Nota: Me confundi na hora de assistir os episódios (o formato episódico de Onihei colaborou para isso) e sem perceber assisti o episódio 5 achando que fosse o 4. Só percebi quando o Kondou me alertou, precisei inclusive corrigir o título e o conteúdo do artigo. Semana que vem sai resenha do episódio 4 de verdade e depois o blog volta ao eixo. Obrigado pela compreensão.

Ninguém aqui vai discordar que esse é o episódio mais leve de Onihei até agora. Até porque foi o primeiro e único episódio leve. Não que tenha faltado uma pontada de humor nos demais episódios (e não que eu me lembre de pontada nenhuma, só estou dizendo que teve porque tenho a vaga impressão de que teve e para não me comprometer demais), mas todos foram episódios sem sombra de dúvida sérios. E trágicos, muitos diriam – menos o Vinícius, o Vinícius deve tê-los achado todos positivos de uma forma ou de outra; e eu confesso que normalmente os acharia trágicos, mas depois das intervenções do meu colega blogueiro escolhi refrear-me de tomar uma posição definitiva a não ser que eu consiga pensar em algum argumento novo e melhor.

Da mesma forma, nesse episódio leve, engraçado, há uma pontada de seriedade que não se pode ignorar. Claro que me refiro a máxima proferida pelo bandido e pelo policial:

“Às vezes enquanto nos engajamos no mal fazemos o bem, e às vezes quando nos engajamos no bem fazemos o mal. Assim é a vida.”

Quem questionará a validade desse dito? Tenho certeza que o Vinícius sabe umas 20 formas diferentes de fazer isso. Mas tirando o Vinícius, quem questionaria a veracidade dessa proposição? Em Onihei como na vida, mais vezes do que nunca observa-se que o mundo não é plano, o que é só outra forma menos direta de dizer a mesma coisa.

Em favor de Chugo, essa garota era mesmo muito bonita

Lembra como logo no primeiro artigo sobre o primeiro episódio de Onihei eu comentei sobre como por vezes os homens da lei fazem coisas abomináveis, e por vezes os bandidos fazem o que é certo? Foi exatamente isso que o episódio cinco colocou em palavras. O tom de comédia quase pastelona evita que percebamos isso de forma clara nos acontecimentos do episódio, mas estava lá. O bandido estava em Tóquio para fazer suas maldades de bandido, e ele até mesmo se orgulhava por ser reconhecido como especialmente cruel mesmo entre os de sua laia. Ainda assim, só porque uma gueixa o lembrava de outra de seu passado, ele decide fazer-lhe uma bondade e financiar suas noitadas com seu cliente preferido – por acaso Chugo, um dos funcionários de Heizou.

O ex-bandido acha que o policial não tem jeito…

Chugo por sua vez é um grande pateta e todos os seus colegas zombam dele por isso. Não que ele pareça se importar muito, mas não leve tão à sério assim a atitude indiferente dele: esse episódio é uma comédia, não um drama, é apenas natural que não vejamos as dificuldades pelas quais um samurai pobre do Período Edo passa enquanto seus colegas fazem troça dele. Sua atitude muda quando ele se apaixona por uma gueixa que convenientemente gostou dele e que convenientemente lembra o bandido de sua gueixa querida do passado. Pego no pulo – pelo ex-ladrão do grupo, ninguém menos – ele acaba punido e proibido de sair de novo, o que significa que não pode mais ver sua gueixa. Até que uma noite sua libido mal contida transborda e ele foge para reencontrar sua amada. E eis que, enquanto faz o mal, ele por acaso encontra o bandido e sua gangue se reunindo para mais um ataque. Em conflito moral, ele acaba decidindo fazer o bem e troca sua escapulida sexual por uma perigosa tocaia contra uma gangue violentíssima.

Somos bons ou maus por natureza? Ora, por natureza não somos nem um nem outro. O bem e o mal, e portanto a moral, são uma abstração criada pelo advento da razão. No estado da natureza apenas somos. Somos todos capazes de atos considerados vis, como a infeliz onda de violência que assola o Espírito Santo nos mostra – a maioria dos crimes é cometida por, digamos, “bandidos de carreira” sim, mas pessoas absolutamente comuns participaram de saques também. Pessoas que, não duvide, defendem cadeia para todos os criminosos, estão, elas próprias, cometendo crimes. A anomia que várias cidades capixabas vivem com o aquartelamento da polícia age como um gatilho para essa mudança comportamental. Moralistas bocós se apressam em dizer que essas pessoas na verdade são más porém vivem normalmente segundo às regras porque são coagidas a tanto. Isso é uma redução imbecil do comportamento humano, não é assim que as coisas funcionam. Como já disse, “o mundo não é plano”.

