Waltz (Mangá) – Oshimi Shuuzou pôs um feitiço “fofo” em mim
Olá pessoal, hoje vou fazer um artigo um pouco diferente, no qual além de comentar o mangá Waltz (Valsa), também tecerei alguns comentários sobre o autor dele e o que acho de seu trabalho.
Waltz é um one-shot – de apenas um capítulo – publicado na revista josei mensal Feel Young – mesma de Usagi Drop e Helter Skelter, ambos mangás lançados pela editora New Pop no Brasil – de autoria de Oshimi Shuuzou – mais conhecido por Aku no Hana, Boku wa Mari no Naka, Hyouryuu Net Cafe – com a seguinte sinopse:
Uma jovem garota, Onaga, descobre em uma noite quente de verão que seu vizinho, Kashiwabara, está em sua varanda vestido com roupas de mulher. A partir daí surge uma relação única entre os dois.
Pela sinopse podemos imaginar que se trata de uma obra simples sobre juventude e cross-dressing, correto? Correto! Esse autor pode até adicionar elementos sobrenaturais em uma ou outra de suas obras, mas ainda assim mantém certos parâmetros palpáveis como base, trabalhando fatos do cotidiano em meio à alguma característica peculiar de seus personagens.
Na história conhecemos o Kashiwabara que gosta de se vestir de mulher por se identificar com o gênero feminino – na história fica claro que ele é gay, inclusive – e a Onaga que parece estar entediada com sua vidinha pacata e vê no segredo que compartilha com o garoto uma forma de escapismo. Podemos supor que o peculiar na história se encontra no ato de se travestir do garoto, mas acho que o que é especial nela é, na verdade, a relação de amizade entre os dois.
Acredito que quando se é jovem você quer fazer parte de algo, dividir um segredo com alguém, encontrar um alguém ou algo especial que te ajude a entender a si mesmo para que se sinta vivo de verdade; e é exatamente isso que a obra mostra, já que um vê na relação com o outro a oportunidade de ser visto por quem realmente é, de ter uma liberdade que normalmente não poderia ter com outras pessoas, de preencher um vazio que sente dentro de si.
Adoro mangás que trabalham seus temas na tentativa de passar uma mensagem ao leitor, o que não quer dizer que a obra não sirva como um bom entretenimento, pois serve, mas ela te cativa mais pela reflexão que propõe do que por um prazer momentâneo que se pode ter mais facilmente através da risada ou do choque.
Essa é outra característica que sinto fortemente nas obras desse autor, ele sempre quer dizer alguma coisa e não usa de artifícios de superfície – traço fofo, fanservice, comédia escrachada, dramalhão, etc – para isso, mas sim de uma arte bela e substancial que agrega muito ao texto.
Texto esse que é simples e pontual – não se perdendo em diálogos expositivos ou de estruturação batida –, mas que consegue expressar uma profundidade que às vezes nem se encontra na obra em si e sim na forma como ela dialoga com a vivência do próprio leitor.
Por fim, sobre a obra acho que não há muito mais o que se comentar, pois ela é curta e tem um final aberto – algo comum em mangás de um capítulo. Só gostaria de acrescentar que a indico para quem ainda não leu nada desse autor.
Para quem já leu e gostou asseguro que encontrará as características que citei e até outras que imagino serem comuns em seu trabalho. Quem já leu algo dele e não gostou indico que dê mais uma chance, mas que não tenha esperanças de que vai ler algo muito diferente, pois ao menos parte de seu estilo está ali.
Escrevo isso porque só li mais ou menos metade de suas obras – por incrível que pareça ainda não li as mais “famosinhas” que citei no começo do artigo, acho que com ele estou fazendo o “caminho inverso” –, então não posso afirmar que todas elas sejam assim, mas pelo pouco que sei das outras acredito que seu traço característico e interesse por explorar a vida cotidiana se faça presente nelas também.
Vale ressaltar que em seus primeiros mangás sua arte ainda não era tão polida quanto é hoje, ainda não era tão consistente ou tinha características marcantes, o que demonstra que seu traço evoluiu com o tempo assim como sua habilidade de contar uma história. Gosto muito quando percebo que um autor evolui gradualmente em diversos aspectos, o que vejo bem nesse – mesmo ainda não tendo lido tudo o que ele criou.
Gostaria de divagar ainda mais escrevendo sobre o que já li desse autor – até porque gostei bastante de tudo –, mas acho que seria mais efetivo se você mesmo, caro(a) leitor(a), experimentasse para ver se gosta, afinal, se uma imagem vale mais que mil palavras, então uma experiência vale mais que mil indicações, não acha?
Por fim, vou tecer breves comentários sobre as seis obras que já li de Oshimi Shuuzou. Um dia leio as outras, é só questão de tempo viu!
Avant-garde Yumeko é mais ou menos o que o nome diz e te faz ver algo, que a maioria consideraria um fetiche, com outros olhos. É uma obra bem interessante e que indico para quem não tem problemas com pênis… isso é estranho, eu sei, mas vai por mim, não é nada disso que você está pensando…
Chi no Wadachi ainda está em lançamento e até agora teve um desenvolvimento lento que ainda não mostrou completamente por qual caminho deve enveredar. O mangá pode estar dando pistas a cada capítulo, mas, ainda assim, é cedo para tirar conclusões. Quando houver um norte pelo qual me orientar talvez eu escreva sobre ele.
Happiness é seu outro mangá em lançamento. Se quer vampiros, um traço belo e expressivo e desenvolvimentos nada clichês esse mangá é para você! Aliás, ele está sendo lançado no Brasil pela New Pop – o primeiro do autor a sair no país.
Shino-chan wa Jibun no Namae ga ienai é lindo, e novamente – na verdade todas essas seis obras têm execuções que não se “rendem” a clichês – não segue fórmulas batidas para passar sua mensagem. Deem uma chance à obra, acredito que essa seja a mais fácil de cativar vocês!
Sweet Poolside poderia ter sido um ecchi hardcore, mas nas mãos desse autor se tornou algo completamente diferente disso e, em minha humilde opinião, anos-luz mais interessante! Rendeu até um filme live-action que ainda não vi, mas com certeza devo fazer isso.
Waltz é seu mangá finalizado mais recente e foi sobre ele que comentei mais acima. Só gostaria de acrescentar que adoro as personagens de cabelo curto que ele cria, ainda mais que as de cabelo longo! Onaga com sua pintinha então, é um charme só!
Por hoje é só… e ah, para quem não sabe, seu mangá Aku no Hana recebeu uma adaptação em anime – que só devo ver após ler o original – um tanto pitoresca por usar uma técnica de animação bem diferente do que vemos por aí…
Enfim, o foco desse artigo é nos mangás do autor, então que a informação fique mais a título de curiosidade mesmo. Vai que motiva alguém a ver o anime, né, vai saber…