Bom dia!

O Café com Anime é um bate-papo descontraído sobre animes da temporada entre mim e meus colegas Gato de Ulthar, do Dissidência PopDiego, do É Só Um Desenho, e Vinícius, do Finisgeekis.

Continue lendo para ver como foi a conversa da semana sobre o Kujira no Kora, episódio 4!

Fábio "Mexicano":
Kujira está acelerando tanto na construção de mundo que está ficando difícil de entender. Acho que tentar entender tudo ou querer entender tudo a essa altura é pedir para se frustrar. Os personagens também estão flutuando bastante – como eu notei sobre o episódio anterior, aliás, com exceção do protagonista, todos eles estão ali para servir alguma necessidade específica do roteiro em dado momento. O “herói” Ouni do episódio anterior foi um mala sem alça nesse episódio. E isso foi previsível. Também foi previsível ele ter seguido o grupo do Chakuro. E tudo foi previsível não porque ele seja um personagem bem desenvolvido que conseguimos entender, mas porque é uma casca oca para dar vida a um conjunto específico de clichês de enredo.
Fábio "Mexicano":
Ah, e isso:
Vinícius Marino:
Crédito onde é devido: essa tomada da “viagem de ácido, tenho-um-monte-de-exposição-e-não-sei-como-passar-isso-ao-expectador” foi bem bonita
Só achei um barato que os “pacifistas” da baleia, que nunca viram uma arma agora viraram os mestres do kung fu.
Fábio "Mexicano":
Ah, foi bonito pra caramba mesmo, não estou reclamando. Gostei do episódio inclusive. E é kung-fu telecinético 😃
Diego:
Eu disse no primeiro episódio que esse anime me lembrava de Shin Sekai Yori. Só queria aproveitar a oportunidade para retirar isso: é um insulto ao segundo fazer tal comparação. No fim, vou precisar reajustar minhas expectativas para o anime. Do que eu esperava que seria algo para o lado do mistério e suspense, vejo agora que é basicamente um battle shounen com cenários bonitos cujo mangá é, por algum acidente do destino, publicado em uma revista shoujo. Ele está ruim? Não chegaria a tanto, mas certamente não está impressionando. Nem um pingo.
Fábio "Mexicano":
Tem nada de acidental não. Garotas gostam e leem esse tipo de história tanto quanto garotos. Só os clichês que mudam um pouco. O Ouni, por exemplo, me parece um típico anti-heroi de ação shoujo
Ele é frio, alto, bonitão
Vinícius Marino:
Pertinência demográfica à parte, tenho a impressão de que esse anime resolveu juntar várias coisas que não necessariamente combinam. Como resultado, nenhuma parece funcionar. É um “battle shounen” disfarçado, mas as batalhas são risíveis. Tem uma choradeira melodramática, mas é impossível simpatizar com as personagens. Mesmo a sequência “viagem de ácido”, ponto forte do episódio, parece emprestada de uma série mais apropriada.
Um típico anime sem foco, que me deixa intrigado em saber o que o teria deixado dessa forma. Um material de origem débil? Divisão questionável de tarefas? Muita interferência entre departamentos?
Fábio "Mexicano":
Faz tempo que não leio mangás, mas a impressão que tenho dos shoujos de ação que li é que tendem a ter esse tom narrativo no geral mesmo.
Gato de Ulthar:
O episódio valeu pelo momento psicodélico. Até suspeitei que eu havia usado algum ácido antes de ver o episódio. No mais, só melodrama forçado, kung fu paranormal e ações um tanto canhestras.
Mas foi melhor que o episódio anterior, lá isso foi. Pelo menos nos privaram dos capangas e super sentai.
Acho que estou criticando mais do que devo. O anime é lindíssimo, nunca vi um estilo de arte como em Kujira. O visual dos personagens também é legal. A história não é ruim, só está um pouco mal conduzida.
Fábio "Mexicano":
Eu gostei mais do episódio anterior. A tensão e o choque me prenderam nele, enquanto nesse não havia nada disso, apenas um monte de personagens agindo da forma mais conveniente possível para o enredo, sem nenhum critério ou caracterização. A garota-guarda Ginshu, que mais do que de repente conhece e gosta do Chakuro foi o prego no caixão desse episódio.
Vinícius Marino:
Lembram-se daquele moleque na escola que sempre aprontava uma na aula? O episódio 3 foi o momento em que ele joga Ruffles no ventilador no meio da prova de matemática. O episódio 4 é ele depois de levar uma suspensão da diretoria e ouvir da mãe que perderá a mesada. É “certinho” até demais, correndo atrás da matéria perdida, perambulando cabisbaixo pelo corredor, torcendo para que ninguém preste atenção nele.