O contrário também acontece com frequência: pessoas que se sentem compelidas pelo momento a fazer o bem para terceiros, que muitas vezes desconhecem. Se o caso-tipo para estudar pessoas boas cometendo maldades é a oportunidade de saques (seja de lojas em situação de caos público, seja de cargas tombadas, etc) ou pequenos furtos, o caso-tipo para estudar a bondade espontânea é a oferta a pedintes necessitados. Algumas pessoas sempre dão esmolas, outras nunca dão esmolas, mas a maioria não tem uma posição fechada para isso: irá dar ou não a depender da situação, e para isso não concorre apenas a condição visível do pedinte e sua capacidade de convencer, mas também condições subjetivas daquele que pratica a caridade. Casos mais extremos envolvem proteger com a vida desconhecidos, como aquele ambulante que protegeu uma travesti, ou como aquele sem-teto que protegeu uma mulher. Somos bons ou maus por natureza?

Ora, Chugo nasceu em uma família de posses mas não tantas assim. Ele tem honra o suficiente para poder trabalhar na polícia, o que, por tudo o que eu sei, é bastante coisa para seu período histórico. Seu pai morreu há poucos anos e deixou para trás a fama de honesto e ingênuo. A lembrança de seu pai faz Chugo se sentir mal por ter gasto todo o dinheiro que tinha com a gueixa e por ter saído aquela noite para encontrá-la, e não para fazer uma ronda policial. Ao ouvir de Heizou a mesma sabedoria que havia sido transmitida a ele pelo bandido, através de sua amada prostituta, ele percebe que a rigidez moral não convém, mas permanece convicto a abandonar suas brincadeiras sexuais. Isso até ele descobrir que seu pai, seu modelo de retidão, também tinha sua gueixa preferida – e essa é uma das razões de sua família ser pobre. Chugo e seu pai são bons ou maus por natureza?

Velho danado, olha a cara de quem morreu sem arrependimento nenhum!

Mas não se engane que nem Onihei, com esse episódio, nem eu, com esse artigo, estamos igualando o bem e o mal na hierarquia das coisas. No final os mocinhos venceram os vilões, e tem sido consistentemente assim desde o primeiro episódio, mesmo quando a dureza da vida torna más pessoas boas. E também não há nada de errado (para os padrões de hoje) em Chugo, solteiro, encontrar-se com uma gueixa. Desde que ele pague do próprio bolso, claro. O bem segue preferível ao mal por princípio em qualquer situação, mas não somos infalíveis, alguns males nem são tão maus assim, e o mundo não é plano. O verdadeiro dilema moral creio que não seja decidir entre o bem e o mal, mas sim decidir o que é o bem e o mal. No espírito burlesco desse episódio, sugiro que confira a página Trolley Problem Memes, que apresenta de forma mais do que bem humorada diversos problemas onde é difícil decidir o que é o bem e o que é o mal.

Essa é boa: O bonde está sem freio e vai matar várias pessoas caso siga em frente. Você pode mudá-lo de direção puxando uma alavanca, mas ela está travada com uma senha que só o cara amarrado ao seu lado sabe e não quer contar. É correto torturá-lo para obter a senha e salvar vidas?

