[sc:review nota=2]

Repito aqui o que eu disse no guia quando falava só de minha expectativa para o anime e por óbvio ainda não o havia assistido: acho que a sinopse e o mundo proposto têm potencial, mas está tudo parecendo meio genérico. Esse primeiro episódio foi forte, sem dúvidas, e isso foi planejado. Não meticulosamente planejado com uma história instigante, mas preguiçosamente planejado com uma montagem de clichês inquietantes e perturbadores. E uma ou outra coisa um pouco conveniente demais.

O anime começa cumprindo a sinopse: a humanidade é dizimada por um vírus, apenas crianças até os treze anos de idade sobrevivem. Supostamente foi um vírus criado pelo próprio ser humano, então se pode dizer que a humanidade se destruiu, mas será que foi isso mesmo? Quero dizer, o anime dá a entender que o vírus se espalhou de forma instantânea e homogênea por todo mundo ao mesmo tempo. Para que isso fosse possível, seria necessário que ele estivesse armazenado em vários lugares estratégicos e liberado ao mesmo tempo em todos eles. Com vários eu quero dizer milhões de lugares estratégicos. Isso torna a hipótese de acidente completamente absurda, mas sabe de uma coisa? Acho que a humanidade realmente se exterminou por acidente. O anime que é preguiçoso e burro ao representar isso de forma verossímil. E vou fazer o papel de advogado do anime, defendendo-o contra mim mesmo: como eu poderia saber que o vírus se espalhou pelo mundo inteiro simultaneamente se apenas um lugar de uma cidade foi mostrado? E eu me respondo: porque caiu um avião. Aviões têm seu sistema de circulação de ar isolado do ambiente externo, então é impossível que o vírus da cidade tenha passado para o avião. O vírus efetivamente agiu ao mesmo tempo em pelo menos dois lugares isolados: aquela cidade e o avião que por acaso a sobrevoava.

Imediatamente após o auto-genocídio humano, vampiros marcham pelas ruas anunciando o que aconteceu e capturando as crianças sobreviventes. Faz sentido: com a humanidade subitamente dizimada, com o que resta dela sem uma civilização que a mantenha viva, sem que os sobreviventes sequer sejam capazes de se manterem vivos por conta própria, e considerando que esses vampiros só possam se alimentar de sangue humano, estamos falando de uma espécie inteira que de repente viu sua fonte de comida reduzir-se drasticamente e com perspectiva que o pouco que resta, se deixado à própria sorte, também pereça. É cruel mas simplesmente faz todo o sentido que os vampiros tomem a guarda das crianças e as criem como gado. Elas têm seu sangue “ordenhado” mecanicamente e podem continuar vivendo, tendo teto e comida para viver. De novo, é cruel mas faz sentido. Só deixa de fazer sentido quando vampiros começam a aleatoriamente maltratar crianças: você vê fazendeiros ou pior, reles funcionários de fazendas maltratando vacas só porque sim? Pois em Seraph of the end, se você for uma criança feliz que rabisca o chão, tome cuidado, porque não é que os vampiros se importem com rabiscos no chão mas se você estiver rabiscando o chão na frente deles quando estiverem de passagem eles irão pisar em sua mão, potencialmente quebrando seus dedos considerando o tamanho da sua mão e o provável peso de um vampiro adulto, que deve ser o mesmo de um humano adulto. E para quê isso? Parece que é assim apenas porque eles são maus. São os vilões afinal, então eles precisam ser maus. Mesmo que sejam maus de uma forma que, levada às últimas consequências, possa prejudicar a eles próprios. Isso não é tenso, não é sombrio, é apenas estúpido.