Fábio "Mexicano":
HAHAHAHAAH, boa descrição. Como eu não era tão traquinas mas às vezes andava com os piores tipos, eu teria rido pra caramba do Ruffles no ventilador, então deve ser por isso que gostei do episódio anterior 😛
Diego:
Eu vou dizer que só de não ter minions power ranger e psicopatas com excesso de tinta para cabelo já fez desse episódio bem melhor que o anterior 😃 É, o conselho lá ainda é composto pelo seu típico grupo pacifista imbecil, e o Ouni virou basicamente o “lobo solitário / sexto ranger” da parada toda, e sim, a guarda ficar apaixonada pelo Chakuro do nada foi BEM estranho (mas ainda achei ela uma fofa), mas ei, ao menos não tivemos assassinos parados por horas esperando os personagens se salvarem da morte certa.
Gato de Ulthar:
Todo mudo se apaixona pelo Chakuro! Como as mulheres daquele anime gostam de bebês chorões. É melhor a guardinha se preparar, pois a última que se apaixonou por ele acabou metralhada… 😛
O engraçado é que não vejo a mulherada suspirando pelo Ouni, pois geralmente, forçando o estereótipo, elas gostam dos caras fortes com pinta de mau. O Ouni pra mim é o Ikki de Fênix dos Cavaleiros do Zodíaco, sempre aparecerá no momento certo para quebrar o pau. O Chakuro é uma mistura sinistra entre o melodrama do Shun de Andrômeda com a força de vontade e protagonismo do Seya de Pégaso.
Fábio "Mexicano":
Acho que o Ouni passa muito tempo preso “nos intestinos” da Baleia (primeiro navio constipado da história). E aparentemente o Suou já ocupava a posição de cara alto e bonitão por quem todas suspiram – ele só é o oposto do Ouni em gentileza. Já a Ginshu parece ter se interessado pelo Chakuro porque ele, junto com o Ouni, foi o único que reagiu no episódio anterior, e até derrubou um soldado-palhaço. Ela tava com sede de sangue também, se vocês se lembram, e ficou frustrada quando o Suou disse que eles estavam indo apenas conversar
Vinícius Marino:
“Sede de sangue” bem aguada, pois aquiesceu à sua ordem. Pessoas com “sede de sangue” costumam partir para a porrada primeiro e ouvir reclamações depois. E nem estou falando de dramas “realistas”: no próprio “battle shounen” do qual esse “battle shoujo” aparentemente bebe, isso é recorrente. Não comprei a justificativa: ela me parece ainda uma personagem incoerente, caída de amores pelo Chakuro porque o Deus Roteiro o mandou.
Fábio "Mexicano":
Para o nível da reação média do povo da Baleia de Lama, ela foi praticamente uma psicopata 😛
Algo que pode ser um problema de ficção de mundo alternativo é que podemos acabar em dúvida se aquele mundo sempre foi daquele jeito, diferente do nosso, ou se é o nosso próprio mundo evoluído / degenerado de alguma forma. No segundo caso, a história de como o mundo veio a se tornar daquela forma é de suma importância. Vocês têm alguma teoria para Kujira no Kora? Ou acham que não é importante pensar nisso a essa altura?
Gato de Ulthar:
Podemos conjecturar muitas coisas. Acho que provavelmente o pessoal da Baleia de Lama foi exilado por alguma coisa, talvez pelo fato de que se recusaram a perder seus sentimentos. O que eu gostaria realmente de saber, qual a explicação para a vida curta do pessoal que usa a “magia” na Baleia de Lama.
Vinícius Marino:
Vou na casa de alguém para um almoço de feriado. A pessoa promete fazer um bolo de chocolate, meu favorito. No entanto, entre um prato e outro, um de seus irmãozinhos – que usa cabelo rosa e comprido – resolve xingar o outro, que começa a chorar. Minha anfitriã não faz nada, porque diz que “é contra levantar a voz”. O irmãozinho de cabelo rosa começa a berrar e bater panela (com a comida ainda dentro). O manhoso fica enjoado e vomita em cima da mesa. Eu pego minhas coisas para sair, mas sou agarrado pela minha amiga: “fica, vai ter bolo! É de chocolate, o seu favorito!”
“É mesmo” eu respondo “E agora é todo seu.”.