  1. Antes de começar o meu comentário de forma séria, este episódio 5 de Onihei, veio em boa altura, ao menos para aliviar um pouco o clima sério e pesado, que os primeiros 4 episódios deste anime transmitiram. Isso e acho que pela primeira vez, não vou criticar em nada, a cena de promiscuidade com que o episódio 5 começou (força Chugo). Se eu tivesse nascido naquela altura, com certeza teria passado uns serões, numa casa de chá com uma bela gueixa, por isso não censuro em nada, as atitudes do Chugo (até me sinto estranho, em não criticar a cena inicial do episódio, será que estou a perder decência moral, depois de ter começado a assistir Kuzu no Honkai, fica a dúvida).
    Agora passando mesmo ao episódio, eu gostei, não foi nenhuma masterpiece como o episódio 3, mas ainda assim muito bom. O Chugo, era aquele tipo de ronin, cuja vida se baseava em passar as noites a vadiar e nas casas de chá e durante o dia fazia serviços de escolta ou então outro tipo de trabalhos menos próprios. Achei interessante, darem um episódio inteiro, para um personagem secundário sem destaque algum. O Chugo é péssimo com a espada, é alvo de chacota pelos colegas samurais, mas tem uma coisa essencial num guerreiro de verdade, a honestidade e sinceridade. O motivo, que levou o Chugo a descurar o seu trabalho e as suas despesas, foi amor ardente por uma gueixa (está mais para maiko), a beleza da Omatsu foi a perdição do Chugo (e ela era bem fogosa, diga-se de passagem). O mais engraçado, foi o antes e depois do Chugo ter conhecido a Omatsu, ele mudou tanto depois de umas noites, quentes com a Omatsu, que os seus colegas e chefe notaram a diferença. E o depois de ele ter sido apanhado, e ter ficado uns dias de abstinência sexual, foi muito engraçado, ele parecia um morto vivo. Como foi bom, ver o Kumeachi participar neste episódio, ele e o Heizou são aqueles que têm mais destaque no anime. Aquilo que eu achei mesmo engraçado foi a parte em que os colegas do Chungo o comparam a um doce em forma de coelho, pela forma rechonchuda dele. Mas para um mente já meio debilitada, como a minha, esta comparação levou-me a outra comparação, o Chugo e a Omatsu são dois coelhos, pois não conseguem conseguem controlar o seu apetite sexual.
    A frase que destacaste no inicio do artigo, eu não vou sequer tentar argumentar contra a validade desse dito e mesmo que quisesse não tinha argumentos contra a verdade desse dito.
    A cena onde onde o libido do Chugo estava descontrolada e ele saiu do meio da noite do quartel, foi muito engraçado, ele teve até a audácia de se vestir com roupas de ladrão, tudo para ir para junto da sua amada Omatsu. O pai do Chugo, era um muito, o velho era um sem vergonha, a família dele passava necessidades, porque ele sustentava uma gueixa, tal pai tal filho, mas a cara do velho quando morreu foi demais. O velho ainda por cima antes de morrer, disse uma frase, que nunca saiu da cabeça do seu filho Chugo, que no futuro viria a mudar a vida do seu filho. Por momentos pensei que o Chugo, quando viu os bandidos, durante a sua fugida no meio da noite, ele fosse ignorar os bandidos, mas afinal não, as palavras do seu pai, levaram-no à razão. Mas claro, o Chugo não é um samurai habilidoso com a Katana, ele até bem pouco tempo, o seu único trabalho no quartel de fogos e roubos, era de escrivão, não de guerreiro. A forma que ele arranjou para espiar os bandidos foi muito engraçada, além de invadir propriedade alheia, pede uma escada ao dono da propriedade e ainda por cima risca as telhas do muro do dono da propriedade, isto sim é uma força da autoridade competente (a parte melhor foi quando ele estava a dormir no meio da vigília e o chefe Heizou apareceu).
    Agora ao bandido/assassino que tinha interesse na Omastsu, ele era aquele tipo de bandido sem escrúpulos, tão sem escrúpulos, que tinha uma reputação acentuada, na escória abaixo dele. Aquela parte em que a Omatsu, se atira a ele, e o assassino lendário, diz que já não tem idade para aquilo, foi muito boa, ele já tinha atingido o seu pico de sabedoria, que disse tal frase, sem vergonha nenhuma. Achei curioso o facto dele, estar disposto a pagar as despesas do Chugo, tudo porque a Omatsu tinha um interesse nesse homem. Mesmo ele explicando, que a Omatsu, lhe faça lembrar um mulher, que ele tinha visto à 20 anos atrás, foi estranho, mas não duvido que não houvesse interesse, por detrás das acções do assassino lendário. A parte da invasão do esconderijo dos bandidos, foi muito boa, a coreografia das lutas está muito boa, mesmo com verba limitada nas cenas de acção o estúdio está a fazer um trabalho bem feito. A idade não perdoou o velho bandido lendário, ele quando tentou defender/esquivar de um ataque de um dos homens do Heizou, a perna dele bloqueou, por isso ele foi atingido. Mas o velho assassino, não iria desistir, só por causa de um ferimento, aquela mini-perseguição que ele fez ao Chugo, foi arrepiante, mais um pouco o Chugo, ficava sem as jóias da família. É impossível não simpatizar com o Heizou, porquê, que em todos os trabalhos em que estive, nunca tive um chefe compreensivo, como o Heizou, Chugo sortudo. Aquela conversa entre o Chugo e o Heizou no final do episódio foi muito boa,o Heizou já é raposa velha, ele já sabia que o Chugo gostava da gueixa Omatsu, aqueles 3 Ryo que ele deu ao Chugo, tiveram um simbologia bem bonita. Mas a parte melhor, para mim, foi aquela última cena do episódio, onde o Chugo corre desesperado até à casa de Chá Iroha (o raio dos speedsub com a sua mania de se referirem, às casas de chá como bordeis, as casas de chá do Japão eram um paraíso para os homens, já os bordeis da Europa, era o pior sitio, para um homem afogar as suas mágoas, saiu mais doentes do que entravam) e a dona da casa o reconhece. Esta cena foi demais, afinal tal dona tinha sido teúda e manteuda do pai do Chugo, o pai dele soube aproveitar bem a vida, faltava com o dinheiro em casa, mas não abdicava de passar umas noites com a sua gueixa favorita (dai, o velho ter morrido com um sorriso no rosto. O Heizou é mesmo um bom chefe, ele estava disposto a pagar as dividas do seu subordinado, por tal gesto nem tenho palavras. Ver o pobre Chugo, pensar sobre as necessidades que ele e a sua família passaram, por causa dos vícios do pai, foi muito engraçado, mas ele não pode falar muito, ele tornou-se igual ao pai. O Chugo gosta mesmo da Omatsu, aquele gritar do nome dela por parte do Chugo era cheio de determinação.
    O mais engraçado, é que o Chugo foi lesado financeiramente pela casa de chá. Durante o período Edo, era possível comprar a liberdade de uma gueixa, mas o samurai ou ronin, ou artesão, tinha que pagar as despesas de uma vida inteira ao dono da casa de Chá. A curto prazo, a compra da liberdade de uma gueixa era caro, mas a longo prazo devia valer muito a pena. Aposto que o Chugo, não foi o primeiro Samurai a cair em amores por uma gueixa, neste episódio 5 o maior destaque foram elas (e diga-se de passagem, todas eram mulheres belas).
    Nem me darei ao trabalho, de responder ao dilema moral que colocaste no final do artigo, ainda ficaria com uma fama, parecida com o Kiritsugu de Fate Zero.
    Como sempre, mais um excelente artigo de Onihei Fábio. Ansioso pelo artigo do episódio 4 este sim, merece um artigo teu.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Não sei se o Chugo chegou a cogitar a hipótese de comprar a Omatsu, mas por mais que a prostituição fosse mais ou menos aceitável, ainda assim era vista negativamente. Por tudo o que entendi Chugo ainda vivia com sua mãe, acho não só em casa mas na sociedade em geral ele seria mal visto se fizesse isso. Ele estava a caminho de ser um guerreiro honrado, afinal. Talvez se ele fosse apenas um comerciante, ou algo socialmente ainda mais baixo nas castas japonesas (se bem que se não fosse sequer comerciante não sei de onde ele poderia ter dinheiro para comprar uma gueixa, e uma jovem ainda por cima).

