Bom dia!

Para quem está chegando agora, o Café com Anime é um bate-papo sobre alguns animes da temporada entre mim, pelo Anime21Vinícius Marino (Finisgeekis), Diego (É Só Um Desenho), e Gato de Ulthar (Dissidência Pop). Cada blog irá hospedar as transcrições das conversas de um anime: ao Anime21 caberá publicar os artigos sobre Violet Evergarden; ao FinisgeekisCardcaptor Sakura Clear Card; ao É Só Um DesenhoKokkoku; e ao Dissidência PopMahou Tsukai no Yome e Junji Ito: Collection.

Sem mais atraso, leia a seguir a conversa que tivemos sobre o episódio 10 de Violet Evergarden.

Fábio "Mexicano":
De volta ao ritmo normal de Violet Evergarden. Fez sentido o “final” no meio (o arco anterior) e agora voltar a ter um episódio de “meio da história”? Eu não sei, tem mais quatro episódios ainda então acho que não dá para saber. Mas acho que fez sentido que esse episódio em particular tenha vindo após o arco da queda e renascimento da Violet.

Anne, a garotinha que logo no começo do episódio a gente descobre que vai fazer a gente chorar muito, é talvez a primeira criança com quem a Violet já lidou em toda a sua vida – lidar no sentido normal, como criança mesmo. E ela está para passar pelo que a Violet passou e perder a pessoa mais importante da vida dela em breve. A Violet de antes e a Violet de depois do arco recém-encerrado com certeza lidariam com isso de formas muito diferentes – e o anime quer que a gente saiba como a nova Violet lidará com isso.

Mas para começar, dentre os vários pequenos detalhes que serviram para antecipar ou simbolizar outras coisas, quero destacar dois pela implicação que eles têm para a história inteira, não só esse episódio: 1 – Sim, o Gilbert está morto (Violet: “Esses braços nunca terão uma pele macia” – a guerra e a perda que a Violet teve por causa dela, e obviamente sua maior perda é o Gilbert, não os braços, mas isso não é algo que ela poderia falar para uma criança), e 2 – Sim, a Violet é humana e pode demorar, mas os outros percebem isso (Anne: “Ela não era uma boneca” – auto-explicativo). Mas esses são só dois exemplos mesmo. Esse episódio foi acima da média em pistas e simbolismo visual ou verbal (ou eu não fui atento o suficiente nos anteriores).

Diego:
O tanto que o anime forçava a menininha pensando que a Violet era mesmo uma boneca me irritou pra caramba no começo e no meio do episódio. Foi um treco mega artificial e totalmente sem contexto, e a gente só entende de onde veio porque sabemos que os autores do anime querem forçar essa comparação (ou seja, meta informação, nada de dentro da obra). Mas, dito isso, o final do episódio ao menos foi bem legal, e bem tocante.
Fábio "Mexicano":
Acho que você pode dizer que o anime não conseguiu convencer, desde o começo distante, lá em janeiro, que a Violet realmente pareça uma boneca. Isso não foi um defeito específico desse episódio. Mas muitas pessoas – essa criança inclusa – acham que ela parece uma boneca, então tá né, ela “parece”.
Vinícius Marino:
Meus Deus, que episódio! Para mim, esse foi o auge de Violet até aqui. Eu não sou de chorar assistindo a coisas, mas nessa cena aqui até eu senti aquela coceira nos olhos:

Não sei se Violet precisava ter “acabado” antes, mas sinceramente não é importante. Essa história foi, sem tirar nem pôr, o que o anime prometeu no início. E a execução foi tão primorosa que o resultado valeu por si só. Estou feliz de ter acompanhado essa série, nem que apenas pelo privilégio de ter assistido a esse episódio.

Notem as sutilezas do roteiro. Quanta coisa fica subentendida: o que se passou com o pai, as disputas de herança, testamento, guarda da Anne. Tudo é dito, mas ao mesmo tempo não dito. É assim que crianças veem e mundo, e Violet conseguiu passar esta impressão sem subestimar o espectador. Isto, nos animes, é raridade.

Fábio "Mexicano":
Sim, foi um episódio do ponto de vista de criança, foi uma das primeiras coisas que eu notei e achei fantástica. E é um pouco estranho, não é? Crianças obviamente não entendem tudo porque são crianças, e a gente percebe que é do ponto de vista delas, mas a gente, desse ponto de vista, entendeu tudo. No mínimo, esse episódio deve constar em aulas sobre ponto de vista narrativo, hehe.
Gato de Ulthar:
Era exatamente o que eu desejava para o próximo episódio de Violet depois daquele “final” inusitado, um belo e muito bem executado retorno ao slice-of-life. Que episódio lindo e tocante, um dos melhores, se não o melhor até agora! Eu não fiquei chateado com a menina enchendo o saco da Violet por pensar que ela era uma boneca, pois é só uma fantasia de criança plenamente aceitável. Um momento que me tocou foi a Violet chorando no final, tendo guardado as lágrimas durante toda o seu período de trabalho, isso foi uma missão mais difícil do que invadir uma fortaleza!
Fábio "Mexicano":
Não é? Se foi difícil para quem assistiu, imagine para a Violet!

