Se pudesse daria 11 para esse episódio, pois ele foi muito bem escrito e emocionante – apesar de ter apresentado um desfecho não muito surpreendente. O “verdadeiro final” da obra foi esse, um final que – de forma geral – me fez reavaliar positivamente certos aspectos sobre os quais devo falar agora.

Re:Creators atingiu sua maioridade definitiva focando todos os seus esforços em tornar o diálogo entre a Altair e a Setsuna “renascida” crível, algo pelo qual o público pudesse demonstrar real empatia e acredito que o anime foi bem-sucedido nesse sentido.

Cara de surpresa super fofa!

Ao mostrar uma Altair tão instável emocionalmente, contrastando com sua frieza e confiança de outrora, percebi o quão importante era o que motivava sua vingança pelo mundo que renegou sua criadora. O anime conseguiu me fazer sentir o quanto ela se importava e amava a sua Deusa, a sua mãe. Ele fez de tudo para fazer com que nos importássemos com aqueles personagens e com os seus problemas.

Uma boa forma de contar uma história é não falar, mas mostrar o que se quer passar ao público. Fazer isso de forma consistente apenas com conversa pode ser um pouco difícil, mas nesse episódio isso até pareceu fácil dadas as expressões, trejeitos e reações dos personagens terem inúmeras informações ali contidas que agiam como complemento ao denso diálogo.

Esse sorriso… esse bendito sorriso…

Isso novamente mostra que quando quer, o anime sabe balancear muito bem seu roteiro e sua direção, nos apresentando um drama pungente que não foi forçado goela abaixo, mas que por esse episódio tão bem feito justificou ser a ideia central que norteava toda a obra.

Pelo que pude perceber o Sota não criou a Setsuna tal qual ele a tinha em suas lembranças para parar a Altair – inclusive, em nenhum momento ela pede para a vilã parar com a vingança –, mas sim como uma forma de redenção para ele, para a Setsuna e talvez até para a grande vilã, que aliás, mostrou ser muito mais do que isso nesse final.

Segura de si, essa é a minha Altair!

Sabem quando tem uma história com um vilão com um background tão interessante que você passa a sentir empatia por ele? Que você passa a torcer para que ele não morra ou para que ele consiga alcançar a felicidade – claro que sem destruir a de alguém para isso. Pois então, é o que pode ser visto aqui, uma história onde a personagem tida como vilã era a mais aceita, era a mais compreendida pelo público, e, de tal forma, era fortalecida pelo apoio e identificação dessas pessoas.

Nesse final a Altair já não era mais uma vilã, nem uma heroína, ela era uma pessoa como você ou eu, uma pessoa com o bem e o mal dentro de si que não poderia ter suas ações completamente definidas por nenhum dos dois. No fim das contas, ela não queria destruir o mundo, ela queria dar paz de espírito a sua criadora e trazer felicidade a ela, mas como a segunda opção não era mais possível, ela considerou fazer o que achava adequado quanto a primeira.

Impossível não respeitar os sentimentos e convicções dela!

Só que é aí que pudemos ver a sua verdadeira natureza, pois se ela realmente quisesse só vingança pura e simples ela não teria pulado na frente do trem e nem teria usado o seu enorme poder para dar uma história para a Setsuna. A criatura se encontrou com o criador e juntos eles eram um ao mesmo tempo em que eram dois e assim se confundiam entre quem dava a vida e quem a recebia. Foi o que aconteceu e foi um final digno onde vilões e heróis, vítimas e culpados, já não estavam mais em lados opostos.

Um dos meus maiores incômodos com esse anime era achar que a motivação da Altair era demasiadamente exagerada quanto ao que aconteceu com sua criadora. Agora acredito que esse foi apenas um erro de julgamento meu, já que pela conversa dela com a Setsuna eu consegui entender melhor o porquê de ela ter agido como agiu, o que me fez reavaliar a personagem como um todo. Ainda acho que ela poderia ter sido melhor usada pelo roteiro e que deveria ter tido mais tempo de tela, que ela teve um bom texto e pretexto, mas que nem sempre o contexto em que isso era explorado ajudou a fortalecer a identificação do público; falo de nós que vemos o anime, com a personagem. Em compensação, esses últimos cinco episódios ela “roubou” todas as atenções para si, foi despida de suas camadas de ações e reações e exposta como ela realmente era. Isso vale para “salvar” a personagem de uma impressão aquém da esperada? Vale, e vale muito, pois ela conseguiu mostrar o seu valor, mostrar que não era só uma “forma” atraente, mas um “conteúdo” condizente também.

Essa é a cavaleira dos fracos!

