a versão meio tankon, com a definitiva para sair em breve, novamente pela JBC.
A obra já teve uma adaptação de 64 episódios produzida pelo estúdio Xebec e exibida entre 2001 e 2002, mas essa não cobriu o mangá fielmente tendo inclusive um final original. O remake é de produção do estúdio Bridge e tem previsão de 52 episódios, além da expectativa de seguir o mangá direitinho. Não vou ficar comparando as duas mídias, fica o aviso. Sem mais delongas, vamos atrás do nosso best place!
Sou muito fanboy de Shaman King, mas vou me esforçar para não ser parcial escrevendo sobre o anime, prometo. E por que gosto tanto dele? Porque vi o anime na globo e li o mangá, ainda tenho alguns volumes dele, meio tankon da JBC, o qual amo de paixão, pois acho não só a história bem legal, mas a arte muito bonita e estilosa, além de abordar temas interessantes com sensibilidade, como a espiritualidade e ecologia.
Enfim, sobre esse primeiro episódio, não lembro de uma cena do nascimento dos irmãos Asakura no outro anime, então essa introdução da conexão entre os dois, o protagonista e o antagonista principal, evidenciou uma característica dessa adaptação, não será feito suspense, o que no fim das contas é meio desnecessário quando a gente pensa que boa parte do público conhece a história previamente.
Essas minúcias não atrapalham necessariamente a adesão de novo público, acho até que podem ajudar a prender o telespectador ao aguçar sua curiosidade. O que com certeza pode atrapalhar é um erro que essa adaptação comete, ainda que tenha justificativas para tanto, o que torna a coisa menos natural para a nova audiência. O ritmo da adaptação é acelerado, me dando até a impressão de exagerar um pouco nesse sentido.
Nem sei se o roteiro do anime é tão fiel ao mangá assim, mas ele me pareceu um pouco inchado nessa estreia. Não deu tempo de curtir tanto as cenas porque as coisas aconteceram muito rápido em tela, não houve tempo para o telespectador respirar. Por um lado entendo isso, são centenas de capítulos a serem adaptados em 52 episódios previstos, mas por outro pode dificultar que uma nova galera se envolva.
Em todo caso, ainda assim o anime apresentou as bases de sua premissa de maneira bacana, além de ter começado a construir alguns personagens que serão relevantes ao longo da jornada. E se a direção não fez nada fora da curva exatamente, destaco as ideias por trás dos personagens e os acontecimentos.
Por exemplo, o Manta é um humano comum que se envolve com o mundo dos espíritos, assim representando o próprio telespectador na trama. Ele demonstra verdadeira obsessão pelo Yoh depois de conhecê-lo. Por que isso? Porque eles são opostos. Manta é um moleque estudioso super pé no chão que ao dar um jeitinho para seguir com sua vida toda certinha acaba se encontrando com Yoh, que está totalmente em outra vibe.
Não acho que a forma do Manta viver seja a ideal, mas também não acho que seja a pior e diria que o mesmo acho do Yoh, a diferença reside nas experiências de vida de ambos que os levaram a ser assim. O Manta e o Yoh são produtos do meio em que foram criados, mas isso não significa que o modo de viver do outro seja errado ou irrelevante e é por isso que é tão bacana reunir personagens assim na trama.
O Manta não vai aparecer com um poder do nada e derrotar um inimigo forte, ele é apenas um observador que vai adentrar o mundo dos xamãs e presenciar os eventos que se seguirão. O contraste existente entre ele e o Yoh é bacana e ate justifica a amizade que desenvolverão. Ele aparece várias vezes já na abertura, então mesmo se você não conhecer Shaman King fica óbvio que o Manta não é personagem de um ep só.
Enfim, outro contraste válido e que justifica a aproximação que ocorrerá (ainda que sua justificativa possa ser meio boba) é o do Ryu da espada de madeira com o Yoh. O Ryu é um delinquente, um valentão, que foi derrotado por um moleque de boassa usando um fantasma e a relação de respeito e amizade que o Yoh desenvolve com seus parças (principalmente dois deles, um desses o Ryu) por meio desses atritos é muito daora.
Por ora, o importante é frisar que essa good vibes do Yoh, como se ele fosse uma existência em um pacing diferente em relação a maioria das pessoas (o que ele meio que é, né) é uma de suas principais características que cativam outras pessoas e faz com que elas o sigam. Não à toa ele aparece rodeado de companheiros na abertura, né, e esse tipo de dinâmica é super comum em battle shounens.
