Ballroom e Youkoso – ep 23 – História x Evolução
Um par pica e um par que dança desde 2012, os dois a 80km, quem vence o Torneio Metropolitano?
Zoeiras a parte, chegamos ao penúltimo Heat desta jornada dançante e nos deparamos com o começo da final do torneio no qual a história da dança de salão – representada pelo par Kugimiya-Idogawa – se digladiará com a sua capacidade de evolução – representada pelo par Tatara-Chinatsu.
É interessante ver como os dois pares carregam bem esses conceitos – mesmo que o público entenda mais isso pelo background feito do que pela dança em si –, tornando esse torneio não só importante para eles no âmbito pessoal, como também para a discussão do que é a dança de salão e do que ela tem que fazer para continuar sendo uma forma de expressão fidedigna de quem a pratica.
É natural que uma forma de expressão artística e esportiva se transforme com o tempo, se adequando às mudanças sociais sem deixar de valorizar toda a sua história e tradição. Sendo assim, fica clara a importância de ambos os conceitos para a dança, mas confesso que não sei em quem apostar como “vencedor” dessa disputa. A evolução sobrepujará a história ou será o contrário?
De acordo com o que foi mostrado nesse episódio com relação aos protagonistas – Tatara e Chinatsu finalmente conseguindo se entender de verdade – não acho errado considerar que agora eles têm as mesmas condições de vitória que o par favorito – ainda mais agora que o erro do Kugimiya provou a sua instabilidade –, mas, ainda assim, o cliffhanger do final do episódio veio justamente para provocar no telespectador a sensação de que a vitória do Tatara e da Chinatsu não está garantida.
Isso foi bom para aumentar o interesse do público pelo último episódio e deve aproveitar para mostrar se é possível que dançarinos jovens e inexperientes se adaptem e evoluam ao ponto de conseguir dançar melhor do que dançarinos mais velhos e experientes. Um verdadeiro confronto de gerações – afinal, o Kugimiya e a Idogawa já dançam competitivamente há muito mais tempo – e de formas de tratar a dança – um par com sofisticação e rigidez e o outro com eloquência e liberdade.
Falando mais um pouco sobre outras coisas, a Idogawa ter tido um pequeno background – muito semelhante ao que aconteceu com o Mine, o parceiro da Akira, alguns episódios atrás – foi algo bom e necessário, pois apesar de não aprofundar a personagem, demonstra qual é o propósito dela dentro da dança de salão, que apesar de ser apenas um hobby, ela ama o suficiente para se importar em dar o seu melhor com o intuito de vencer. Fazendo um paralelo com o caso da Akira, é o completo oposto, já que uma não ama a dança e dança apenas para ter o interesse de outra pessoa enquanto a Idogawa ama a dança e é confiável o suficiente para cobrir o seu líder em um momento de necessidade por não querer perder. No mangá ela ainda não tinha tido esse momento e fico grato por terem posto isso no anime, pois ela era muito “apagada” em comparação aos outros dançarinos.
Por outro lado, e evolução a olhos claros provocada pela sincronia do Tatara e da Chinatsu abalou psicologicamente o Kugimiya, fazendo com que ele vacilasse, o que provocou exatamente esses 15 minutos de fama da sua parceira. Apesar do seu passado não ter sido apresentado de uma forma tão boa quanto eu gostaria, dá para perceber a carga emocional que a dança tem na vida do Kugimiya através da forma como ele normalmente vê seus adversários e de como ele teme o medo da derrota e, mesmo assim, não consegue fugir de competir e correr o risco de ser superado mais uma vez. De tal forma, ele se desequilibrar ao ver uma vitória garantida sendo posta em risco faz sentido e até humaniza um pouco o personagem, mostrando que ele é sim um bom dançarino, mas que comete erros e tem fraquezas – essas que não posso negar que foram bem mostradas no episódio passado.
E é agora que chegamos ao ponto principal desse episódio, a sincronia entre o Tatara e a Chinatsu provocada justamente pelo entendimento de que eles não têm como conhecer tudo um sobre o outro, que a pessoa a frente deles sempre será um ser desconhecido em algum aspecto e que é exatamente por isso que ele é precioso a sua própria maneira. Entender a necessidade do conflito para a harmonia, entender a inevitabilidade do imponderável na relação humana mostra que esses dois personagens finalmente estão prontos para desafiar um ao outro como uma prova da confiança mútua conquistada através de tantas dificuldades e esforços, que eles estão prontos para se abrir um com o outro e se permitir serem aceitos e reconhecidos como iguais e como peças vitais para o par.
Agora que eles dois finalmente conseguiram entendimento suficiente para dançar com todo o seu potencial, a “peripécia” visual que foi a Chinatsu desabrochar de dentro do Tatara – até aqui exclusiva do anime, vale dizer – tem um grande peso narrativo e uma beleza estilística – apesar de toda a estranheza que a cena propicia –, simbolizando que o par está florescendo, pronto para correr atrás da vitória e manter a parceria. Se eles vão conseguir ou se vão perder e seguir por caminhos diferentes – ainda há a possibilidade de eles perderem e continuarem juntos, o que acho difícil não soar forçado caso aconteça – só saberemos no episódio vindouro, ao menos por ora já posso dizer que qualquer que seja o resultado eu acredito que será satisfatório, pois o anime foi bom o suficiente para me fazer crer que é capaz de entregar um final que faça jus a tudo o que ele trabalhou até aqui.
É claro que o anime teve seus problemas, como o problema crônico de quase só haver “dança estática”, mas isso é assunto para se discutir após o seu final – justamente por ser algo estrutural que não deve mudar nem no último episódio. Agora que venha a valsa vienense! Até a última dança!
P.S.: Foi bacana ver o pessoal do estúdio Ogasawara – assim como o Sengoku que apareceu bem e serviu para reforçar o desejo do Tatara de ser visto – de novo depois de tanto tempo. Espero que eles apareçam mais no próximo episódio e que não sumam da história quando/se o mangá continuar. O que torço muito para que aconteça, mas aí depende da saúde e da vontade da autora.