Dungeon – ep 10 – Criança perdida
[sc:review nota=4]
Eu li um artigo que comparou o Bell a uma criança que se perdeu na floresta atrás de casa e sua mãe precisa pedir ajuda à vizinhança para ir procurá-lo, de tão inútil que ele é (inútil como uma criança). Eu sei que isso é exagerado. Em cada situação em que ele fracassou em ser útil (ou só conseguiu ser com alguém dando apoio por trás, geralmente a Héstia, sua “mãe”) houve uma boa explicação. Mas é que esses momentos já estão se acumulando, e até a habilidade especial dele (Argonauta) foi descrita pela Héstia como algo que permite até a uma criança ser um herói. Não que ele seja um herói, ele apenas consegue fazer coisas legais que heróis fazem de vez em quando (graças a poderes e equipamentos que mais parecem coisas que uma criança mimada ou com muita imaginação teria mesmo). E veja, não estou criticando o Bell ou dizendo que esse episódio foi ruim (e nota está ali em cima, foi um bom episódio). Eu até já escrevi um artigo dedicado primariamente a listar as qualidades do Bell. Mas quem quer que esteja a cargo da adaptação do roteiro (seja porque ele é assim no original e foi mantido, seja por adaptações e modificações ruins) está fazendo um trabalho muito ruim e transformando o Bell em um crianção mimado que acha que pode tudo e só se preocupa em lidar com a merda depois que ela está feita e se não conseguir, oh, bem, que azar né? O jeito é esperar que apareça alguém para resolver para ele.
Esse episódio marcou a estreia do Bell e seu grupo nos andares intermediários, mas eles não poderiam ter ido pior informados e pior preparados. E com pior sorte. Sim, a sorte teve papel crucial nesse episódio, embora eles tenham conseguido ficar encurralados por coelhinhos sozinhos, a situação ainda estava mais ou menos sob controle. Até um outro grupo, com um membro gravemente ferido, passar correndo por eles atraindo um grande número de monstros, entre coelhos açougueiros e cachorros cospe-fogo. Aí a coisa ficou demais para Bell, Welf e Liliruca. Então veja, retomando o tema do parágrafo introdutório, eu sei que a culpa aqui não foi do Bell. Mas a culpa nunca é dele e isso sempre acontece. Sua mãe não ficava irritada com você quando você sempre tinha os mesmos problemas de novo e de novo, mesmo que nunca fosse sua culpa? Lógico que a Héstia fica preocupada e não irritada, afinal aqui a situação é de vida ou morte. Mas a situação é parecida.
O Bell até fez tudo o que pôde, usando todo o seu poder de protagonismo ao máximo, mas não foi suficiente. Por estupidamente poderoso que ele seja, ele ainda não consegue liquidar andares inteiros. Não andares intermediários pelo menos; no primeiro episódio ele conseguiu feito dessa magnitude nos andares iniciais, com hordas de monstros mais fracos. E daquela vez sem precisar proteger ninguém, suponho que isso seja importante aqui: o Welf se feriu e a Liliruca não é lá muito poderosa. O melhor que eles podem fazer é tentar descer mais fundo na dungeon para chegar em um andar seguro (me pergunto se encontrarão a Aiz no meio do caminho), porque voltar atravessando a horda de monstros que os persegue não é viável. A Liliruca até mesmo usa um item (acho que era cueca freada de troll) para afastar monstros, mas ela não sabia mesmo a duração desse item? Porque se ele era limitado eles deveriam ter se apressado. Estão perdidos? Isso certamente é um problema. E uma razão a mais para correrem antes que esse item se esgote. O Welf tá machucado? Pula feito saci, ou o Bell carregue ele com seu super-protagonismo, sei lá. Olha, aposto que na novel eles descrevem muito bem o que aconteceu e porque o item não durou o suficiente, mas estou falando do anime. Ficou ruim.
Preocupada que seu filho não voltou pra casa antes da janta, a mamãe Héstia foi perguntar sobre ele na rua e quando já estava preocupada o bastante procurando-o, os filhos do Takemikazuchi vieram contar que provocaram uns cachorros bravos e fugiram, deixando o Bell sozinho com eles. Papai Take está envergonhado pelo comportamento dos filhos, e eles estão envergonhados e arrependidos (estão todos com caras de crianças arrependidas, alinhadinhos pra pedir desculpas pra vizinha, preste atenção na imagem desse artigo), e todos vão lá pedir desculpas para a Héstia. Ela desculpa, claro, porque é a melhor pessoa do mundo todo, e organiza com os mais fortes deles e mais alguns vizinhos (incluindo uma menina mais velha que trabalha na lanchonete e que treinava caratê quando mais nova, tendo até participado de torneios) um grupo para ir procurar seu filho e os amigos dele. E assim, com esse roteiro supimpa, que não deve nada a qualquer clássico de aventura da Sessão da Tarde, Dungeon se transformou em uma grande metáfora para crianças do bairro encrenqueiras mas de bom coração.