Confesso que ainda acho o Sota um personagem no máximo mediano em todos os aspectos, mas ao menos ele teve seu momento de redenção e pôde perdoar a si mesmo por tudo o que o atormentava. No fim, acho que ele foi a imagem do que muitas vezes uma pessoa é ou pode realmente ser, infelizmente de uma que não costuma provocar simpatia do público, mas que também não se qualifica como um personagem ruim por conta disso. Fazer um personagem ser bom ou não jaz em quem o cria, em como se conta a sua história, em como ela consegue ser reconhecida por quem a acompanha.

A Setsuna “renascida” foi ao lado de sua “filha” o ponto alto desse episódio, pois ela não foi jogada nesse ponto da história apenas para conseguir resoluções fáceis ao agir como um mero fantoche para as pretensões de seu criador, Sota. Se ela é a “verdadeira Setsuna” provavelmente nunca saberemos, mas como personagem por aqueles poucos minutos ela demonstrou personalidade e soube dialogar com a culpa, o remorso, o desespero e a esperança como ninguém tinha conseguido antes nesse anime! Ela demonstrou que não odiava completamente esse mundo, mas que não conseguiu aceitá-lo por ele mesmo não tê-la aceitado. Ela foi fraca ao mesmo tempo em que também foi forte por ter movido o coração das pessoas com a sua personagem e ter tomado a decisão do suicídio. Aliás, dependendo do ponto de vista optar por essa decisão pode ser um sinal de fraqueza ou de força, de fuga ou libertação e foi exatamente por isso que a sua própria história se relacionava tão bem com a da Altair.

Ao mesmo tempo em que algumas atitudes da Altair foram um sinal de fraqueza, será que elas não foram na verdade um sinal de força? Quem pode dizer que foi um ou outro com 100% de certeza? Ninguém, e é aí que o drama de ambas dialoga com a própria ação de criar histórias onde o certo e o errado, o bom e o ruim, muitas vezes são apenas quesitos subjetivos que repousam à mercê do ponto de vista de quem os analisa. No final, a resposta correta não é exata, não é um caminho linear que pode ser seguido sem atenção ao que está em volta, sem uma constante mutação de ideias e valores. O ato de criar histórias em si é profundamente ambíguo e imprevisível, e no momento em que a obra apresentou todas essas ideias em seu desfecho ela conseguiu se firmar como uma história que debate o ato de criar histórias, como uma história que olha nos olhos do telespectador buscando enxergar a si própria.

Objetivamente falando, a Altair, a Setsuna e o Sota foram os personagens que ditaram o ritmo do desfecho de Re:Creators, nada mais adequado se formos pensar que se trata da antagonista, do “gatilho” e do protagonista da obra. Ao meu ver, os três acabaram a história da melhor maneira possível dentro do que foi apresentado nos vinte episódios anteriores e, sendo assim, não tenho como achar essa conclusão ruim ou incoerente.

A Altair criar um mundo para a Setsuna e ela viverem. Uma história para as duas na qual uma criaria a história da outra e vice-versa é sim um final feliz, mas não foi algo dado de mão beijada. A ideia da aceitação do público foi exposta e trabalhada ao longo de toda a série e ser ela o que possibilitou um “milagre” como o realizado não invalida todo o caminho até esse fim. Pelo contrário, reconhecer a importância decisiva de todos os que ajudaram a transformar a Altair no que ela se tornou é uma forma de reconhecer o público não só como agente passivo como também agente ativo, como se a simbolizar que existe em cada um de nós um criador que tem o poder para fazer simples palavras ou ilustrações darem forma a sentimentos e aspirações.

Foi incrível como o anime conseguiu encerrar sua história principal de uma forma tão devota a seu conceito e proposta. Só acho uma pena o caminho até aqui ter sido tortuoso e instável, apesar de acreditar que ainda assim vale a pena dar uma chance a ele. Ainda falta um episódio onde deverão ser mostradas as consequências dos últimos acontecimentos, as despedidas das criaturas – que devem voltar às suas histórias – e o final dos criadores e talvez um pouquinho mais da Setsuna e da Altair. Deve ser aquele último momento de calmaria onde se contabilizam as perdas e se olha para frente abraçando o que foi deixado para trás. Aguardo ansioso por ele para, muito provavelmente, concluir de uma maneira satisfatória a minha experiência de ter visto Re:Creators.

A redenção veio e foi maravilhosa!!!

Até a próxima co-criadores dessa e de muitas outras histórias!

Simbologia perfeita para encerrar esse artigo!

P.S.: Essa cena dela tocando violino e não uma “arma” foi sensacional! Ela não quis só expressar a ausência de conflito como também que agora dentro do coração da Altair tudo estava em seu lugar, que aquela sede de sangue de antes, agora era beleza e alegria pelo que ela conseguiu até agora e pelo que ainda está por vir!

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