[sc:review nota=5]

Episódio totalmente dedicado ao esforço da Kumiko em tocar melhor e coisas que decorrem disso, sem no entanto deixar de lado os demais personagens e o que vem acontecendo. Se esse episódio fosse uma peça orquestral, teria sido o momento em que o instrumento Kumiko se sobressai e os demais o seguem harmonicamente. Um episódio perfeito para a véspera do gran finale.

É importante contextualizar esse episódio: a Kumiko vem tocando o bombardino há vários anos, mas nunca foi particularmente dedicada a ele. É boa porque é o que sempre fez, mas sem ser especialmente boa. A tensão que todos estão vivendo a caminho do concurso nacional (e estão só na etapa local ainda!) e principalmente a pressão que sofreram durante as audições, que para a Kumiko foi o momento em que ela despertou, fizeram a protagonista perceber a verdade sobre sua habilidade no instrumento. Ela se sente frustrada, sempre correndo atrás das pessoas que admira, da excelente instrumentista Asuka, e de forma muito particular da Reina. Começo até a me perguntar se é real o sentimento da Kumiko por ela, ou se é só admiração mal interpretada, como é o caso da Reina pelo professor Taki. De todo modo houve cenas de forte tensão sexual entre as duas então mesmo que na origem tenha sido só admiração não descarto que um sentimento verdadeiramente romântico possa ter se desenvolvido a partir daí. É um dilema de causalidade: o que veio primeiro, a admiração ou a paixão?

E claro que a Reina é personagem importante nesse episódio. No começo, é ela quem acompanha Kumiko em suas sessões de ensaio individuais: a Kumiko foi ensaiar sozinha, fora da sala de seu naipe, porque ficou com vergonha (do som que produzia e de atrapalhar seus colegas). Mas da Reina ela não sentiu vergonha nenhuma. Provavelmente até se sentiu mais confortável com a trombeteira ao seu lado. Até mesmo serviu de inspiração: agora Kumiko queria ser especial também, como ela! Depois, quando Kumiko foi rejeitada pelo professor Taki, Reina tentou desesperadamente alcançar a protagonista pelo telefone – mas ela o havia esquecido na escola. E mesmo tarde da noite Reina foi em seu encontro quando ligou para ela depois de descobrir que não havia sido exatamente rejeitada, o professor Taki só é péssimo como professor mesmo. Inesperadamente também foi à Reina quem coube o papel de alívio cômico do episódio: depois que a Kumiko disse a ela que “estava sozinha até então com o professor Taki”, ficou em vão tentando arrancar dela o que teria querido dizer, sobre o que estava falando, enquanto a Kumiko em si estava animada demais para prestar atenção no que a pobre coitada perguntava.

Mas e a Kumiko? Ela pensa uma frase muito importante nesse episódio: não importa o quanto você treine, há coisas que você nunca será bom o bastante (o sentido foi esse, no anime foi mais poético). Isso é verdade e é um dos principais motivos de frustração de adolescentes e jovens adultos, quando a realidade os atingem e se descobrem incapazes, apesar de tudo. É bom que ela tenha ciência disso, embora eu saiba que ela provavelmente vai sim conseguir. O conflito todo do episódio é que o professor Taki decidiu incluir os bombardinos em uma parte da peça especialmente difícil para a Kumiko. Ela se esforça, ela quer conseguir tocar, quando questionada pelo professor em sala se irá conseguir tocar na apresentação ela responde com determinação militar que sim. Disso faz parte a rotina de ensaios dela, que inclui os ensaios com a Reina que já descrevi e até um “ensaio” com o Shuuichi: foi a primeira reaproximação entre os dois desde que ele se declarou para ela. Apesar de toda a dificuldade da Kumiko em lidar com a questão, foi dela a iniciativa de tocar junto com ele (que estava ensaiando sozinho na outra margem do rio). Esse é o tamanho da determinação dela. Também ensaiou em casa irritando sua família (especialmente sua irmã), com quem teve discussões difíceis – e foi durante uma delas que descobriu que gosta de tocar, gosta do seu instrumento. Quando o professor Taki a excluiu daquela parte da peça que ela não conseguia tocar a frustração caiu como uma bomba. E em meio às ideias embaralhadas ela pôde perceber como a Reina se sentiu naquela apresentação anos atrás. Mas no final tudo deu certo, porque o Taki pode ser um professor horrível, mas é uma boa pessoa: ele não planejava excluir a Kumiko, só não podia tê-la atrapalhando os ensaios gerais. Quando teve a oportunidade de dizar a ela que continue se esforçando porque ele ainda acredita que ela irá conseguir, o mundo da Kumiko, que havia parado na tarde daquele mesmo dia, voltou a girar. Com novas e importantes lições aprendidas.

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