Se a carta mais valiosa de um baralho depende do jogo que se está jogando, então, dependendo do ponto de vista, em Neverland a carta mais valiosa pode ser o Ray, o Norman ou a Emma. Por que eu afirmo isso? Porque na batalha de intelectos da obra cada um está jogando conforme seu interesse. Se eu pudesse fazer uma aposta, o quanto arriscaria em cada um deles? Vamos à mesa de apostas?

Nesse episódio aconteceram três eventos dignos de nota, muitas revelações, e um desenvolvimento que clareou muito do que ainda era obscuro na trama. Seja confirmando teorias ou as desmentindo.

Metade dele foi dedicado a conversa esclarecedora do Norman e do Ray, a qual foi magnífica, teve o cuidado da direção que merecia, não só pela trilha sonora pontual em algumas partes ou pelas vezes em que as expressões dos meninos ditavam os rumos que a conversa tomaria, mas pelo simples fato de ter tido uma boa dose de revelações e da demonstração da linha de raciocínio do Norman que fez com que ele chegasse a uma conclusão potente.

O verdadeiro trunfo que mudou toda essa situação, mas claro, isso se o usarem direito, se ele não se tornar uma carta fora do baralho, um “ás” sem naipe.

E até se saiu, mas logo eu saquei, e sem precisar do tique-taque do relógio, qual era o teu jogo!

Confesso que não lembrava muito desse trecho no mangá e isso foi até bom, porque ele me divertiu mais assim. Foi muito legal ver o Norman explicando o plano simples dele, mas que foi sustentado por suspeitas que ao serem explicadas mostraram ter cada vez mais uma base.

Afinal, se a Mamãe é tão inteligente quanto as crianças acreditam e o anime nos faz crer que é, não seria mais “esperto” o espião dela ser um agente infiltrado na raiz do problema tendo a capacidade de virar o jogo a favor dela a qualquer momento?

Não que ela confie cegamente no Ray e espere que ele faça isso mesmo; a conversa posterior dos dois deixou isso, e outras coisas que comentarei mais a frente, bem claro; o lance é que seria ilógico não continuar usando ele como ela já fazia muito antes do circo pegar fogo.

Assim como o Ray tentou e ainda está tentando usar o Norman e a Emma para o que ele quer: fugir e salvar suas vidas. É um bom motivo? É. Mas por que ele não quer o mesmo para seus outros irmãos?

Não há qualquer resquício de preocupação dele com qualquer outra vida humana? Não deve ser isso, e acredito que haja espaço para explicarem isso direito – assim como as circunstâncias que levaram o Ray a virar espião da Mamãe.

Mas, antes disso, como ele soube de toda a verdade e como foi guardar um segredo tão macabro por tanto tempo? Ele sofreu muito? O quanto isso o marcou e por que ocorreu? São perguntas que não querem calar, mas elas ficam para depois, o foco foi “restabelecer” os termos da aliança entre os rebeldes, mesmo na base das mentiras ou, nesse caso, da mentira que o Norman contou para o Ray a fim de mantê-lo ao seu lado.

Eu também quero.

Aliás, não interprete mal o Ray, não parece que ele é um psicopata que viu os irmãos morrerem e não fez nada, que ele é farinha do mesmo saco da sua Mamãe, pois pelo menos ele esteve por muito tempo tentando lutar contra essa realidade cruel. Há nele a frieza de alguém que teve que aceitar pagar esse “preço” para sobreviver, mas não vejo como se ele tivesse culpa por nada. Ele foi uma vítima como qualquer outra criança, afinal, mesmo que ele tivesse agido antes, ainda seria muito difícil – e ainda mais arriscado – lutar contra esse sistema cruel.

Enfim, como já era esperado, o Ray tem objetivos diferentes dos outros dois, e era exatamente o que parecia. O que não o torna de forma alguma um inimigo. Mas o Norman com certeza mentiu para ele ali. Ele não vai deixar de tentar realizar o desejo da Emma para realizar o do Ray e fiquei curioso para ver como isso se resolverá no anime.