O que eu curto mais é o encaixe, que muito se deve ao conceito do qual a trama se aproveita, a espiritualidade. Sendo assim, faz todo sentido que o Yoh não faça o tipo “cabeça oca clássico”, o que não quer dizer que ele não será meio “cabeça oca”, só que o personagem vê além, deve ter e, ao menos na maior parte do tempo, manter uma postura mais segura e aberta, um charme seu que espero que conquiste o público.
Quanto ao espírito parceiro do Yoh, o Amidamaru não foge de um bom e velho estereótipo, o do samurai resignado em sua honra. e isso nem é um problema, tanto é que a história dele com o amigo acaba tendo apelo simbólico e serve para conectá-lo de vez ao protagonista. Eles terem cooperado para dar uma lição no desrespeitoso do Ryu era uma coisa, para o Amidamaru decidir segui-lo precisava de mais e isso veio.
Eu poderia discutir se era melhor enrolar mais para terminar o episódio com a luta e deixar o passado do Amidamaru para o próximo, mas, honestamente, dada a natureza desse anime (quase que uma retratação pela primeira adaptação) não vejo sentido. A coisa ficou um pouco atropelada, é verdade, mas a qualidade do que poderia ter sido apresentado de história nesses estágios iniciais não perdeu muito com isso.
Porque a luta não tinha muito a entregar além daquilo e narrativamente talvez tenha sido até melhor fechar com o Yoh tendo conquistado não só o apoio do Amidamaru, mas também a admiração do Manta, afinal, ele foi seu salvador e não só isso, demonstrou ser um puta cara legal. Tudo bem que ele tinha interesse na força do samurai fantasma, mas não passa a impressão de que ele aceitaria bem outro desfecho?
Esse é o Yoh, não chamo ele de good vibes à toa. Aliás, é muito por isso que gosto dele porque ele tem uma personalidade diferente da maioria dos protas de battle shounen. O Yoh transita entre a abnegação convicta de uns e a assertividade de outros, não tendo demais de um e nem do outro. Na verdade, é essa a impressão geral que tenho dele, vamos ver se o anime respalda a impressão que essa estreia deu.
Quanto a construção da narrativa nessa estreia, repito, tirando o ritmo um tanto “intenso” não houve nada a destacar nem para o bem e nem para o mal, foi um primeiro episódio padrão para um battle shounen, no máximo não ter terminado após a luta e sim após o lance do espírito foi um pouco incomum. Aliado a isso, a animação cumpriu bem seu papel, mas foi pouco exigida ou se fez pouco exigir.
Não espero um show de animação de um anime que deve ter 52 episódios e não é feito por um estúdio de ponta, então se tiver consistência na maior parte do tempo já vai ser uma vitória. Espero algo a mais quando o bicho pegar de verdade, ainda é muito cedo para avaliações mais minuciosas. Sobre a abertura e o encerramento mesmo, não as achei nada demais, mas talvez precise de tempo para que “cresçam” em mim.
Dar mais espaço a personagens femininas nos encerramentos não é algo novo e ocorre aqui, eu só espero que não justifique deixá-las de canto, coisa que o mangá não faz, ainda que no fim das contas as principais lutas e conflitos envolvam homens e sejam resolvidos por eles. Essa dominância masculina acaba sendo algo tão recorrente em battle shounen que nem tem muito para onde correr, infelizmente.
Ainda assim, espero coisas bacanas da Ana e das outras garotas. Como também espero que a adaptação seja mais fiel ao mangá, mas tenha uma moderação no ritmo que não teve nessa estreia. Teve tanto diálogo corrido e pouco ou nenhum templo para se deleitar com as coisas (eu esperava mais da cena dos espíritos, por exemplo) que isso ligou meu sinal de alerta. Não dá para fazer tudo assim no “automático”.
Por fim, apesar de um receio pertinente, achei essa estreia bacana, nada espetacular, mas longe de ter sido péssima. É muito prazeroso para mim, como fã de longa data, ver um novo anime de Shaman King que tem a perspectiva de adaptar o mangá. Não sei se 52 episódios darão conta, a longo prazo a adaptação pode se mostrar maçante de acompanhar, mas por Yoh e sua turma estou mais do que disposto a correr esse risco.
Até a próxima!