Essa é a minha relação com o “segredo” de Kujira. Pode ser que seja uma coisa do outro mundo, mas eu simplesmente não estou mais interessado. Só quero voltar são e salvo para casa – de quebra, sem trombar com o psicopata de cabelo rosa pelo caminho.
Fábio "Mexicano":
E você infelizmente sabe que encontrar o moleque de cabelo rosa mais vezes é inevitável, né? HAHAHAHA
Vinícius Marino:
Infelizmente, sim. A opening não me deixa esquecer…
Fábio "Mexicano":
Mas se limparem a mesa e você conseguir ficar em um lugar mais ou menos seguro, ainda que não posso evitar ver e escutar a baderna ao longe, talvez consiga ainda aproveitar alguma coisa. E vai ter bolo 😃
Diego:
Eu AINDA estou interessado no mundo de Kujira, talvez porque worldbuilding é sempre algo que aprecio em uma história, por pior que ela seja (pode-se dizer que, apesar dos pesares, eu aceitaria ficar ao menos até comer o bolo 😛 kkkkk). Dito isso, eu não vejo Kujira entregando muito, ou pelo menos eu não sei se gostaria que ele entregasse. Ele é, afinal, uma adaptação de mangá ongoing, e tão ruim quanto segurar seus mistérios até o último segundo (estou olhado pra você, Shingeki no Kyojin) é entregar tudo logo muito no começo.
Fábio "Mexicano":
Fiquei com fome com essa história. O Vinícius me deve um bolo, também adoro bolos de chocolate.
Enfim, com todas essas metáforas culinárias, familiares e etc meio que percebo que não estão mais se importando tanto assim com Kujira no Kora, estão mais ou menos só esperando o bolo pra poder ir embora e aproveitando o que dá pra aproveitar enquanto isso, enquanto tentam ignorar o pirralho de cabelo rosa derrubando tudo, jogando lixo no chão e gritando. Minha avaliação está correta? Não acham mesmo que Kujira valha a pena? Será caso em que não era bom desde o começo mesmo, ou o problema foi de execução?
Vinícius Marino:
A premissa de Kujira era excelente; o visual, impecável. Maldade à parte, é uma série que tinha tudo para dar certo – e que, quiçá, ainda tem. Porém, o anime aprontou algumas que são difíceis de engolir. A não ser que ele vire 180 graus e entregue algo excepcional, acho difícil perdoar seus problemas. Sobretudo porque (como o psicopata no opening mostra) eles provavelmente voltarão para nos atazanar.
Gato de Ulthar:
Não creio que Kujira seja um caso perdido, tenho esperança para esse anime, há muita coisa para acontecer ainda. Claro que este “bolo” pode ser bem indigesto no final da festa. Mas vamos, ver, não vou pará-lo de comer, no máximo vou ter uma experiência bem ruim no final, mas nem tudo está perdido
Diego:
Ele definitivamente começou muito bem, apenas não conseguiu manter o mesmo nível do primeiro e segundo episódios (e vem descendo cada vez mais). Se há ainda esperança eu não sei, mas vou dizer que para mim o anime já fechou todas as portas possíveis para ser uma “masterpiece”. A questão agora é se ele conseguirá ser ao menos divertido durante o seu tempo de exibição, e isso realmente fica para o futuro nos revelar.
Fábio "Mexicano":
Acredito que tenha muito a ver com momento. O anime vinha falando sobre como é importante reprimir sentimentos e sobre como a misteriosa civilização da Lycos reprime fortemente sentimentos. Além disso, um massacre foi anunciado – a deixa do segundo episódio foi forte demais. Então vem o terceiro episódio e literalmente do céu cai o infame Cabelo-Rosa com mais sentimentos (negativos) que todo o resto do elenco junto, e os soldados que foram à ilha “massacrar” se comportam como caçadores de passarinhos, dando uns tiros aqui e outros ali, mas sem grandes preocupações. Foram choques muito grandes.
Fábio "Mexicano":
Não que choques necessariamente piorem a percepção de um anime, contudo. O episódio 3 de Madoka Magica é o exemplo que mais pessoas vão conseguir identificar disso. Um pouco mais polêmico (e que efetivamente afastou uma porção sensível da audiência) é o episódio 7 de Samurai Flamenco, mas ainda acho que ele funcionou. A verdadeira questão então é por que alguns choques funcionam, e outros não? Não vou esboçar uma resposta agora, mas deixo no ar para nós e os leitores pensarem sobre o assunto durante a semana. Até mais!

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