Mas nem tudo ocorreu de acordo com o keikaku

Ademais, a preparação do “cabeça de antena” foi ótima, pois é de se entender que uma criança inteligente como ele queira conhecer todo tipo de coisa, e que peça isso em troca de silêncio. Mesmo que sua voz logo fosse calada após exposta, as consequências disso poderiam não ser nada benéficas para a Mamãe, então não acho incoerente ela ter mimado ele. E há também a possibilidade de ela desconfiar até dos pedidos dele.

De todo jeito, até o Ray saber apagar o dispositivo de rastreio me pareceu coerente, ao menos se ele já está há seis anos pensando no que fazer para fugir.

Tudo por esse momento, até ter induzido o Norman e a Emma para a revelação e ter observado tudo friamente, ao meu ver prova suficiente de que ele já sabia da verdade e aquilo era só parte do seu plano. Mas agora eu faço uma pergunta: será o Ray essa verdadeira carta mais valiosa?

Achei as expressões exageradas, mas entendo, o anime tem que ser um pouco showman mesmo.

Mas antes de chegar nisso, não poderia deixar de elogiar a conversa dos três, pois a reação da Emma foi dentro do esperado da sua personalidade, mas não ficou só nisso, já que a cena dela encarando o Ray foi um belo contraste com as caretas descontraídas de pouco antes, e mostrou que ela sabe falar sério, que quando se trata dos irmãos ela se torna uma arara se preciso; expôs seu instinto maternal.

Ela deseja acolher e proteger a todos, assim como a Mamãe deveria fazer se não estivesse criando o rebanho para o abate – é meio duro se colocado assim, mas é a verdade, né.

A situação mudou 360 graus, mas não parece ter mudado nada para a Emma, porque ela é o tipo de pessoa que acolheria até seus inimigos se eles demonstrassem querer mudar – típico de protagonista de qualquer mangá da Jump –, quanto mais a um amigo cujas circunstâncias são tão delicadas como são as do Ray. Ela foi sensata, e a Emma é assim, apesar de emotiva demais.

Ou ele terá que lidar com a ira de uma mãe ensandecida?

O Don e a Gilda que não foram tão sensatos, mas eu entendo o desejo deles de contribuir com algo, ainda mais porque o Don acha que é uma corrida contra o tempo para salvar a Connie. E a Gilda, ainda que desconfie da verdade, não deixaria o Don ir lá sozinho. Logo essa “pequena mentirinha branca” deve ser exposta e vamos ver como eles vão lidar com ela.

O importante é que o anime adora terminar com um cliffhanger daqueles! Mas duvido que seja a Mamãe aquela a entrar pela porta – eu não lembro mesmo, juro –, então o “estrago” não será enorme.

Antes de acabar esse artigo, por que questionei o valor do Ray em comparação ao da Emma e do Norman? Porque, mesmo sem ter essa intenção, eles são poderosas máquinas de manipulação!

Adoro cliffhangers, mas não caio mais neles não, não o tempo todo.

Na verdade, o intelecto do Norman e do Ray rivaliza, não consigo afirmar qual deles é o mais inteligente ali, mas acho que o Norman ter sido capaz de armar uma cilada para o Ray mostrou que ele consegue estar um passo à frente do irmão.

Entretanto, o Norman não é um escravo da razão, sua prioridade é a felicidade daquela que ele ama – a Emma.

Sendo assim, sem querer é ela quem tem o maior poder de influência dentro do grupo. É claro que isso só pode ser melhor aproveitado devido a mudança na situação, mas o fato é que o sucesso do plano de fuga e como ele se dará depende bastante dela, do que ela quer e como.

Por que ama demais esses dois?

Não que tudo dará certo do jeito bonitinho que ela imagina, nem que não vá, o caso é que apesar do Ray ser essencial para o sucesso do plano, eu só apostaria a maioria das minhas fichas na Emma, na protagonista, naquela que com uma palavra pode mudar o resultado da situação.

Adoro a forma como esse jogo de poder é construído na trama, acho que há um equilíbrio entre essa inteligência absurda dos garotos com o puro e simples emocional de crianças; ainda que não sejam o exemplo mais comum de crianças que a gente vê por aí.

O anime está muito bom, e esse episódio foi excelente. Eu só senti falta da Krone, ela teve folga? Ademais, aguardemos pelos próximos episódios!

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