      E eu ainda não assisti o episódio 4 =D Mesmo sem ele eu achei esse quinto episódio uma quebra de ritmo positiva, imagine se o tivesse assistido. Quero dizer, quebras de ritmo nem sempre são boas, mas em um anime episódico acaba funcionando bem para não cansar tanto.

      O Heizou com certeza sabia do histórico sexual do pai do Chugo, tendo conversado com dona da casa de chá e tudo mais, e ainda assim sustentou que ele era um homem bom e honrado. Esses eram os valores da época, não é? E nesse aspecto acho que hoje em dia não mudou muito. Claro que com a liberação da mulher, que hoje em dia já possui (pelo menos no papel) igualdade em relação ao homem nas leis, na sociedade e na família, um homem casado que frequente prostíbulos não será melhor tratado em sua casa, caso descoberto, do que qualquer outro tipo de adúltero, mas a sociedade em si não costuma se importar muito, considerando isso um assunto a ser tratado entre quatro paredes pelos cônjuges. É mal visto, mas não costuma trazer grandes consequências a menos que a mulher busque o divórcio. A única diferença para aqueles tempos é que a mulher não podia pedir divórcio, ou quando podia era muito mais difícil.

      Enfim, quem ousaria dizer que há valores absolutos que devem ser obedecidos por todas as pessoas sem exceção nesses assuntos? A dicotomia entre bem e mal sozinha já é insuficiente para julgar diversas situações, mas há outras tantas, como essa, que sequer podem ser classificadas como boas ou más, localizando-se totalmente dentro de algum tipo de zona cinzenta.

      Obrigado pela visita e pelo comentário! =)

Deixe uma resposta para Fábio "Mexicano" Godoy Cancelar resposta