O protagonista se chama Yuichiro Hyakuya e ele vivia em um orfanato chamado Hyakuya onde todas as crianças ganhavam o sobrenome Hyakuya para que se sentissem como uma família. E a grande família Hyakuya continua vivendo junta, com um celeiro próprio no grande curral de sangue onde vivem. Yuichiro não gosta dos vampiros, e eu entendo ele, quem gostaria, não é mesmo? Mas para um garoto de já doze anos ele age feito um retardado. Lembra das crianças que gostam de rabiscar o chão? Então, ele estava próximo do local e viu isso acontecer, e não teve dúvidas, correu para cima de um dos vampiros! Teria morrido se um vampiro nobre não tivesse aparecido convenientemente naquele instante. Mais tarde, depois de levar uma merecida bronca de seu irmão de orfanato Mikaela (é irmão mesmo, tá, ignore que o nome é feminino; aliás, eu já tive um amigo chamado Michelle, isso não é tão estranho assim) que diz que humanos não podem vencer vampiros na força, ele diz que nunca vai saber se não tentar. Ah vá! Isso não é ser determinado, isso não é estar cheio de ódio no coração, isso é apenas estúpido.

Mikaela se mostra mais inteligente que Yuichiro e serve a um vampiro nobre (por acaso o mesmo que apenas por ter aparecido na hora certa salvou a vida de Yuichiro). Com “serve” eu quero dizer que ele se comporta como um cachorrinho do vampirão com trejeitos de nobre francês (porque todos os vampiros têm trejeitos de nobres franceses, não importa o anime ruim), vai até a casa dele com alguma frequência oferecer seu sangue pessoalmente em troca de regalias como comidas mais gostosas para seus irmãos. Se o Yuichiro não fosse tão burro, eu até teria ficado com raiva do Mikaela pelo contraste entre os dois. Mas ele não está resignado como parece, na verdade está esperando a chance certa para roubar um mapa que pretende usar para fugirem. E assim que ele consegue e conta a verdade para o Yuichiro eles acordam todo mundo e colocam o pé na rua no mesmo instante. Se por um lado eu entendo que existe a chance dele ser descoberto e que portanto continuar ali por mais tempo pode colocar todo mundo em risco de vida, não tenho certeza se é mesmo uma boa ideia sair fugindo por aí com meia dúzia de crianças com menos de dez anos de idade. Era previsível que ia dar tudo errado, e deu. Como apenas dar errado é bobagem pouca, o vampirão na verdade deixou ele roubar o mapa de propósito só para ficar ali esperando ele fugir. Porque, de novo, vampiros são maus, muito maus, e eles gostam de ver o desespero no rosto de criancinhas.

Resumindo, ele mata todas as criancinhas em velocidade de teleporte, então a ação em si nem aparece, só dá para ver o sangue espirrar para fora dos corpos de saco de batatas das crianças. Mikaela também roubou uma pistola, e sabe-se lá porque ele correu em direção ao vampiro se a vantagem da pistola é justamente o alcance, mas ele fez isso e também morreu. Não antes, claro, que Yuichiro pudesse pegar a arma e se mover mais rápido do que o vampiro esperava e estourasse seus miolos. Mikaela está com um buraco através do peito e sem um braço, sangrando como se não houvesse amanhã mas ainda vivo, e diz para Yuichiro fugir logo. Yuichiro não quer fugir sem arrastar a carcassa hemorrágica do irmão junto, mas mais vampiros aparecem e Mikaela precisa de novo mostrar quem é a cabeça da dupla: dá um croque no protagonista com sua única mão restante e diz para ele fugir logo e assim não desperdiçar as vidas de todos seus irmãos. Yuichiro agora está órfão até de irmãos postiços. Do lado de fora um grupo de, acho, seres humanos com um péssimo senso de moda esperava o Yuichiro, como diz “a profecia”. A profecia, tá bom. Um homem fala algo sobre o orfanato ser um lugar de experimentos, e Yuichiro já havia dito em um flashback que sua mãe o tratava por filho do demônio ou algo assim. Então, prepare-se, tem demônios na parada também! Apesar do tratamento frio (“profecia” e “experimento” não são palavras calorosas para se dizer a uma criança que acaba de perder toda sua família brutalmente assassinada diante de seus olhos) Yuichiro abraça o homem. Fim. E pela prévia no próximo episódio ele estará … em uma escola! Não, sério. Quero dizer, espero que não seja sério, porque se for, se esse for só mais um anime sobrenatural escolar, eu dropo. Dropo com vontade, dropo de jeito, dropo com força, dropo de com tudo.

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