Sora yori mo Tooi Basho – Juventude forjada à frio
Bom dia!
Quatro garotas adolescentes têm um objetivo: ir para a Antártica!
Eu pulei alguns passos, mas o anime chega logo nesse ponto. Resumidamente, ir para a Antártica é o sonho de Shirase, e um sonho que ela está determinada a tornar em realidade não importa o quê. O quanto antes.
A ela se unem, nessa ordem, Mari, Hinata, e Yuzuki. Cada uma por seus próprios motivos decide se unir à Shirase e viajar para o continente mais inóspito do mundo.
Nessa viagem, elas deixam algumas coisas para trás, e voltam com outras tantas. Elas foram e depois de muita tensão, risos, cansaço, emoção e lágrimas, elas voltaram em versões melhores de si mesmas.
Quem assiste Sora yori mo Tooi Basho, se não se torna uma versão melhor de si mesmo após acompanhar a epopeia das garotas, pelo menos vai rir, chorar e se emocionar bastante.
Crianças e jovens crescemos protegidos pelos nossos pais e isso em alguma medida nos dá a sensação de que podemos fazer qualquer coisa, que somos invencíveis, e que o mundo ao redor conspira ao nosso favor.
Até que chega um momento em que percebemos o quanto estávamos errados. Para alguns chega mais cedo, para alguns chega mais tarde. Para muitos é só uma pequena frustração, para outros é uma tragédia. Mas o que a vida faz conosco importa menos do que o que nós somos capazes de fazer com o que a vida faz conosco.
A vida tirou de Shirase a sua mãe.
Antes dela, sua mãe foi para a Antártica. No continente mais perigoso do mundo, em meio a uma nevasca, ela se perdeu. O corpo nunca foi encontrado. Shirase foi chamada da escola para casa às pressas, onde recebeu a notícia.
Ela não chorou. Perder a mãe de uma forma tão abrupta e absurda a fez se agarrar à esperança de que ela ainda estivesse viva. Claro, quando uma pessoa desapareceu há pouco, a nossa reação é esperar que ela esteja ainda viva em algum lugar. Mas é da Antártica que estamos tratando.
Três anos se passaram e ela continua nesse transe, sem jamais ter chorado, sem jamais ter realmente aceitado a morte da mãe. Da boca para fora, ela parece entender que a mãe está morta, mas é ambígua ao falar sobre o assunto. Ela ainda envia e-mails quase todos os dias para a mãe, contando trivialidades do dia a dia. Claramente seu coração ainda não quer aceitar.
Shirase decide ir para a Antártica. Não é bem para procurar sua mãe, e ao mesmo tempo, no fundo, é exatamente para procurar a sua mãe. Qualquer que seja o motivo, até onde a teimosia de uma garota pode levá-la?
Mari é uma garota hiperativa e que até onde a vista alcança não tem nada o que reclamar da vida. Vive com seus pais e sua irmã mais nova, tem uma melhor amiga em Megumi, com quem está junta desde que eram crianças, não tem nada com o que se preocupar. Talvez por isso, ela começa a se preocupar.
Como uma garota cabeça de vento e animada (genki girl), Mari nunca se preocupou com nada de verdade e sempre que precisou tinha alguém para cobrir suas costas. Quase sempre, essa pessoa era Megumi. Ela decidiu que não podia viver a juventude inteira assim, então decide ir para algum lugar, qualquer lugar. Ela pega um trem, passa a noite fora de casa (e Megumi a cobre de novo, mentindo para a mãe de Mari que ela estava em sua casa), mas ainda não foi o suficiente.
Um encontro fortuito.
Shirase perdeu um maço de um milhão de ienes, dinheiro que ela juntou nesses três anos fazendo bicos para poder realizar seu sonho, e Mari encontrou. Ela devolve e, curiosa (afinal, era um milhão de ienes), acaba ouvindo tudo de Shirase. É isso. Ela descobriu o que quer: ir para a Antártica!
Outras duas garotas se uniriam a elas em seguida: primeiro Hinata, que mora sozinha e já se formou no médio, embora tenha a mesma idade que elas, e trabalha em uma loja de conveniência pela qual elas passam quase diariamente. Por último Yuzuki, uma idol que trabalha desde criança, tem a carreira gerenciada pela mãe e nunca conseguiu criar laços de amizade verdadeiros. Yuzuki quer amigas e as garotas querem ir para a Antártica. Parece um negócio fechado? E é, mas mais tarde vai voltar com tudo no fechamento do arco de personagem da Yuzuki.
O caminho de ida já é um caminho sem volta. Antes mesmo se subir a bordo do navio na Austrália, o último lugar em que elas poderiam realmente desistir, elas já haviam tomado a decisão final. E mesmo que uma delas tivesse um problema (como a Hinata teve em Singapura), as outras iriam cobrir por ela (como Shirase fez).
