Princess Principal – ep 4 – Confiança em um mundo de mentiras
Eu sou uma pessoa chata no que diz respeito a assistir animes. Vejo do começo até o fim, sem interrupções – e urjo a todos que façam o mesmo! Abertura, encerramento, prévia do próximo episódio, recordação do que aconteceu até então, não pulo nada, não corto nada, tudo é importante. Por quê? Penso que seus criadores o projetaram para ser assim, querem que eu veja assim. De outra forma a experiência seria incompleta, pois eu correria o risco de não compreender o que quiseram transmitir.
Então eu presto atenção em tudo, certo? Em teoria. Na prática eu perco detalhes com alguma frequência. Não percebi, não até alguém me dizer isso, que os episódios de Princess Principal estão sendo transmitidos em ordem embaralhada. Claro que eu percebi que do primeiro para o segundo episódio houve uma volta no tempo, isso a história deixou evidente. E do terceiro para esse quarto episódio, pularam a chegada da Chise – o anime já deixou claro que irá apresentar apropriadamente cada personagem. Mas qual veio antes, esse episódio ou o primeiro? Parecia algo entre charada e irrelevante para mim, mas nunca foi uma informação escondida para começo de conversa. A resposta está nos títulos dos episódios: o episódio 1 é o Caso 13. Esse é o Caso 9 – anterior, portanto. Estava lá e eu não vi. Vou prestar mais atenção agora.
Como seria de se esperar, os episódios 2 e 3 são, respectivamente, o Caso 1 e o Caso 2.
Desta feita, ocorreu o caso de espionagem mais audacioso até agora de Princess Principal: tentaram roubar segredos militares bem debaixo do nariz de ninguém menos que a Rainha Vitória (e conseguiram, embora nada mais estivesse lá). Bom, não sei se ela se chama Vitória, mas o período está próximo e a aparência bate. Há até a intenção nada velada de casar a Princesa Charlotte com um príncipe russo, para costurar arranjos políticos pela Europa, e esse é o tipo de coisa que a Rainha Vitória de fato fez durante seu reinado. Quando estourou a Primeira Guerra Mundial, os reis inglês, alemão e russo eram primos. As famílias reais portuguesa e belga eram aparentadas também. Hoje em dia, de todas essas famílias, só restam como reinantes a inglesa e a belga, e sim, são aparentadas. Vitória tem muito à ver com isso, embora esteja longe de ser quem inventou a prática.
O anime já citou a possibilidade de uma guerra mundial e agora fala sobre casamentos políticos, duas coisas que de fato pertenceram àquela época e foram elementos importantes dela. Não acredito que o anime esteja martelando esses fatos históricos apenas para reafirmar sua acurácia histórica, ainda que seja uma fantasia em mundo paralelo. Da forma como vejo, isso tudo vai impactar na história do anime. De que forma? Não sei. Mas imagine o Reino em apuros, vendo as suas relações políticas internacionais se degradarem – casar a princesa com um príncipe russo pode ser uma medida necessária para assegurar o apoio de pelo menos um parceiro poderoso, com enorme território que se estende por dois continentes, grande população, poder militar reconhecido no mundo e reservas minerais importantes. Como a princesa agiria? O que ela poderia fazer? Como Ange reagiria? Como as outras reagiriam?
Especular sobre isso a essa altura é difícil. A Ange com certeza tentará impedir, não consigo imaginá-la deixando Charlotte ter um casamento arranjado – e com um estrangeiro, não menos (e sim, a Ange é a Charlotte e a Charlotte é a Ange, não estou ignorando isso, só estou usando seus nomes “públicos”, como avisei que faria, pra não tornar os artigos muito complicados). Isso não vai mudar. A própria princesa, se achar útil ao seu objetivo, talvez até aceite! Pode enxergar como uma oportunidade para ganhar poder. Imagina só a confusão. A Beatrice é uma personagem simples, provavelmente seria contra, como Ange, mas talvez apoie a decisão da princesa, qualquer que seja ela. E as outras duas? Aí a coisa começa a complicar. E vai depender muito do tema principal desse episódio: confiança.
A Comunidade ainda desconfia da princesa. O Japão ainda não decidiu se vai se aliar preferencialmente ao Reino ou à Comunidade, e haver uma princesa traidora pode ser determinante para a escolha. Aguardo altas emoções na relação da Chise com as demais – talvez o Japão decida pelo Reino e ela tenha que trair suas colegas, ou, talvez, ela deserte, ou tenha que trair, traia, depois volte atrás e deserte. De qualquer jeito seria interessante. Se o Japão simplesmente escolher a Comunidade, não haverá conflito algum e esse elemento de enredo parecerá inútil. Então espero por uma vira-casaca do Japão.
E a Dorothy? E a Comunidade? Se confiarem na princesa, irão com o plano dela, qualquer que seja – e independente disso ser do agrado da Ange ou não. Se não confiarem, quem sabe? Talvez, tentem sabotar? Seria um momento divertido para vermos um drama desses. Talvez, ela acabe ajudando a Ange por motivos completamente diferentes. Ou, quem sabe, ela aja contra a Ange. De todo modo, a palavra-chave é confiança. A Comunidade ainda desconfia da princesa, e o Japão não confia nem desconfia, está apenas decidindo qual parceiro será mais útil.
A princesa fez mais do que precisava para conquistar a confiança da Dorothy nesse episódio. É um pouco complicado para acompanhar, do meu ponto de vista, porque eu sei quem é a princesa, sei o que ela quer e porque ela quer (embora não descarte ainda uma reviravolta quanto ao seu real objetivo ou a existência de objetivos secundários), então não consigo “sentir” o drama da Dorothy. Na verdade, a Dorothy se sente desconfortável desde o começo com a desconfiança da Comunidade na princesa, então ela está buscando todos os motivos que puder para confiar. Depois da incrível missão que resultou na captura não apenas do objeto da pesquisa, mas dos cientistas e do laboratório inteiro, com a ajuda da princesa, Dorothy parece querer crê que não haja mais motivos para desconfiança. Por que a princesa se exporia a tal risco se fosse agente dupla, afinal? A lógica dela não se sustenta. Se ela for agente dupla, ela não estaria se expondo a risco nenhum em primeiro lugar, desde que tudo fosse bem coordenado pela agência de inteligência do Reino. Dorothy quer acreditar, e é isso o que importa. Porque sendo assim, uma traição futura da princesa será muito mais dolorosa, muito mais pessoal para ela. Ou, para esse efeito, a impressão de que a princesa a está traindo.
Foi um bom episódio, embora não tanto quanto os três primeiros, porque nada muito pessoal estava em jogo. Serviu para expandir um pouco as fronteiras do mundo de Princess Principal e começou, timidamente, a dizer qual é o papel da Chise. Certamente ainda veremos mais dela. Por enquanto, digo que faz muito sentido que, embora tenha sido enviada especificamente em uma missão de inteligência, ela não seja uma espiã e , por isso, esteja precisando de treinamento tanto quanto a Beatrice. O Japão da época não levava inteligência e espionagem a sério, só na Segunda Guerra Mundial que começaram a mudar de pensamento. Joker Game (anime que eu também cobri aqui no Anime21) explica isso.