Cavaleiros do Zodíaco: Soul of Gold – ep 8 – Religião versus Religião
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Quem nunca se pegou antes imaginando qual seria o resultado de uma luta entre deuses? Ou uma guerra total entre dois panteões diferentes? Acho que boa parte do apelo de Cavaleiros do Zodíaco vem disso. Os cavaleiros lutam por e defendem uma deusa grega (Atena) e enfrentam inimigos em nível crescente de poder entre si mesmos, até que finalmente depois de uma carnificina o santuário da deusa finalmente é unificado sob um único comando. E aí é só o começo para mais guerras absurdas contra outras divindades e seus discípulos. De minha parte, quanto mais referências aos mitos e religiões originais dos quais vagamente se inspiram, melhor. Não é por menos que um dos cavaleiros de ouro que eu mais gosto é o Shaka. Não porque ele é estupidamente poderoso, ou por ele ser como prepotentemente se referem a ele “o mais próximo de deus”, mas porque ele é um caso muito louco de um cavaleiro que luta por um deus grego com o poder de Buda e todos os seus golpes são ricos em referências ao budismo. E esse foi o episódio do Shaka!
Eu fiquei impaciente com quanto tempo ele ficou à toa descansando naquela caverna, então foi com entusiasmo que vi na prévia ao final do episódio anterior que ele finalmente estava indo em direção à Yggdrasil. E ele lutaria contra Balder, que segundo seus companheiros asgardianos é um deus. Na verdade fiquei tão excitado que até dediquei uma boa porção do artigo anterior a falar sobre Baldr, a divindade nórdica que empresta seu nome a Balder. Basicamente ele é um deus que não pode ser ferido por nada nesse mundo, e assim como o deus, Balder possui esse poder, embora com as esperadas licenças poéticas, sendo o fato dele não ser um deus a menor delas. Primeiro, o deus era invulnerável porque sua mãe pediu pessoalmente a todos os seres e objetos do mundo que não o ferissem. O guerreiro deus apenas recebeu esse poder de uma divindade ainda desconhecida que ele na época acreditou ser Odin. Outra diferença, talvez consequência da primeira, é que o poder do guerreiro deus valia realmente para qualquer coisa, até para um poder místico (os golpes de Shaka), o que não faria nenhum sentido se a origem do poder dele fosse da mesma natureza que a do deus Baldr. Sério, apenas tente imaginar alguém pedindo ao Tesouro do Céu que não fira Balder. Como se pede algo a um poder? O poder tem existência própria, independente de quem o usa? Essas perguntas são estúpidas e sem sentido?
Grande interesse causam as runas nas mãos de Balder. Pelo menos para mim. Se para você não, leia esse parágrafo mesmo assim porque ele é interessante, prometo. Uma delas lembra um “F” e a outra lembra um “Z”, e para minha sorte não existe só uma runa que preencha esses requisitos. Houveram vários sistemas de alfabetos rúnicos relacionados, e em quase todos eles há mais de uma runa que tenha esses traços aproximados. Começo pelo que acho mais fácil, o “Z”: há duas runas com esse formato básico, a proto-germânica eihaz e algumas versões da sowilo ou sigel, especialmente a usada pelo inglês primitivo. A eihaz é pronunciada como “yew” (mas com sotaque viking, vire cinco litros de cerveja, mate dezessete ingleses, e com a boca ainda cheia de carne tente dizer “yew” – esse é o som original que a eihaz representava no contexto de uma palavra), que é também o nome de uma árvore (em português, o teixo), que é uma das muitas representações que a própria Yggdrasil teve. Assim, eihaz é usada às vezes para se referir à própria árvore do universo, tornando-a a melhor candidata a estar estampada na mão de Balder. Sigel era associada ao sol e, bem mais recentemente, à vitória. Foi usada por exemplo pelas SS nazistas. Quanto à outra runa, eu acredito que seja ansuz, que é outra forma de dizer aesir, o termo genérico que se refere a uma das raças de deuses na religião nórdica – os que viviam em Valhalla. Assim, depois desse enorme parágrafo, deve ter notado que eu não cheguei a nenhuma conclusão útil. Bom, é isso mesmo! Quero dizer, essas runas talvez signifiquem apenas que os japoneses não querem se esforçar demais nas referências, e isso é um tipo de conclusão de alguma forma útil.
Ainda no mesmo episódio o Máscara da Morte pôde bancar o mocinho mais uma vez. E adicionou sua própria referência religiosa: o Yomotsu Hirasaka para onde ele envia seus adversários com o golpe Ondas do Inferno é a ladeira que fica na entrada do Yomi, a terra dos mortos segundo o xintoísmo. Cavaleiros do Zodíaco é uma salada de referências mitológicas e religiosas e é precisamente por isso que o amamos.