Para a Mari, isso parece embutir uma ironia, não é? Ela quis viajar porque não queria passar a juventude inteira dependendo de uma pessoa. Mas nessa viagem, todo mundo depende de todo mundo o tempo todo. Ah, aí está o truque: a caminho da Antártica, Mari dependia das suas amigas sim, mas elas também dependiam dela.
Hinata tem uma história de bullying e um muro construído ao seu redor que nenhuma das garotas sabia, e que o anime revela apenas muito aos poucos para o expectador, que, não obstante, sabe o tempo todo que tem algo de errado com a garota. Não vou dar mais detalhes pois sua conclusão é uma das mais bonitas do anime. Bem como a da Yuzuki, que cresceu com uma noção distorcida de amizade por nunca ter experimentado esse tipo de relação.
No anime, as garotas foram até a Antártica. Nós expectadores, na vida real, não precisamos ir a lugar algum, e mesmo assim as histórias dessas personagens nos levam da gargalhada às lágrimas. Cuidadosamente, para que apreciemos bem a paisagem e conheçamos a fundo a geografia do coração dessas garotas como se fosse o nosso próprio.
É por isso que essa jornada é uma história de amadurecimento, um coming of age da melhor estirpe. Os laços que elas estabelecem entre si e com outros personagens importantes da tripulação conduzem a história pelo oceano narrativo. Mari, Hinata e Yuzuki se transformam durante a viagem.
Conforme o dia da volta se aproxima, porém, o coração de Shirase começa a se inquietar. Como esperado, ela não encontrou a mãe. Nem nada sobre ela. Como ela deveria estar se sentindo? Ela começa a se frustrar, mergulhando de volta no estado de suspensão em que estava quando soube da morte da mãe pela primeira vez.
Mas, como já disse, esse não é uma viagem que se possa fazer sozinha. Assim como Shirase nunca desistiu de suas amigas, elas não irão desistir dela. Elas conseguem encontrar um memento da mãe da Shirase. Se não assistiu esse anime ainda, sugiro que pule o próximo parágrafo: essa cena merece ser experimentada em primeira mão.
As garotas encontram o notebook da mãe de Shirase. De volta à estação antártica, Shirase está sozinha com o notebook em seu quarto. Ela liga. Digita a senha. Abre o e-mail. E então os e-mails que ela enviou durante todos esses anos começam a chegar. Obviamente, não havia quem os recebesse antes. Eles vão chegando um por um, às dezenas, centenas, e Shirase está atônita assistindo a prova de que sua mãe está morta.
O tempo volta a correr para Shirase e a garota chora. As outras três, do lado de fora, escutam e choram também. Shirase finalmente chegou onde queria chegar durante esses três anos.
Depois disso é a viagem de volta. Felizes, realizadas. Prontas para quaisquer jornadas que a vida lhes forçar a fazer. Cada uma vai para seu canto, já que cada uma veio de um canto diferente. Elas não sabem quando todas estarão juntas de novo, mas elas sabem que farão para sempre parte das vidas umas das outras.
E da minha vida também.
laralayc
amei a resenha. ta decidido, vou assistir esse anime ♥
Fábio "Mexicano" Godoy
Olá, Iaralayc! Tudo certinho?
Melhor decisão que você poderia tomar. A temporada atual nem começou direito ainda, aproveite esse tempo para maratonar os melhores do ano passado – e não tem nenhum melhor do que Sora yori mo Tooi Basho, na minha opinião, hehe.
Obrigado pela visita e pelo comentário! 😃
Kondou-san
Meio que fiquei sem palavras ao ler esta resenha do melhor anime do ano passado (invicto até).
Não podia concordar mais com as tuas palavras, eu revi o anime inteiro na minha cabeça ao ler as tuas palavras deste magnifico anime e não pude deixar de me emocionar (bons animes provocam isto). Com certeza ficarei com Sora Yori no coração e na mente, não dá para esquecer e não amar um anime que se provou excelente, ofuscando todo o resto que saiu no seu ano de estreia (um dos melhores trabalhos da Madhouse em um bom tempo).
Antes de terminar, a galeria de imagens no final foi mesmo para tocar o coração, ao vê-las até consigo ouvir as vozes das personagens na minha cabeça (a foto da Shirase ao lado dos pinguins é muito bonita).
Fábio "Mexicano" Godoy
Olá Kondou, tudo certinho?
Eu quase fiquei sem palavras para escrever o artigo, como já contei no Facebook, hahaha! Demorei muito tempo para conseguir começar, e depois quando estava já me aproximando da reta final achei que estava uma porcaria e apaguei metade do texto. Que bom que gostou do resultado final!
A galeria de imagens eu decidi inserir porque achei que as demais imagens no meio do artigo estavam muito depressivas, era só gente chorando, eu queria mostrar que o anime é animado e engraçado também. Aliás, na maior parte do tempo ele é super alto-astral, e por isso que os momentos de sobriedade são tão tocantes.
Obrigado pela visita e pelo comentário! 😃