Na verdade foi tão difícil assistir que fica a dúvida? Foi apelativo? De certa forma foi, afinal foi um episódio escrito cuidadosamente para partir corações, mas foi um drama barato?

Gato de Ulthar:
Acho que foi bem sincero o drama, não foi forçado nem nada. Mesmo que seja um pouco piegas, um drama de cortar o coração sempre é bem vindo.
Diego:
Eu não sei até que ponto eu “compro” a Violet chorando ali no final. Foi uma cena bonita e que demonstra o crescimento que a personagem teve, sem dúvida, mas ao mesmo tempo eu não consigo olhar para o restante do episódio e ver a Violet se segurando tanto assim para não chorar. Eu não diria que foi um drama barato, mas acho que ele poderia sim ter sido melhor contextualizado.
Vinícius Marino:
Gente, vocês são muito duros. Eu não achei apelativo. Foi melodramático? Sim, mas comparado aos grandes tearjerkers dos animes (AnoHana, Angel Beats, Clannad, Shigatsu wa Kimi no Uso) foi bastante sutil. O anime é uma mídia melodramática – por limitações de produção se nada mais. As reações precisam ser exageradas para sermos capazes de registrá-las. A dramaturgia japonesa, na qual ele é baseado, também. Rios de lágrimas, choradeira e pessoas se contorcendo de tristeza são topoi quase inevitáveis.
Fábio "Mexicano":
Eu sinceramente não achei melodramático – não além da conta, não no mau sentido. Foi só uma crítica que eu vi ser feita ao episódio por aí e trouxe para cá.
Vinícius Marino:
Ah, o pessoal está de birra de Violet. Busca qualquer ângulo para atacá-la. A gente têm visto isso desde o começo.
Fábio "Mexicano":
Sim, e por isso eu tenho sido reativo desde sempre. Mas se nem o nosso Diego acha que foi apelativo, acho que nesse caso os haters podem tirar o cavalinho da chuva 😃

De partir o coração, hein?

“Só quero ficar junto e segurar na mão dela, por favor!”

Fábio "Mexicano":
Bom, mudando de assunto, uma pergunta muito importante porque acho que tudo depende disso: acharam que a Anne foi uma criança verossímil?
Vinícius Marino:
Achei. Mesmo sua fantasia em ver a Violet como uma boneca é condizente com crianças dessa idade. Quando nós somos jovens, inventamos fantasias (e as vezes acreditamos em nossas próprias invenções). O topos do chuuninbyou não surgiu do nada. Mais crível ainda foi seu egoísmo ao ver a atenção da mãe monopolizada pela Violet. Ok, o diálogo foi conveniente demais. A Anne talvez tenha dito mais do que uma criança normal faria (e de forma mais clara). De resto, o retrato foi impecável.
Gato de Ulthar:
Uma criança verosímil, e como o próprio Vinicius falou, a fantasia dela é coisa de criança, perfeitamente natural.
Fábio "Mexicano":
E depois ela ficou corada quando percebeu que a Violet era humana de verdade e estava falando sobre urinar 😃
Diego:
Eu realmente não sei julgar a verossimilhança de crianças fictícias 😃 Mas… sei lá, acho que sim. Ingênua e consciente na medida certa, eu diria rs.
Gato de Ulthar:
E a Violet com seus comentários extremamente literais, como sempre 😛
Fábio "Mexicano":
E a Violet, ela pareceu … ok, parecer não é um bom verbo aqui, mas acham que ela realmente esteve o tempo todo segurando o choro, como ela disse? Ou aquela era só a Violet normal, de sempre?
Gato de Ulthar:
Ela não deve ter ficado 24 horas por dia durante a semana toda segurando o choro, provavelmente foi só em alguns momentos mais tensos, como quando a menina chora diante da mãe.
Diego:
Não pareceu, e é justamente a única crítica que eu faço ao final dela chorando. Mas eu reconheço que seria muito difícil passar a sensação de que ela está se segurando enquanto ao mesmo tempo não entregar o twist final de que ela estava se segurando. Meio que um beco sem saída.
Vinícius Marino:
Acho que as coisas não são excludentes. Quando eu estava prestando vestibular, recebi a notícia de que um dos meus melhores amigos de infância havia se suicidado. Eu contei para minha mãe e, na hora, ela não disse nada. Então, só depois, começou a chorar. Estava ela segurando o choro até aquele instante? Não creio. Algumas tragédias são difíceis de se digerir. A gente não percebe a dimensão do que acontece até que a confusão passe. Mesma coisa em velórios. Quando que há mais choro? Quando se chega à funerária ou quando o caixão é fechado? Saber que o ente querido morreu é triste. Saber que é a última vez que você olhará para aquele corpo é pior. Para alguns, esse é o gatilho que arrebenta todos os controles.
Fábio "Mexicano":
O luto é um sentimento complexo, e diferente para cada um. De todo modo, eu acho que a Violet estava um pouco mais liberal, empática, no trato com a Anne do que com qualquer outro cliente que ela já tenha atendido antes. Ou do que a maioria das pessoas com quem ela já tratou.

Só eu fiquei ansioso durante o fast-forward da Anne, esperando ver a Violet do futuro? Se a menina tinha 7 anos no começo da história e no final estava em seu vigésimo aniversário, isso significa que 13 anos se passaram, a Violet teria quase dobrado de idade e já estaria à porta dos 30 anos! Não fui só eu que quis ver essa Violet, ou foi? Ou falando um pouco mais sério, não sou só eu que ainda quer ver um pouco do futuro da Violet, sou? Se ela já se resolveu com o seu passado, parece o caminho natural para os quatro episódios que restam, nem que seja só no final mesmo.

Gato de Ulthar:
Confesso que nem me passou pela mente um encontro das duas depois de tanto tempo! Seria algo como aquela menina resgatada pela Kino, em Kino no Tabi, a Photo, que também deu uma pulada nos anos e virou fotógrafa. Nunca senti falta de um encontro nessas circunstâncias. Não que seria ruim, mas nunca me veio à mente.
Fábio "Mexicano":
Kino no Tabi não segue ordem cronológica nem a protagonista passa por um arco de desenvolvimento completo, no episódio da Photo a participação da Kino foi mínima (apenas observadora), e não havia tido um “episódio final” ainda (nem teve depois).
Gato de Ulthar:
Se acalme Fábio, só usei como exemplo de uma situação de muitos anos passados, e para dizer que nunca pensei realmente entre reencontros deste tipo de personagens.
Fábio "Mexicano":
Estou calmo, só expliquei porque eu não pensei em ver a Kino mais velha, são duas histórias bem diferentes (mas eu queria ter visto mais da Photo).
Gato de Ulthar:
Eu também queria ver mais fotos, digo, mais da Photo 😛 Mas voltando ao assunto, uma Violet um pouco mais velha cairia bem, seria bem interessante ver como ela foi levando a sua vida, e não acho que isto afetaria o anime negativamente.
Fábio "Mexicano":
Na verdade eu fiquei curioso de vê-la velha por causa do timeskip, mas não precisa disso, na verdade. O “futuro” começa agora, afinal, ver ela começando a dar os próximos passos já seria grande coisa.
Gato de Ulthar:
De fato.
Diego:
Nem pensei em ver uma Violet mais velha. Por algum motivo, me soaria estranho algo assim no momento atual. Se tivermos algo do tipo, que seja no último episódio, para mostrar como ela de fato mudou após tudo o que passou e que vida leva depois de tudo isso. Agora teria sido um timing estranho (se bem que Violet Evergarden adora fazer coisas em um timing estranho)
Vinícius Marino:
Acho que cairia muito bem mostrar a Violet num futuro mais ou menos distante. Em especial se a vida dela de fato avançar. Imaginem uma Violet casada? Sucedendo o Hodgins como dona da empresa? Abrindo seu próprio negócio, com suas próprias discípulas? Bom, tudo vai depender daquele insurreição insinuada no episódio passado. Se a guerra de fato voltar, até o mais sólido dos planos pode desabar
Fábio "Mexicano":
Perfeitamente. Eu tenho esperança que o timeskip da Anne, que mostrou apenas paz, seja um indicativo de que aquela insurreição não vai mais ter nenhuma relevância para o anime e só esteve lá no episódio passado para, sei lá, dizer que o mundo nunca vai ser perfeito ou algo idiota assim.

Últimos comentários sobre esse episódio?

Vinícius Marino:
Eu amei a trilha sonora. Ela sempre foi decente, mas dessa vez se superou.
Gato de Ulthar:
Realmente, a trilha sonora foi impecável, e casou perfeitamente com a proposta do episódio.
Diego:
Eu amei todo o segmento final do anime, e acho que já disse isso, mas não curta repetir 😃
Fábio "Mexicano":
Eu fiquei com o coração na garganta o episódio inteiro, não fizeram questão nenhuma de disfarçar o que ia acontecer. E mesmo assim conseguiram terminar com um final feliz. Um episódio isoladamente perfeito ❤️

Até semana que vem!

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